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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Blogue Isso!

Esse é meu último texto nesse endereço. O Blog do Vasco estará a partir de hoje mesmo no endereço http://vasco.blogueisso.com. Há cerca de alguns meses recebi o convite de Leonardo Fontes para integrar a equipe de blogueiros do blogueisso! sob sua organização. Isso implicou em uma preparação de uma nova página visto que tive que prepará-la no Word Press com o qual não tinha familiaridade. A decisão de mudar, além de considerar o provável aumento de audiência, levou em conta também o fato de que Blogueisso! tem uma proposta parecida com a minha: um blog sobre blogs sem foco. Queria convidá-los a me visitar nesse novo local. Clique aqui e atualizem os seus favoritos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Insatisfação no Trabalho

Quem não passou por aquela situação desgastante de desmotivação no trabalho? Os outros empregos sempre nos parecem melhores do que o nosso. A publicidade abaixo que me foi introduzida por Plínio que a postou em seu blog é uma forma muitíssimo bem humorada para nos mostrar o quanto podemos ser ingratos com nosso destino profissional. Vale a pena uma olhadinha (un coup d’oeil como dizem os franceses). Agora, por via das dúvidas, nada como um fim de semana que se aproxima.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

“Criminoso Que Fica Preso é Azarado”

A frase do título foi dita por Túlio Khan um especialista paulista em Segurança Pública e reproduzida em uma reportagem feita pela revista Época dessa semana. Trata-se de uma matéria reflexiva sobre a realidade do sistema de Segurança Pública no Brasil e em especial sobre os dados da criminalidade. Fui consultado pela jornalista responsável em uma conversa telefônica de quase duas horas. O fio condutor da reportagem foi compreender o porquê do aumento da criminalidade em São Paulo depois de quase sete anos de queda consistente. A jornalista Solange Azevedo ao consultar vários especialistas tenta mostra o quanto ainda precisamos avançar em termos de transparência e de análise desses dados. Sobre esse contexto de pouca transparência ela dispara:
Quando os números são bons, governantes adoram falar sobre a “eficiência” da polícia, quando são ruins ...

Voltando ao caso de São Paulo, a única explicação momentânea plausível para a retomada da escalada dos crimes foi a grave da Polícia Civil no final do ano passado. Mesmo nesse primeiro trimestre, o número de procedimentos e prisões realizados não se equipara aos níveis de 2008. Estima-se que de dos 90 mil boletins de ocorrência que viram inquérito em SP, 3 mil pessoas acabam no sistema prisional. Embora seja um percentual muito pequeno, uma greve de quase dois meses deixa na rua cerca de 6 mil pessoas que não deveriam estar livres. WikiCrimes (www.wikicrimes.org) foi mencionado na reportagem, em particular, sobre como as autoridades não compreendem ainda o projeto. Outra estatística impressionante, dessa vez por uma estimativa de Khan, é de que cerca 60% das ocorrências criminais não são notificadas à polícia. Talvez a experiência que estamos planejando executar na África do Sul possa se tornar um exemplo de como as autoridades poderão usar WikiCrimes de forma complementar ao que possuem hoje. Voltarei a falar mais sobre isso quando os trabalhos nessa direção avançarem.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Mastercard e Crowdsourcing

Tenho escrito frequentemente sobre crowdsourcing (veja aqui para uma definição mais detalhada) que consiste da produção de serviço feita de foram colaborativa e voluntária. Uma lista de exemplos de iniciativas desse tipo pode se consultada aqui. Um dos exemplos mais marcantes e emblemáticos de crowdsourcing é a campanha da Mastercard “O que não tem preço para você”. A idéia, iniciada em 2008, visava induzir a comunicação direta com o cliente. As pessoas podiam enviar para a companhia um vídeo contendo sua estória em que diziam o que consideravam sem preço. A participação levava-os a obter prêmios diversos e o maior deles era a possibilidade de ter a estória como tema da propaganda. Mais de 60.000 estórias foram enviadas e cerca de 40 milhões de visitas ao site já ocorreram após o início da campanha. Esses resultados não são surpresa se considerarmos os números da última pesquisa da Deloitte sobre o uso das mídias eletrônicas. 44% das pessoas que assiste TV, o fazem concomitantemente com a Web. A interação com a televisão através da web é cada vez mas realidade. Veja um dos vídeos premiados abaixo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Porque a Informação na Internet Flui tão Rapidamente?

Em alguns textos desse blog (aqui e aqui, por exemplo), escrevi sobre as celebridades da web e sobre indicadores de porque elas aparecem. Mas nem todas as causas se relacionam com o aspecto cultural ou comportamental dos internautas. Uma das razões é porque a web é uma rede que possui algumas características que a tornam infraestrutura adequada para fluxo da informação. Deixem-me introduzir dois conceitos estatísticos importantes para a compreensão do todo. O primeiro é o de distribuição probabilística de uma variável aleatória (puxa vida!). Calma. Basta entender que a maioria dos fenômenos que ocorre na vida real segue o que chamamos de distribuição normal ou gaussiana. Por exemplo, se estivermos interessados em observar a altura dos cidadãos adultos de Fortaleza (a variável a ser observada). A maioria vai estar perto da média (admitamos 1,68m). Poucos estariam nos extremos (2,00m e 1,50m). Se traçarmos um gráfico onde no eixo X temos as alturas das pessoas e no Y a quantidade de pessoas com aquela altura, veremos que a curva tem um formato de sino (por isso chamada de em inglês, Bell Curve). O pico da curva é a média e as caudas, tanto esquerda como direita, representam os extremos com as poucas pessoas altas e as poucas baixas, respectivamente. Agora, nem tudo no mundo segue essa regra. Algumas coisas têm um comportamento bem “desajeitado” (ou seja, não seguem a curva normal). Por exemplo, vamos observar agora os aeroportos do mundo todo (colocando-os no eixo X) em relação à quantidade de vôos que eles recebem por dia (eixo Y). Será que o gráfico faz a mesma curva? Ou seja, poderíamos dizer que a maioria dos aeroportos recebe em média o mesmo número de vôos? Evidentemente que não. Temos poucos aeroportos no mundo que recebem milhares de vôo por dia e muitos aeroportos que recebem poucos vôos. Esses poucos aeroportos com muitos vôos são chamados de hubs. Se traçarmos a curva para retratar a distribuição dos aeroportos teremos a curva B da figura abaixo. Já escrevi sobre essa curva chamada de cauda longa aqui. Voltemos então à questão da web. Duas características próprias da web seguem a distribuição tipo cauda longa. Se escolhermos as páginas da web como nossa variável de observação e a quantidade de links que apontam para cada página (ou mesmo a quantidade de acessos que elas recebem), observamos que se forma uma rede onde poucas páginas recebem milhões de links (os hubs são Google, Facebook, Youtube, Blogger, etc,) e milhões de outras recebem pouco links. Isso também vale para as redes que se formam nos sites de relacionamento tipo Orkut, Facebook, MySpace, etc. Nelas temos poucas pessoas que têm milhares de amigos e são super conectadas enquanto temos milhões de pessoas que são pouco conectadas. Mas o que isso tem mesmo a ver com a velocidade do fluxo da informação? Essas redes, ditas livres de escala (scale free, em inglês) possuem uma propriedade que influencia diretamente a velocidade de transmissão da informação: a conexão entre dois pontos quaisquer da rede se faz em média com poucos passos. É por isso que se consegue ir de avião de qualquer canto do mundo para qualquer outro somente com duas ou no máximo três conexões. Os hubs acabam se conectando e fazem um papel de centralizadores e distribuidores entre pontos com poucas conexões. Assim uma informação que sai de um ponto da rede chega aos outros muito rapidamente, pois viaja através de hubs. A figura C mostra o formato de uma rede desse tipo. O mais interessante é que essas características estão presentes em redes diversas que vão desde redes moleculares, partículas subatômicas e mesmo distribuição de crimes numa cidade. O estudo dessas redes deu origem ao que alguns batizam de ciência das redes. Uma área com enfoque multi-disciplinar explorada por físicos, biólogos, químicos, sociólogos e cientistas de computação dentre outros.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Dia Em Que a Terra Parou

Uso de forma provocativa o título do clássico de ficção científica de 1951 e que teve um remake esse ano com Keanu Reeves (Matrix) somente para lembrar da falha da Google na semana passada. É isso mesmo! A Google parou. Não foi seu computador. Esse negócio de computador é feito para dar pane mesmo. Pensar que alguns achavam que toda a culpa no mundo era da Microsoft! Uma pane num conjunto de roteadores fez com que alguns países, Brasil incluído, ficassem sem acesso aos serviços como Gmail, buscador, maps, etc. O mais interessante é que essa falha foi rapidamente noticiada no Twitter. A pergunta que não quer calar é: e se a Google tivesse comprado o Twitter? Quem iria anunciar a falha?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Encontros, namoros e algo mais virtuais

Um dos usos mais intensos da Internet hoje é a pornografia. Já mostrei um vídeo interessantíssimo que desnudava (para manter o nível) as estatísticas em 2007(acesse-o aqui). Os sites de encontro (mate em inglês) onde as pessoas se conhecem e até namoram pela rede são igualmente populares. Alguns internautas até extrapolam em seus relacionamentos amorosos via web e com uma web cam transmitem e recebem imagens provocativas e sensuais. Esse erotismo virtual tem se difundido e me pergunto qual será a próxima novidade nessa área. Aliás, percebo que não sou o único, o blog boing boing especializado em gadgets (brinquedos eletrônicos) já andou especulando que o uso do wiimote do jogo Wii pode ser o próximo alvo dos desenvolvedores de brinquedos sexuais. Alguns alunos já me tinham alertado que algo nessa direção já deve estar sendo produzido. Para os que não conhecem o jogo Wii, vale a pena dar uma olhada aqui onde descrevo o jogo com vídeos com exemplos. Trata-se de um jogo eletrônico onde o controle remoto (Wiimote) é usado para capturar os movimentos humanos e reproduzi-los na tela do computador (ou televisão). Pode-se, por exemplo, jogar tênis simulando o uso de uma raquete e a batida na bolinha com o Wiimote. O nível de precisão do software é impressionante e o usuário tem a nítida sensação de estar movimentando a bolinha com cada raquetada que fornece. O Wii se expandiu fortemente nos últimos anos e jogos para capturar o movimento dos mais diversos órgãos humanos já existem. Só falta agora os órgãos sexuais. Alguém se habilita? Não me surpreenderia se isso se transformar em um enorme sucesso comercial.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Números da Ciência Brasileira

O trabalho de um cientista não se faz de forma desprovida de avaliação ou de medição de produtividade. Muito pelo contrário. É um métier bem competitivo com métricas mundialmente aceitas e seguidas. Para os não familiarizados sobre como funciona esse mundo. Deixe-me descrever um simples aspecto que é muito importante nesse contexto. As descobertas feitas pelos pesquisadores são validadas e ao mesmo tempo divulgadas ao mundo através de publicações científicas. Os periódicos científicos e os anais das conferencias científicas contemplam artigos escritos por pesquisadores. O controle editorial do que está sendo publicado é feito por outros pesquisadores e esse mecanismo chamado de avaliação por pares (em inglês, peer review) é fundamental na comunidade acadêmica. Publicar artigos científicos é assim crucial para a vida de um pesquisador que passa naturalmente a ser avaliado pela quantidade de artigos que conseguiu publicar. Há inclusive uma máxima dita tradicionalmente em inglês publish or perish (publique ou pereça) que é muito bem conhecida pelos acadêmicos. Mas não são só os pesquisadores que passaram a perseguir e monitorar seus índices de publicação científica. Trata-se de uma questão política e mesmo estratégica para uma nação. Nessa era do conhecimento em que vivemos, índices de produção de conhecimento estão se tornando tão (e talvez se tornarão mais) importantes do que índices econômicos ou de produção industrial. São indicadores da criatividade e do potencial de desenvolvimento de uma nação. O que ocorreu na semana passada é emblemático dessa realidade que descrevo. O Ministro da Educação fez muita festa ao anunciar que o Brasil subiu duas posições no ranking de número de artigos científicos publicados em 2008 e ocupa a 13ª posição. Em 2007, o país estava no 15º lugar, atrás da Holanda e da Rússia, países que foram ultrapassados este ano. Entusiasmado o ministro emendou:
"Nós estamos vivendo um momento no país em que foi possível, de um ano para outro, aumentar em 50% a produção científica brasileira, em periódicos indexados por agência internacional"
Os dados mencionados pelo ministro constam da estatística realizada pela empresa Thomson Reuters, que contabiliza anualmente os números de trabalhos científicos publicados por 200 países. Mas o entusiasmo do ministro, além de emblemático, é igualmente exemplo de como os meandros desses mecanismos são tortuosos e complexos. Não é a toa que existe uma área da ciência que se destina a estudar os mecanismos de medição da ciência: a ciênciometria. Esse sucesso extraordinário já está sendo contestado, pois, dizem alguns, que ele decorre principalmente de uma mudança na forma de cálculo usada pelo Instituto Thomson. Como mais revistas brasileiras passaram a fazer parte dos arquivos do Instituto, a produção brasileira cresceu automaticamente. Ressalte-se que a avaliação quantitativa não é a única maneira de se mensurar a produtividade científica. Uma avaliação qualitativa se concentra não somente no quanto o pesquisador publicou, mas sobretudo no impacto do que foi feito. Esse impacto é normalmente medido pelo quanto o trabalho é usado ou citado por outros trabalhos. O fato é que as avaliações qualitativas da produção científica brasileira ainda são muito baixas o que acaba por ratificar as críticas dos mais céticos. De qualquer forma, sou extremamente otimista com toda essa discussão, não somente pelos números quaisquer que sejam, mas porque vivenciei (e vivencio) nesses últimos dez anos uma revolução na ciência brasileira. Uma revolução provocada certamente pelos incentivos governamentais de formação de doutores (continuados há mais de 20 anos), mas principalmente pela mudança na cultura da sociedade que lenta, mas gradativamente ergue a ciência ao patamar de importância que deve possuir em qualquer nação desenvolvida. Os números hão de mostrar isso, mais cedo ou mais tarde.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Abusos Publicitários

Já há algum tempo pude observar a mudança de paradigma nos comerciais de televisão. Ao invés de anunciarem as características positivas de seus produtos, preferem associar a imagem da marca a um valor moral ou uma celebridade. Normalmente são filmes que buscam emocionar o telespectador. Embora haja muita coisa bem produzida, muitas são as vezes em que a associação da imagem da Empresa com amor, nostalgia, felicidade, coragem, etc. chega a ser ridícula. Em especial, as propagandas de Bancos para os dias das mães me passaram uma idéia de falsidade sem tamanho. Parece mais com uma propaganda de uma instituição de caridade do que de instituição financeira (tão emblemática de uma sociedade capitalista). As propagandas de bebidas alcoólicas então abusam desse tipo de estratégia. Muitas vezes passam da conta. Por exemplo, a Brahma recentemente fez Ronaldo dizer que era Brahmeiro (vejam no vídeo abaixo). Caso explícito de incentivo ao uso de bebida alcoólica. Teve que imediatamente mudar para que o artilheiro falasse “sou guerreiro”: a versão que passa atualmente na TV. O mais interessante é que quem denunciou a má postura da Brahma foi a concorrete Schin. Será que ela estava preocupada com as criancinhas fãs do Ronaldo?!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Susan Boyle e as Celebridades Efêmeras da Web

Suzan Boyle é mais um exemplo de celebridade na Internet. Trata-se de uma senhora de 47 anos que aparenta 60, com ar ingênuo e que, com sua voz brilhante, conseguiu ficar célebre depois que foi um a programa de auditório britânico. Já são cerca de 100 Milhões de visitas às cópias do vídeo de sua apresentação no Youtube (cerca de 250 mil comentários em um desses vídeos). Recentemente assisti um programa na Globo News só para discutir o fenômeno Suzan Boyle. Seu visual nada atraente (condição importantíssima para ser célebre) foi muito bem explorado pela produção do programa para criar o clima de surpresa e “venci apesar de tudo e de todos” que entusiasma e emociona as pessoas há anos. Veja o vídeo aqui para compreender bem a estória. Até a música foi bem escolhida. Nesses tempos de Obama que relembrou-nos o discurso de Martin Luther King sobre sonhos impossíveis, “I dreamed a dream“ de “Les Miserables” não podia ter sido mais bem escolhido. Suzans Boyle em programas de auditório não são fenômenos inéditos. No entanto, o vídeo do programa britânico caiu na rede. E aí, toda a diferença está feita. A velocidade transmissão da informação na web transformou Suzan Boyle numa celebridade e fez muita mais gente do que o normal se emocionar. Já tinha escrito sobre esse fenômeno de cauda longa (veja o texto aqui) quando falei do livro com esse nome. É o espaço que a web abriu aos outsiders. Agora, nada está garantido quanto a durabilidade desse momento. Eu diria mesmo que há uma correlação positiva entre o tempo desse apogeu e seu ocaso. Ou seja, as celebridades desaparecerão tão rapidamente como aparecerão. O conceito de celebridade no nosso mundo modificou-se. Antes, as celebridades, goste ou não, tinham um dom. Cantavam, encenavam, escreviam enfim tinham alguma habilidade. Construíam um carreira e, é claro, precisavam ter senso de oportunidade como tudo na vida: estavam no lugar certo, na hora certa. Além disso, os mecanismos de distribuição de imagem eram lentos, visto que poucos e centralizados. A exposição mediática era rara, cara e difícil de ser conseguida. Quem tinha um pouco de espaço, só conseguia disseminação se demonstrasse alguma competência. A internet mudou essa lógica. A disseminação é coletiva, distribuída, por vezes caótica. Agora, o que acho mais interessante é que não podemos dizer que esse processo não é totalmente desprovido de critérios avaliativos. Talvez não haja uma análise mercadológica, estética enfim uma análise com critério técnico. A web estipula seus critérios ad hoc. Os estilos são variados. O humor é o carro chefe (veja um exemplo aqui), mas há espaço para tudo, inclusive o dramalhão. Agora, nesses tempos em que a televisão cria celebridades a partir de Big Brothers e a imprensa escrita as propaga via Caras e coisas afins não dá para criticar os critérios da web, né?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Exames de Detecção de Câncer de Próstata Salvam Vidas? – Parte II

No texto anterior desse blog, descrevi um estudo feito por pesquisadores europeus e americanos que põe em dúvida a validade de se realizar detecção precoce de câncer de próstata com as técnicas que a medicina hoje domina. Mencionei o quanto me surpreende a reação de colegas quando são expostos aos resultados. Vou explorar esse aspecto aqui. Primeiramente, percebo que não é fácil entender que o conhecimento humano tem limites e que podemos estar atualmente sendo vítima dessa limitação. Temos nos acostumado a viver numa sociedade vencedora constantemente de desafios científicos e tecnológicos e assim custamos a aceitar que muitos dos procedimentos que fazemos hoje são pautados somente pelo que conhecemos até então. Amanhã (e esse amanhã se apresenta cada vez em intervalos de tempo menores) poderemos reconhecer que estávamos errados e que devemos agir outramente. Na medicina isso é muito marcante. Aliás, a nossa sociedade insere brusca e abundantemente todo um novo conjunto de materiais que são ingeridos (i.e. transgênicos), utilizados (i.e. celulares), respirados (i.e. CO2 e gases diversos), etc. que podem nos estar matando e que os estudos da medicina não foram capazes de detectar os malefícios causados. Evidentemente que isso não nos deve por em pânicos. Não tem muito sentido também, um paciente viver a desconfiar do conhecimento do médico que ele consultou sob o argumento de que aquele conhecimento é limitado e que algo diferente pode aparecer. No entanto, é importante saber que aquele conhecimento (normalmente vindo das universidades) deve ser constantemente confrontado com as novas pesquisas que diariamente trazem diferentes prismas sob o que está posto. Em poucas áreas do desenvolvimento humano a interação entre o profissional que aplica o conhecimento existente e aqueles que avançam esse conhecimento se faz tão premente como na área de saúde. Seria interessante se pudéssemos considerar isso na escolha de nossos médicos.
Outro aspecto interessantíssimo da reação das pessoas quanto ao estudo supramencionado é de que elas relacionam logo qualquer observação crítica à realização dos testes de detecção com sendo uma resistência machista ao exame de toque retal. As campanhas de “conscientização” são tão intensas que falar contra é politicamente incorreto. Aqui vale a compreensão que decisões sobre o que deve ou não compor uma política pública de saúde são baseadas em uma alguns fatores que podem extrapolar o mero interesse de que as pessoas vivam melhor. Por exemplo, na França, qualquer pessoa que sofre um acidente ortopédico de maior monta (quebrar um tornozelo, por exemplo) e que precise colocar gesso deve tomar injeções diárias enquanto tiver com o gesso com substâncias que evitam embolias causadas por coágulos que podem se formar em função da imobilização. Isso é realmente necessário? Não sei. Agora o que sei é que no Brasil não fazemos o mesmo e não é porque ninguém tenha sofrido um problema desse por aqui. Trata-se de uma questão de custo vs benefício. Por enquanto o Brasil continua achando que vale a pena realizar os testes e as cirurgias de extração das próstatas para salvar vidas. Recentemente um urologista brasileiro teve a coragem de levantar a dúvida sobre a validade dessa política, mas foi execrado. Se essa política deve persistir, o futuro dirá, mas é importante que saibamos que se assim o for, não deve ser por fatores externos como lobbies de setores médicos ou interesses comerciais desse ou daquele setor. Deve ser por força do conhecimento humano naquele momento (mesmo que limitado).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Exames de Detecção de Câncer de Próstata Salvam Vidas?

Extremamente interessante a reação de algumas pessoas quando descrevo o estudo científico publicado no New England Journal of Medicine e divulgado no caderno de saúde do New York Times(NYT). Antes de refletir sobre as diferentes reações, deixem-me resumir o que compreendi do estudo. Ressalto que se trata de um assunto que não é minha especialidade e por isso mesmo não possuo conhecimento sobre o estado da arte na área. Novos estudos que se contrapõem a esse que vou descrever podem surgir, mas atualmente o estudo em questão parece ser bem atual. A fonte principal em que baseei minha interpretação foi a matéria do NYT com o título “Prostate Test Found to Save Few Lives” (Descoberto que teste de câncer de próstata salva poucas vidas). São dois os estudos que mostram que fazer testes anuais que buscam identificar a existência de tumores, como o teste de PSA, salva poucas vidas e levam a riscos e tratamentos desnecessários a uma grande quantidade de homens. Vou buscar resumir o que dizem os estudos.Para maiores informações consultem diretamente a matéria do NYT aqui. Os testes, ditos de detecção, como toque, PSA e, em último caso, biópsia, visam indicar se uma pessoa tem um tumor. O que dizem os especialistas é que na maioria de casos de câncer de próstata, os tumores tendem a crescer muito lentamente (ou não crescer) e não constituem uma ameaça a vida dos pacientes. Para o caso dos tumores que crescem rapidamente, mesmo que se faça diagnóstico cedo, a probabilidade de se salvar vidas é pequena. Os estudos — um na Europa e outro nos EUA — foram considerados pelo médico chefe da Sociedade Americana de Câncer como os mais importantes na história da saúde masculina. As conclusões do estudo europeu indicam que, dentro de um intervalo de dez anos, para cada vida salva com o tratamento cirúrgico em função dos testes, 48 homens tiveram tratamento desnecessário. Dito outramente, suponha que alguém faça um teste de PSA hoje e depois uma biópsia revela que essa pessoa tem câncer, o que a leva ao tratamento. Há uma chance em 50 que, em 2019, ele tenha tido a vida salva pelo tratamento. Por outro lado, há 49 chances em 50 que a pessoa tenha sido tratada desnecessariamente para um câncer que não ameaçaria sua vida. Na verdade, na medicina, essa postura, digamos conservadora, ocorre em muitos outros problemas. O problema é que os efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata, apesar dos avanços, ainda são muito traumáticos. Ele pode levar a impotência, incontinência e algumas vezes a dores na hora de defecar ou diarréia crônica quando radiação é feita. A matéria do NYT coleta depoimentos de vários médicos que dizem o quanto o estudo é importante porque ele permite informar os pacientes da validade de se fazer anualmente os testes de detecção com dados concretos, coisa até então inexistente.
Um dos estudos envolveu 182 mil homens em sete países europeus; o outro aproximadamente 77 mil homens em 10 centros médicos nos EUA. Em ambos, os participantes foram randomicamente selecionados para fazer ou não o teste preventivo. Os dois grupos foram seguidos por mais de uma década. Comparações entre o grupo que fazia os exames preventivos e o grupo dos que não faziam mostraram que as vidas salvas, por se fazer os testes de detecção, foram pouquíssimas. No estudo europeu, nos primeiros sete anos, não houve nenhuma melhoria no grupo dos que fizeram os testes. No americano houve uma redução de 13% na taxa de mortalidade no grupo dos que não fizeram os testes! Em 1990, quando os estudos começaram, se acreditava que os testes de detecção reduziriam o número de mortes em 50%. Houve muito debate e crítica ao estudo, pois se dizia antiético fazer com que algumas pessoas não se submetessem aos mesmos. Na Europa esse problema não existiu muito, pois a política pública de boa parte dos países da Comunidade Européia não prevê a realização dos testes de detecção. O fato é que a redução de 50% não veio a ocorrer, o que de certa forma ratifica os estudos. O estudo americano ainda vai continuar a acontecer e os participantes serão acompanhados. Talvez em um prazo mais elástico haja uma mudança nas conclusões que hoje estão sendo tiradas. Os avanços nos métodos cirúrgicos para que se reduza os efeitos colaterais também devem ser considerados. De qualquer forma, as conclusões dos resultados desses estudos certamente forçarão as autoridades mundiais de saúde a refletir o impacto das mesmas na política pública de muitos países. Em um próximo texto vou refletir um pouco sobre a reação das pessoas ao serem apresentadas a esse estudo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vans Privilegiadas e Trânsito Caótico

Entendam essa. Ontem li aqui no jornal O Povo que a prefeitura por intermédio da ETUSA decidiu que as vans não podem parar fora de pontos de parada demarcados. Ao ler, pensei que tinha me enganado ou então havia um engano do jornalista. Ora bolas! Desde quando um veículo, ainda mais de transporte coletivo, pode parar na rua onde bem entender. É contra o código de trânsito, não? Guardei a matéria para fazer um comentário no conselho de leitores do O Povo do qual sou integrante. Ao lê-la novamente, pasmem, descobri que isso ocorria mesmo. Havia um “acordo” que autorizava as vans a pararem em até cem metros das paradas oficiais. É isso mesmo. Sempre me indignava ao dirigir e ter que reduzir a marcha ou mesmo parar em uma via de alta velocidade, porque uma van decidia abruptamente coletar ou deixar seus passageiros. Reclamava da falta de fiscalização, mas nunca podia imaginar que era tudo oficializado. Só não entendo é como é que se pode legalmente fazer esse tipo de acordo. Queria ver o Ministério Público mais atuante da questão. E o melhor é o seguinte: a distância média das paradas oficiais em Fortaleza é de duzentos metros. Ou seja, na verdade as vans podiam parar em qualquer lugar mesmo. Além do mais, convenhamos, alguém acredita que a fiscalização da ETUSA pode monitorar se uma van está parando a cem metros de uma parada? Acho mesmo que ninguém acredita que ela fiscalize nem se estão parando nos locais corretos, quanto mais com essa “pequena” particularidade. Acredito piamente que o trânsito de Fortaleza pode modificar sensivelmente com uma gestão eficiente, que trate de prover sinalização correta, educação aos motoristas e pedestres e muita, mas muita fiscalização. Não é o que vemos hoje. A continuar assim, podem fazer viadutos, túneis e o que for. O caos só vai ficar mais caro.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Google na Nature

Essa matéria que saiu no portal Globo.com e que tive conhecimento a partir do colega André Herzog é emblemática do que é o mundo hoje. A Google através de suas ferramentas de análise estatística passou a estudar a relação entre termos usados por seus usuários quando realizam buscas, em particular, termos ligados a gripe suína, e o desenvolvimento da doença. Com isso, conseguiram identificar uma forte correlação entre esse interesse dos usuários e a situação de uma doença em uma região. O estudo acabou por valer um artigo em uma das mais prestigiosas revistas científica do mundo: a Nature. Tradicionalmente essa revista destina-se a divulgação de pesquisas na área de saúde. Equipes de médicos do mundo todo se esmeram para conseguir um espaço nessa revista. O mesmo espaço que pesquisadores em computação de uma Empresa privada como a Google conseguiram. É aqui que vejo os maiores símbolos do mundo que vivemos. Primeiro, a multidisciplinaridade como estratégia para atacar problemas complexos. Segundo, a solução de explorar as consultas feitas pelos usuários evidencia o quanto o mundo virtual pode nos ensinar sobre o mundo real. Por fim, ressalte-se o poder quase ilimitado da Google ao explorar seu gigantesco banco de dados. Por enquanto, a terra é o limite. Enquanto o céu não chega, dêem uma olhada na ferramenta chamada GoogleFlu para acompanhar o desenvolvimento da Gripe Suína nos EUA.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Wolfram Alpha

Será que o sonho dos anos 60 da Inteligência Artificial (IA) de se construir um programa que resolva tudo quanto é problema (antigamente batizado de GPS para General Problem Solver – Resolvedor Geral de Problemas) vai se concretizar? A comunidade acadêmica, o mundo da tecnologia e os usuários da web em geral terão ainda que esperar algumas semanas para saber se a façanha está mesmo próxima de se realizar. Stephen Wolfram, o idealizador do popular software científico Matemática e escritor de A New Kind of Science, começou um tímido, mas já barulhento, processo de divulgação do Wolfram Alpha. Os que tiveram a oportunidade de ver a versão em preparação (a versão oficial só será lançada em Maio) se surpreenderam com o que está sendo proposto. Wolfram Alpha é um site que responde perguntas sobre, bem, sobre simplesmente tudo! Não se trata de um Google que acha páginas sobre tudo. Ele responde perguntas! Por exemplo, se você pergunta sobre “usuários de internet na Europa” ele não só diz a quantidade, como mostra gráficos por países e estatísticas de uso. Trata-se de um trabalho que requereu a construção de uma enorme base de conhecimento (em um formato ad hoc e ainda não conhecido pela comunidade científica) e de mecanismos para explorá-la. Wolfram Alpha usa muito do código do Matemática para construir o que o autor chama de Um Motor de Conhecimento Computacional para a Web. Falar mais sobre o que é ou será o projeto não me parece interessante, pois é só especulação. Será a tão esperada “killer application” da Inteligência Artificial? Não sei, mas que vai fazer muito barulho, isso vai.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

WikiCrimes em Curitiba

Ontem WikiCrimes foi notícia no jornal A Gazeta do Povo de Curitiba. Uma matéria super bem produzida a partir de uma entrevista que dei por telefone. O jornal se esmerou na produção de uma figura explicativa de todas as funcionalidades de WikiCrimes (veja na figura com o título “como funciona”abaixo). O site do jornal está no portal da RPC, a concessionária da Globo em Curitiba, e por isso mesmo muito acessado. Foi um dia de recorde em WikiCrimes. O Paraná já era o terceiro estado mais participativo em WikiCrimes. Só ontem foram quase 200 novos usuários registrados.


terça-feira, 28 de abril de 2009

Pense um Pessoal Viajado!

Nem gosto muito de enfatizar os desmandos de nossos políticos. Diante dos absurdos, só cria um clima de descrédito nas Instituições democráticas. Agora, o descaramento dos políticos brasileiros em não se preocupar em oferecer desculpas e ainda em tentar se justificar da farra das passagens é demais! Decidi colocar a lista fornecida pelo site Congresso em foco dos maiores viajantes. Marquei alguns conterrâneos que considero "bem viajados". Vejam se eles tiveram seus votos e não esqueçam.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

WikiCrimes no Twitter

WikiCrimes está no Twitter. Todos os registros de crimes ocorridos no WikiCrimes agora são imediatamente postados no Twitter. Acesse http://twitter.com/wikicrimes e seja mais um a seguir o que está ocorrendo no WikICrimes e consequentemente na sua região.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Web 2.0 e Informática Pública

Além de meu frequente contato com os colegas da ETICE (Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará), nos últimos meses tive várias experiências de contato com o ambiente das Empresas Públicas de Informática. Ano passado palestrei no KM Brasil (Congresso Nacional de Gestão de Conhecimento), e boa parte do público era de funcionários públicos de TI. Os convites recebidos para realizar apresentações no Congresso Nacional do SERPRO – CONSEG e no Alagoas digital foram outras oportunidades de conversar com funcionários públicos técnicos em TI. Interessante perceber que as Empresas Públicas de TI, bem com os departamentos de processamento de dados das grandes Empresas Públicas, vivem um dilema quanto ao uso das novas ferramentas de informática advindas com a Web 2.0. Na sua grande maioria essas empresas bloqueiam o acesso a sites de relacionamento, sites de compartilhamento de vídeo e fotos, blogs e mesmo do Google Maps. Os motivos variam da necessidade de “proteger” os funcionários da tentação de desviar o foco do trabalho até a racionalização do uso da banda larga de acesso a Internet. Por outro lado, cresce gradativamente (embora em grau diferenciado de empresa para empresa) a percepção de que há espaço para explorar positivamente as tecnologias de Web 2.0 e ainda as redes sociais que se formam em função de seu uso. O dilema está criado. Como será possível se qualificar a explorar um potencial que tem seu uso mesmo proibido dentro da Organização? Reconheço que não se trata de um problema fácil de ser resolvido, creio que para começar é preciso que se compreenda como a web 2.0 pode ser útil no contexto dos serviços públicos. Por essa ótica, deixo aqui algumas definições que podem contribuir na formação de conhecimento preliminar para a criação de uma política para a TI pública. Em linhas gerais, relembro que a característica marcante do que se batizou de Web 2.0 é aumento de oportunidades de compartilhamento e produção de conhecimento pelos internautas viabilizado pelo surgimento de sites para esses fins. Blogs, sites de relacionamento (www.orkut.com), sites de compartilhamento de vídeos (www.youtube.com), de fotos (www.flick.com), de transparências (www.slideshare.com) e sistemas wikis para compartilhamento de conhecimento (www.wikipedia.com) e crimes (www.wikicrimes.com) são alguns exemplos desse movimento. No contexto organizacional aqueles que trabalham com gestão do conhecimento (GC) perceberam rapidamente que essa nova onda tecnológica compartilha caprichosamente os mesmos princípios da GC como o compartilhamento de conhecimento para aumento da aprendizagem intra-organizacional, a formação de comunidades de prática, a formalização de conhecimento tácito, dentre outros. Enfim, um novo tipo de sistema de informação na web, chamado por alguns de e-gov 2.0 ou KM 2.0, está a surgir. São aplicações onde a aproximação do governo com o cidadão se dá não somente através da prestação do serviço público, mas igualmente pelo provimento de instrumentos para que o cidadão se pronuncie, questione, forneça informações, proponha alternativas, denuncie enfim interja ricamente. Junte ainda a possibilidade de que tudo isso seja feito de forma colaborativa, onde o cidadão faz parte de uma comunidade virtual. Há muito o que fazer nessa direção.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Inspiração

Pós-aniversário. Obrigado a todas as mensagens de parabéns recebidas via web e telefone. Não sei quem me falou de inspiração. De qualquer forma, adorei a mensagem. Ao procurar algo sob esse título na web encontrei esse vídeo genial. Inspira não só os amantes da bicicleta. Vale o “coup d’oeil”!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Insegurança e “Nossas Estatísticas”

Nesse domingo, uma matéria no jornal O Povo, me fez refletir um pouco mais sobre estatísticas oficiais de Segurança (veja a matéria completa aqui). Um trágico incidente próximo ao Campus da Universidade Estadual do Ceará, aqui em Fortaleza, levou a morte de uma jovem universitária. Uma bala perdida, provavelmente vinda de uma arma de um policial, tirou-lhe a vida. Na matéria, os cidadãos clamam por segurança na região em que o incidente ocorreu. A resposta do oficial responsável pela área foi emblemática daquilo que argumento desde o nascimento de WikiCrimes.
"Aconteceu um caso isolado, uma fatalidade. O pessoal generaliza. Se fosse verdade, isso estaria nas nossas estatísticas."
Não tenho dados para falar especificamente da área em questão, mas o que venho dizendo há algum tempo é claramente exemplificado nessas palavras. Há um grande índice de subnotificações (crimes que não são registrados formalmente). Violências entre gangues como as denunciadas na região próxima à Universidade são um exemplo disso. Os moradores vivem e presenciam cenas de violência, mas isso não gera um registro específico de fato criminal. As estatísticas oficiais que se baseiam na contabilidade de registros formais não vão nunca indicar esses problemas. Vejam o depoimento de uma moradora que se recusou a falar sobre o assunto ao jornal.
"Deus me livre. Aqui é falou, morreu."
É preciso criar outros mecanismos de coleta de informações que indiquem a insegurança de uma área. WikiCrimes, por exemplo, é um desses mecanismos, pois trata-se de um instrumento complementar de coleta de informações(uma real Polícia Comunitária é outro exemplo). Aliás, a expressão “nossas estatísticas” usada pelo oficial da Polícia Militar é indicadora de outras características marcantes da forma como nossas autoridades de segurança agem hoje. Demonstra primeiramente baixíssima transparência. Afinal de contas, quem tem acesso às “estatísticas deles”? Ninguém. Não tem como discordar, né? Demonstra ainda a possessividade típica de quem não considera que a informação é pública. Por fim, chega a ser inebriante e alienador. Condiciona a realidade. O fato não é verdade se não estiver nas estatísticas! Já é tempo de mudar isso.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Hotel Califórnia

A volta à Califórnia recentemente não me renovou somente os ares acadêmicos. Permitiu-me também matar saudades de uma rádio que adoro. A rádio KKSF pode ser acompanhada na região da Bay Area (Bacia de San Francisco) com direito a muito jazz e um bom rock progressivo. O Eagles está sempre tocando lá e sua música mais conhecida, Hotel Califórnia (1977), tem tudo a ver com o lugar. Achei no YouTube uma versão excelente dessa que é considerada por muitos como uma das músicas pop mais marcantes de todos os tempos. Ela, além de bela, carrega a áurea de mistério dos diferentes sentidos que foram dados à sua letra durante todos esses anos. O trumpete na introdução é inovador. Vejam abaixo. Aproveitei ainda para mudar o estilo da rádio personalizada ao lado para tocar mais no estilo Eagles. Boa música!


quarta-feira, 15 de abril de 2009

Experiências de Produção Colaborativa de Conhecimento

Quem quiser saber mais sobre exemplos de produção colaborativa de conhecimento pelas massas (minha tradução para crowdsourcing) deve recorrer ao Wiki do Crowdsourcing (clique aqui para acessar) . O site é iniciativa de Anjali Ramachandran um entusiasta no assunto e com livros e blogs sobre o assunto. Tem muita coisa interessante e naturalmente WikiCrimes e WikiMapAid também já estão registrados lá. As contribuições estão divididas em quatro módulos:
1. Sites individuais que abrem espaço para a participação das massas (wikicrimes e wikimapaid constam aqui);
2. Iniciativas patrocinadas por Empresas ou Marcas de criação de fóruns que dependem da participação das massas;
3. Iniciativas de empresas ou marcas que permitem os usuários customizarem seus produtos;
4. Iniciativas patrocinadas por Empresas ou Marcas focadas em competições ou desafios de participação das massas.

Vale a pena dar uma olhada para descobrir as inovações em aplicações colaborativas que estão surgindo no mundo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Aplicações para o iPhone

Uma das maiores críticas que se faz ao iPhone deve-se ao fato que ele não é considerado bom para atividades de escritório. Ou seja, ele não é muito como um Palm Top. Isso acontece muito em função da inexistência de teclado que muitos acreditam ser seu grande problema. Seus concorrentes como o Black Barry apostam nessa característica como diferencial competitivo. Evidentemente que a Apple não vai ficar quietinha e concordar com isso. Vejam o vídeo abaixo. A aposta da Apple é de que haverá (na verdade, já existem) aplicações para quase tudo que se quer fazer em um ambiente de escritório. O que defende a Apple é que a inexistência de um teclado vai reformular os meios de interação com o telefone. A aposta é grande, mas o apostador tem cacife. Admito que torço pela aposta da Apple, pois eu, se for depender de interações efetuadas em pequenos teclados de telefones celulares, não vou a lugar nenhum.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Novidades em Gengibre

Em conversa com Cazé, apresentador da MTV, empreendedor na Web e um dos idealizadores do site Gengibre, descobri que já é possível publicar áudio no site em Fortaleza pagando ligações locais. Vale a pena lembrar que em Gengibre o internauta registra uma mensagem no site, mas ao invés de uma mensagem de texto, o registro é feito em áudio. Na verdade, são várias as cidades brasileiras que estão cobertas pelo serviço. Vejam abaixo os números de Gengibre nas diferentes cidades. Vejam também um exemplo de um post de voz que fiz com um trecho da conversa com Cazé.Basta clicar no botão de "play". Ele dá inclusive dicas de como o serviço tem sido usado de forma criativa.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

E-Gov 2.0 e Inclusão Digital

Continuam proliferando no Brasil políticas de inclusão digital focadas no provimento do acesso à rede mundial de computadores. Já refleti algumas vezes sobre esse tema aqui no blog. Volto ao mesmo, porque mais eu vejo iniciativas de inclusão digital pelo Brasil mais minha opinião sobre a questão amadurece. Definitivamente, não creio que deva ser esse o foco desses programas. Acho-os reducionista. Obviamente não estou a dizer que meios de acesso não são necessários, mas acho que esse processo vai ocorrer naturalmente, aliás, já está a ocorrer. Nos mais longínquos pontos do País há uma Lan House para acesso a rede (Regina Casé na Globo nos mostrou vários desses exemplos). Temo que ao focarmos na disponibilização do acesso percamos de vista que o problema maior refere-se ao uso que queremos dar àqueles que acessam a rede. Em um texto publicado em Junho do ano passado comentei sobre o cuidado que devemos ter com o excessivo entusiasmo de que o acesso a Internet pode trazer melhoria na Educação. Isso vai depender muito de como o Estado vai conseguir levar conteúdo interessante para a escola. Essencialmente vai depender de como os professores serão competentes no manuseio das diferentes ferramentas que podem acrescentar qualidade ao ensino. Esse mesmo raciocínio vale para a inclusão digital de uma forma geral. Basicamente, os internautas de hoje usam a Internet como meio de divertimento e de comunicação. A popularidade de Orkut e de jogos eletrônicos não nos deixa espaço para dúvidas. O provimento de conteúdo com qualidade aos internautas não deve ser objetivo somente dos professores e muito menos somente um problema da Escola. A televisão, no seu surgimento, também era vista como instrumento essencial para melhorar a qualidade do ensino. Tele-cursos e outras modalidades à distância ficaram longe de demonstrar esse poder. Vemos agora com a Internet uma situação parecida. A rede está cada vez mais sendo encarada como um instrumento de lazer. Ser fun (divertido em inglês) é decididamente o que pega. A internet impõe aos produtores de conteúdo esse desafio. O Estado, em especial, como grande produtor de conteúdo que é, também se vê diante do mesmo desafio. Enfim, não basta veicular conteúdo de qualidade, tem que conquistar o público. Um governo que provê serviços de forma eletrônica que aumentem a aproximação com o cidadão, permitam compreender suas demandas e os atendam melhor é um grande passo nessa direção. Agora, isso tudo não deve ser feito dissociado das plataformas dos sites de relacionamento, blogs e outras formas de expressão da Web 2.0. Esse governo eletrônico 2.0, ou e-gov 2.0 é um dos grandes desafios aos profissionais e empresas públicas de informática e o mais relevante papel que o Estado vai poder realizar para fomentar a inclusão digital.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Sistema Penal Americano

Vou continuar a refletir sobre a questão penal a partir de um artigo recente escrito na revista Parade pelo Senador Democrata da Virgínia, Jim Webb sobre a necessidade de mudanças no sistema americano (acesse o artigo completo em inglês aqui). Aqueles que pensam que o sistema penal estadunidense é só maravilhas estão enganados. É bem verdade, que os problemas de lá são diferentes dos daqui. As prisões americanas, principalmente as de segurança máxima, são exemplo. Muitas delas são privatizadas e o zelo para reduzir o contato dos presos com os agentes está presente nos menores detalhes. Há muito se sabe que esse é um dos pontos vulneráveis de qualquer prisão. É o elo mais fraco, visto que a interação preso-agentes é suscetível à corrupção, extorsão e ameaças. O grande problema que os americanos estão vivendo é que as prisões, por melhores que sejam, estão superlotadas. O sistema penal e judicial americano está em crise pelo excesso de pessoas ou presas ou em liberdade condicional. Os norte-americanos estão agora sofrendo conseqüência de uma política rigorosa de punição implementada nos últimos vinte anos. Há vinte anos atrás 580.000 pessoas estavam condenadas a prisão nos EUA. Esse número hoje é de cerca de 2,3 milhões de pessoas. No Japão, por exemplo, esse número era 40.000 e passou a 71000 vinte anos depois. A população americana representa 5% da mundial mas em se tratando da população carcerária a americana é de 25% da global. A taxa de presos por habitante nos EUA é 756 por 100.000 habitantes sendo cinco vezes maior do que a média global. Um em cada 31 adultos nos EUA está na prisão ou em um sistema de liberdade vigiada. Achei interessante o que Sen. Webb se interroga em seu artigo:
Either we are home of the most evil people on earth or we are doing something different and vastly counterproductive - Ou nós somos a casa do povo mais malvado no mundo ou estamos fazendo algo diferente que é terrivelmente contra-produtivo.

A razão principal para esse crescimento exponencial da população carcerária americana, segundo Sen. Webb, é o fato de que a lei é muito rigorosa com pessoas que cometem pequenos delitos. Isso tira toda a energia e foco das autoridades policiais e as impede de se concentrar nos grandes problemas como o aumento da dominação do cartel mexicano. Ele fornece ainda dados alarmantes sobre a cidade de Phoenix no Arizona. Foram 370 sequestros ocorridos em 2008 nessa cidade que se tornou a campeã desse delito no mundo (evidentemente se deixarmos de contar os seqüestros relâmpagos brasileiros). Uma comissão de políticos e especialistas está sendo formada no congresso americana com o intuito de estudar alternativas para os problemas verificados. Vale a pena ficar de olho no que será proposto. Creio que temos muito a aprender dessa experiência. Não precisamos cometer os mesmos erros que os americanos cometeram.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Alagoas Digital

Estou hoje em Maceió para palestrar no Alagoas Digital. Um evento organizado pelo ITEC (Instituto de Tecnologia da Informação e Comunicação de Alagoas) no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso. A programação é riquíssima com apresentações diversas de palestrantes de todo o País. O evento será dividido em três grandes linhas: acadêmica, governança e aplicações na área de saúde, educação e segurança. Nessa última área é que estará inserida minha palestra em que falarei sobre WikiCrimes e suas implicações. Abaixo um screen-shot da página do evento. Para maiores informações veja a programação aqui.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

III Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Semana passada estive em Vitória onde participei do III Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Fui convidado a coordenar uma mesa sobre o Uso da Tecnologia da Informação na Segurança Pública. Foi mais uma oportunidade para discutir sobre como a TI pode auxiliar as polícias, mas igualmente uma oportunidade para falar sobre WikiCrimes. Trata-se de uma platéia basicamente de policiais que gosta de escutar sobre as vantagens e desvantagens do que ele representa. Interessante perceber que de uma forma geral os policiais acham interessante a idéia de ter maior transparência nos dados criminais, mas quando são obrigados a pensar institucionalmente relutam. Lembro-me de uma máxima popular que diz que privilégios e mordomias só são ruins para os outros. Acho que em relação à transparência da informação uma máxima similar pode ser criada: transparência é muito bom, para os outros. Mas não foi somente WikiCrimes que me levou ao Fórum. A interação com vários colegas sobre os mais diversos temas do complexo problema da Segurança é muito valiosa. Em particular, queria refletir sobre a questão do sistema prisional. Já havia falado (veja aqui) sobre a enorme hipocrisia de nossa sociedade em não achar que vale a pena colocar dinheiro para dar condições humanas aos presos. A verdade é que se criou um sentimento que a impunidade reinante deve ser resolvida no inferno das prisões. Nesse clima é difícil implementar soluções consistentes. De qualquer forma, alguns estados estão tentando, através das terceirizações dos presídios, estancar o ciclo de geração de criminosos que é o que caracteriza o nosso sistema prisional. Há diversas facetas sobre se a terceirização de presídios e é por isso mesmo que o tema é polêmico. Senão vejamos. Primeiramente, há uma questão fundamental. Cuidar daqueles que a sociedade considera que devem ser punidos e reeducados é papel exclusivo do Estado? É essencial que o seu completo e total controle e gestão sejam feitos por funcionários públicos? Enfim, a primeira questão é sobre o tamanho do Estado. Essa pergunta não tem uma resposta absoluta e depende de ideologias. Não vou entrar nesse meandro. Assumindo que a gestão do sistema penal pode ser, pelo menos, compartilhada com a iniciativa privada, como é o caso nos EUA (e como sugerido pelo Ministro da Justiça recentemente), sua implementação está longe de ser simples. Primeiro trata-se de quantificar o preço de um preso para o Estado. Isso é fundamental, pois vai balizar o processo de terceirização. Depois vem a decisão de quanto tempo será o contrato. Para ser viável para a iniciativa privada tem que ser por um longo período, cerca de 20 a 30 anos. Um complicador a mais, pois a lei de licitação só prevê prestações de serviço continuado por cinco anos. Com boas justificativas, isso é superável. Mas, além desses entraves, há ainda a necessidade de definir o quanto o lucro da empresa privada que for realizar a gestão do presídio é aceitável. O fato é que vai sair caro. Nesse momento, vem sempre a mente a pergunta de que já que o Estado vai ter que investir fortemente numa terceirização que forneça condições ideais ao prestador de serviço, porque não investir o mesmo para melhorar o serviço público? A resposta dos que defendem a terceirização é bem pragmática: nenhum governo tem como investir prioritariamente o montante necessário. As carências atuais são tão grandes que necessitariam investimento em massa. Ou seja, a terceirização funciona como uma espécie de empréstimo para que se consiga dar um choque no sistema e quebrar o ciclo. Parece-me um argumento convincente, mas ante tanta dificuldade e obstáculos, requer muita coragem para adotar a terceirização. O risco de serem descontinuadas é muito grande. Aliás, creio que as empresas privadas interessadas nisso, sabem dessas dificuldades e acabam adicionando em seus orçamentos o custo desse risco. Fica ainda mais caro. De qualquer forma, mesmo com todas essas dificuldades, Minas, Pernambuco e São Paulo já estão em processo de implantação de seus presídios terceirizados. A acompanhar.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Le Foot Transparent

L’Équipe Magazine é uma revista que, aos sábados, acompanha o jornal esportivo francês L’Équipe (na minha opinião, uma das melhores publicações esportivas mundiais). Seu número de 14 de Março traz uma reportagem interessantíssima sobre a Liga Francesa de Futebol (Ligue Française de Football). Cabe a ela a gestão da primeira e segunda divisão francesa ( L1, para primeira divisão e L2 para segunda), o que equivale às nossas séries A e B do Brasileirão. Pela matéria dá para perceber diferenças evidentes, em termos de organização, entre a L1 e a nossa série A. A matéria do L ‘Équipe que se entitula “Combien ça coûte, la L1?” (quanto Custa a L1?) esmiúça todas as receitas e despesas da L1, num exemplo formidável tanto de transparência de gestão quanto de jornalismo qualificado que fornece ao leitor instrumentos precisos para compreender como o dinheiro é usado no esporte profissional e que mesmo ser ter subvenções públicas, pela sua dimensão popular, tem a obrigação de ser transparente com o cliente. Vamos a alguns números para compreender o nível de detalhe que se pode ter da contabilidade da L1. A L1 é um quinto campeonato europeu em termos econômicos com € 972 milhões de orçamento. Os ingleses tem o Foot mais rico do mundo com € 2,273 bilhões, seguidos por Alemanha €1,38, Espanha €1,32 e Itália €1,16. O preço médio do ingresso na Inglaterra é €61,00, enquanto que na França é €17,00. Os direitos de transmissão dos jogos dessa temporada na L1 rendem 680 Milhões de euros. Desse dinheiro metade é dividido igualmente e a outra metade é dividida segundo a notoriedade da equipe (20%) e pela performance esportiva (30%). O Lyon ganha €43,9 milhões enquanto que o Metz, o que ganha menos, recebe €13,74. O salário mínimo de um jogador da L1 é de €2.740,00 no primeiro ano, €3.425,00 no segundo ano e €4.110,00 no terceiro ano. O bicho mínimo por jogo também é regulamentado. Vitória vale pelo menos €274,00. O salário médio dos jogadores é de €47.700,00. Os treinadores fazem um capítulo à parte. Eles têm salário mínimo de €17.536,00 e não podem ser contratados por menos de dois anos. Se o clube quiser colocar o técnico para fora antes disso, terá que pagar os dois anos. Os salários de jogadores e treinadores constituem em média 64% do orçamento dos clubes (na Alemanha é só 45%). Pode-se saber detalhadamente quanto de cada ingresso vai para onde. Por exemplo, em um jogo onde o ingresso médio é €17,00, €8,00 vão para os salários dos jogadores, €1,25 para a comissão técnica, €1,25 para os empregados do clube, €0,70 de impostos, €0,50 para a organização do jogo, €0,40 para os agentes dos jogadores, €0,50 para material esportivo €3,90 para outras despesas como segurança, publicidade, etc.). O futebol francês é um negócio que gera cerca de € 505 milhões de impostos e taxas aos cofres públicos por ano. Desse dinheiro, cerca de 6% (€ 32,5 milhões) são obrigatoriamente destinados a outros esportes (amadores). Para não dizer que não há nenhum dinheiro público na L1, há algumas prefeituras que apóiam os times, mas isso não passa 3% do orçamento dos mesmos. Agora a parte que achei mais interessante é a que se refere a Segurança Pública nos estádios e arredores. A L1 paga cada centavo de policial usado para fazer a segurança dos jogos. Inclusive um valor de férias dos policiais proporcional o quanto eles trabalharam. Em um jogo de risco, paga-se em média à prefeitura a bagatela de € 60.000,00 pela Segurança. A matéria do L’Équipe é ainda enriquecida com algumas análises da produtividade dos times em termos de orçamento que possuem e gols que marcaram, por exemplo. Nesse momento em que a série B está em disputa entre Liga e CBF, seria muito bom que tivéssemos a possibilidade de saber quanto custa a série A e B do Brasileirão nesse nível de detalhe. Quem se atreve a pesquisar?


quarta-feira, 1 de abril de 2009

Robôs Lendo Mentes

A Honda e um Instituto de Pesquisa Internacional no Japão desenvolveram uma nova tecnologia que permite a um robô imitar os movimentos de uma pessoa através da leitura dos padrões de atividade no cérebro dessa pessoa. Se a pessoa fechar as mãos, o robô faz o mesmo; basta levantar dois dedos para cima, e o robô faz a mesma coisa. Na verdade, isso em si não é uma completa inovação, pois algumas pesquisas já tinham desenvolvido dispositivos que podem ser operados por eletrodos implantados (veja o vídeo abaixo). Entretanto, este é o primeiro sistema do mundo a promover o movimento de um robô somente analisando as mudanças no movimento natural do fluxo sangüíneo causado pela atividade cerebral. Essa tecnologia usa imagens de ressonâncias magnéticas que capturam súbitas mudanças que ocorrem no fluxo sanguíneo no cérebro quando as pessoas se movem. A qualidade da leitura da mente feita pelo robô varia de pessoa a pessoa, mas a taxa de leituras correta da mente chegou a 85% dos gestos feitos pelas pessoas. Esses avanços nos dão uma indicação de algo muito interessante que está para nos atingir no que se refere à interação com computadores: poderá ser possível controlá-lo sem nenhum contato físico. Ele lerá nossas mentes!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Reflexões Medíocres Ainda que Hulmides

Semana passada ao ler nos jornais algumas declarações do Deputado Ciro Gomes sobre a construção do Aquário na Praia de Iracema, não me contive a escrever essas linhas. O deputado disse que ser contra o aquário é pacto da mediocridade e que seu irmão deveria fazer como ele fez na construção do Centro Cultural Dragão do Mar: fazer por cima de pau e pedra (sic). A primeira coisa me veio à cabeça ao ler a declaração foi me perguntar: Como foi que já votei três vezes no Ciro Gomes? Quem mais mudou foi ele ou fui eu? Incrível como uma pessoa tão articulada, com alta capacidade de absorção de informação, tem esse hábito deletério de agredir os que “ousam” discordar de suas idéias. Isso é lamentável para um homem público! Creio mesmo que o inviabiliza a ser Presidente da República. Mas isso é outra estória, o que quero enfatizar aqui é que discutir a necessidade do aquário e se o mesmo deve ou não ser prioridade é obrigação dos políticos e da sociedade em geral. Grandes projetos precisam ser debatidos e os prós e contras têm que ser analisados e explicados à população. Isso é o normal em qualquer sociedade democrática e fundamental para fomentar uma cultura de participação ativa da sociedade que nos é tão escassa. É claro que a própria eleição do Governador Cid Gomes o credencia a ter autonomia suficiente para tocar as ações planejadas e prometidas de seu governo. O problema é que nem tudo que se decide fazer agora tinha sido planehjado e muitas vezes nem prometido. Remete-nos a uma das deficiências de nosso processo eleitoral, pois os candidatos muitas vezes se elegem sem programa nem projetos. Vão definindo-os “on-the-fly”. O deputado Ciro Gomes quando faz uma comparação com o Centro Dragão do Mar nos força mais ainda a refletir se o aquário no local previsto é uma boa alternativa. Os projetos “renascentistas” da Praia de Iracema já se tornaram comuns nos últimos anos. Eles vêm e voltam, sob a influência dos ventos políticos, mas o fato é que, mesmo com suas implantações, a Praia de Iracema teima em “morrer” de novo. É natural se questionar. O modelo adotado para fazer esse renascimento é o melhor? A vocação da Praia de Iracema é essa com grandes aparelhos de atração turística? E as pessoas que moram lá, o que pensam? Quando e como a iniciativa privada entrará no projeto? Ou teremos o mesmo modelo do Dragão que se sustenta basicamente com dinheiro público? Não valeria mais a pena investir em obras de infra-estrutura urbana como um metrô e abertura de viadutos e avenidas? Não seriam essas as condições de carência que temos hoje e que impede a iniciativa privada de participar dos empreendimentos? Não creio que alguém hoje possa responder essas e outras perguntas mais específicas com dados confiáveis. Fica claro então que é necessário debater além, aprofundar estudos e apresentar diferentes proposições. Se agir assim é pacto da mediocridade, desculpem-me por essas minhas reflexões, mas ainda que medíocres, acho-as necessárias.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Prof. High Tech Obama

Obama já entrou para a história mesmo antes de começar seu governo. No entanto, seu início de gestão dá indicações que ele não vai se contentar com pouco. Afora, seu arrojado plano de recuperação econômico que está atropelando todos os que são contra, seu estilo high tech é bem inovador. Nessa semana que estive nos EUA, o que mais me chamou a atenção foi a sessão de abertura de Q&A (Questions and Answers - Perguntas e Respostas) que fez com os cidadãos através da Internet. Por vídeo conferência, ele recebe perguntas dos cidadãos sobre os mais diversos e complexos assuntos. É aqui que ele demonstra uma característica até então desconhecida (pela surpresa que percebi dos comentários na mídia): ele tem uma enorme didática. Consegue falar de problemas complexos em um linguajar simples, mas consistente. Isso não é nada fácil. Um político que vi fazer isso meuito bem foi Antanas Mockus prefeito duas vezes de Bogotá. Mas ele é professor universitário, o que já ajudava muito. Aqui por essas bandas, a maioria dos políticos só tem coragem de falar sem sofrer interrupção e ser interrrogado. Vamos ver se o estilo Obama faz escola. Aliás, a mídia não ficou somente surpresa com o estilo Obama. Ficou um pouco enciumada também. Afinal de contas essa estratégia de comunicação exclui intermediários. Sem dúvida alguma, uma grande novidade. Vamos ver se ele vai ter fôlego para continuar.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Twitter e Gengibre

O mundo da web é totalmente caótico e imprevisível. Há muito gente tentando fazer acontecer e novidades surgem diariamente. A bola da vez atualmente é o site Twitter (www.twitter.com). Trata-se de um blog em que as mensagens postadas são curtas de menos de 140 caracteres (sites assim são também chamados de micro-blog). Normalmente, as pessoas os usam com o intuito de dizer o que estão fazendo, vendo ou pensando naquele exato momento. O crescimento de Twitter tem sido absurdamente exponencial. Algo em torno de 1000% ao mês. O site, que foi lançado em 2007, ganhou logo seu público cativo e já tem mais de 6 milhões de usuários. Apesar disso, sempre havia uma dúvida de como se podia ganhar dinheiro com isso. Recentemente, quando implantou seu sistema de busca, a Empresa passou a dar uma dica de que pode ser uma das grandes competidoras de Google no mercado de buscadores na web. Seu principal diferencial é de que, as informações que coleta são instantâneas. Dão uma visão do que está acontecendo agora no mundo. O exemplo mais representativo disso foi o de um internauta que estava em seu barco pescando quando viu a queda do avião da US AirWays próximo de Nova York. A primeira coisa que fez foi postar a notícia no Twitter dizendo do ocorrido e que estava se dirigindo para ajudar o resgate. A notícia fluiu na web muito mais rápido do que na mídia tradicional e mesmo em sites jornalísiticos. Estava criado o conceito de furo por Twiiter. Não é a toa que Facebook ofereceu 500 milhões de dólares pelo site (logo rejeitado). Ontem tomei conhecimento de uma outra inovação, dessa vez brasileira, onde um dos mentores é o apresentador da MTV Cazé. O gengibre (www.gengibre.com.br) é um Twitter por voz. Ou seja, ao invés do internauta publicar uma mensagem de texto no seu micro-blog, ele publica uma mensagem de voz. Basta ligar para um número telefônico específico dado pelo Gengibre e falar sua mensagem que será imediatamente gravada no blog. Parece-me que o número do Gengibre é em São Paulo, o que encarece muito o uso do mesmo para usuários de fora da cidade. Creio que se ele pegar por lá, virá para cá mais barato.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Saga da Delta: No Pain no Gain?

A expressão inglesa do título (“sem dor, sem ganho”) é muito usada nos EUA para dizer que tem que ralar para conseguir as coisas. Em texto publicado ontem discorri sobre o péssimo atendimento que a Delta Airlines me deu em viagem para San Francisco. O que aconteceu com a locadora Dollar com quem tinha alugado o carro foi algo bem diferente. Quando cheguei com minha reserva no bureau da companhia no aeroporto(um dia depois da reserva), não tinha mais carro econômico. Aliás, não tinha mais carro nenhum. Acabei ganhando um upgrade para um conversível. A Empresa acreditou que o atraso não tinha sido minha culpa, compreendeu meu cansaço e tratou-me com dignidade. Veja foto abaixo. Será que o ganho foi por ter penado antes com a Delta? Não sei, mas posso afirmar que seria a única possibilidade de dirigir um conversível pelas maravilhosas highways americanas (e o clima ainda ajudou!).

terça-feira, 24 de março de 2009

A Saga da Delta

Já andei escrevendo sobre sagas que passei ao ser atendido por serviços de algumas de nossas grandes Empresas (a saga da Tim começa aqui e a da TAM aqui). Agora, saga de multinacional é a primeira que vivi. Minha ida para a Califórnia na última sexta-feira tinha tudo para ser uma das mais tranqüilas e rápidas. Afinal, o Governo do Estado, em especial a Secretaria de Turismo, tinha conseguido colocar Fortaleza na rota da Delta Airlines, uma das grandes companhias aéreas americanas. Que maravilha! O vôo Fortaleza-Atlanta era a aproximação entre os hemisférios que merecíamos. Algo do que se orgulhar. Isso se tudo não passasse de uma farsa sem tamanho. Os vôos são frequentemente cancelados por causa de "manutenções" nas aeronoves. A verdade, que mesmo os funcionários da Delta não conseguem esconder, é de a viabilidade econômica do vôo é dúvidosa. Quem sofre as consequencias é o cliente que é desrespeitado sem pena. Se não há quórum suficiente para tornar o vôo lucrativo, ele é cancelado e os passageiros são “jogados” de um lado para outro. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Se tudo tivesse corrido bem, a previsão era de chegar em San francisco ainda na sexta-feira em cerca de treze horas de viagem. Um vôo diuturno com apenas uma conexão em Atlanta (provavelmente mais caro do que o que acabei pegando). Com o cancelamento, fui enviado ao Rio de Janeiro e só saí para Atlanta cerca das onze da noite. Quase na hora que deveria estar chegando ao destino. Nesse ínterim, o atendimento da Delta mostrou-se digno dos péssimos serviços por mim supra-mencionados. Perdi uma diária do hotel nos EUA que já estava paga. Ao perguntar quem ia me ressarcir, disseram-me “resolva no Rio de Janeiro”. No Rio de Janeiro, disseram-me “resolva no site”. Em Fortaleza, garantiram que teríamos um hotel no próprio aeroporto para nos abrigar até a saída do vôo(eu e os outros cerca de vinte passageiros na mesma situação). Ao chegar no Rio, nada de hotel. A notícia era de que não havia disponibilidade. Promessas de que poderia haver um upgrade para classe executiva também fizeram o mesmo trajeto: Fortaleza-Rio-Água. Consegui falar com o gerente da Delta no Rio. Disse-lhe que o mínimo que a companhia deveria fazer era me fornecer um upgrade mesmo sem minha solicitação, pois naquela noite deveria estar dormindo em um hotel no destino e não dentro de um avião como fui obrigado a fazer. Fui pouco convincente. Sabe o que ele me ofereceu: a sala VIP. Só que só poderia acessá-la quando o check-in fosse feito. Como o check-in não podia ser feito, não podíamos acessar a sala VIP. Cheguei em San Francisco em uma pequena viagem de cerca de 36 horas. Dei queixa na ANAC. Fui gentilmente atendido, mas percebi o quão frágil é sua estrutura. Sei que se recorrer a justiça terei como receber meus direitos, mas mesmo para um blogueiro ter essas estórias para contar cansa.

quinta-feira, 19 de março de 2009

WikiMapAid e WikiCrimes no New Scientist

O dia de hoje é especial para mim. Estamos sendo notícia de uma das maiores revistas de divulgação científica do mundo. A revista britânica New Scientist abriu espaço para falar de nosso mais novo projeto WikiMapAid (veja aqui o que escrevi sobre esse novo projeto) além de mencionar nosso trabalho em WikiCrimes. A matéria se entitula "Disease Maps Can Turn a crisis around"A New Scientist é referência desde sua fundação nos anos 50. Seu site criado em 1996 é o décimo quarto no mundo no quesito de links recebidos. Para se ter uma idéia de sua popularidade, o site é o único de divulgação científica na lista de 100 mais acessados sites do mundo. A conseqüência disso é um incremento exponencial de acesso aos dois sites e o reconhecimento de um trabalho desenvolvido com alunos e voluntários. Vejam a matéria completa aqui. Abaixo coloco a foto da matéria.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Sensações e Realidade: Os Limites do Ronda Quarteirão

Vi na no jornal O Povo na coluna Vertical essa nota: “Sensação de Insegurança voltou à cidade” e pedia “Governador, reforça o Ronda”. Senti-me impelido a refletir sobre isso. Em vários textos comentei sobre o que acho necessário para avançarmos mais solidamente na questão da Segurança (nesse link aqui você encontra referências para uma seqüência de links onde refleti sobre o assunto). As deficiências da Polícia Civil, por exemplo, foram mencionadas aqui. Em setembro de 2008 escrevi sobre o Ronda Quarteirão (veja o artigo aqui) e de como, na campanha para prefeito, o tema tinha sido abolido das discussões. Naquele momento, o Ronda vivia o auge de sua popularidade. Os candidatos então ficaram sem espaço para propor uma política municipal. Hoje, somente alguns meses depois, a reação provavelmente já seria diferente. Já se pode ver os primeiros sinais de cansaço do Ronda. O projeto foi lançado como uma inovação no policiamento. Um cuidadoso trabalho de marketing preparou símbolos desde a compra de um carro imponente passando pela “filosofia” comunitária, novas fardas e mesmo pelo título “ronda quarteirão” que trazia ao inconsciente popular algo que as pessoas mais sonhavam: a pequena Fortaleza de outrora. Até os números de celular dos policiais o cidadão tinha. Nada mais inteligente para gerar a sensação de segurança. Não adiantava dizer que a implementação de policiamento comunitário com policiais dentro de uma viatura de luxo era algo contraditório. Nem de que a logística do chamado de ocorrência para um celular é deficiente, pois em um momento de emergência ela pode falhar. As pessoas estavam mais seguras, pois estavam vendo mais Polícia e se sentindo próximas a ela. Era o que interessava. Nem as causas as interessavam. E ainda mais, os policiais eram educados! Nossas carências são tão grandes que consideramos fantástico o fato do policial dizer bom dia e boa noite. Ocorre que a problemática é bem mais complexa e o tempo vai desgastando cada símbolo um a um. A interação entre sensação de segurança e segurança real é algo que desafia cientistas sociais, criminólogos, economistas e todos aqueles interessados na temática. O mais intrigante é que não adianta baixar os índices de violência sem trabalhar a sensação de segurança. E ainda mais, pode-se inclusive conseguir fazer o cidadão sentir-se seguro sem que ele o esteja (pois a probabilidade de ser vitimado é grande). Se já é complexo em teoria, imagine no contexto brasileiro onde o esgarçado tecido social e o degradado sistema legal (policial, penal e judicial) são ingredientes explosivos. Digo tudo isso, não com o mero objetivo de criticar o projeto Ronda. Só acho que é bom sabermos exatamente o que ele é e o que pode trazer. Enfim, quais seus limites. Sem dúvida que sua implantação foi benéfica a cidade no sentido de aumentar a força do policiamento ostensivo que era muito carente em Fortaleza. E fato, no entanto, que não se trata de policiamento comunitário. O próprio Secretário de Segurança , sempre que se refere ao programa, usa o termo policiamento de aproximação (não sei muito bem o que isso significa). Mas o mais problemático é o fato de que os avanços obtidos com o Ronda não foram acompanhados nas outras áreas do próprio sistema como nas Polícia Civil e Técnica e no sistema Penal e muito menos em ações preventivas e que exigem articulações interdisciplinares. A consequencia são prisões e cadeias super-lotadas e o aumento da violência (principalmente nos roubos). Já havia falado sobre a importância e a dificuldade de se implantar ações desse tipo aqui. Enquanto não avançarmos efetivamente nessa direção, reforços no Ronda farão cada vez menos a diferença.

terça-feira, 17 de março de 2009

Dados Oficiais e WikiCrimes

Uma das perguntas mais freqüentes que me fazem sobre WikiCrimes é se acredito que poderemos um dia ter uma base de dados com mais registros que as bases oficiais. Minha resposta é “não é isso que visa o projeto”. Não se trata de termos comparações em termos quantitativos. É claro que o cidadão se sente muito mais impelido a realizar um chamado ou queixa na própria Polícia do que em WikiCrimes. É ela quem deve tomar providências quanto ao fato, enquanto que WikiCrimes não vai poder resolver imediatamente seu problema. Lembro que por detrás do projeto há a idéia de solidariedade, pois a informação de que uma região é perigosa não é novidade àquele que denuncia, mas o é a outros que desconheciam essa informação. Por mais que sejamos altruístas, solidariedade não conseguirá competir com interesses individuais, né!? De qualquer forma, uma análise da validade das informações de WikiCrimes pode e deve ser feita por uma perspectiva qualitativa. Aí sim, diversas informações úteis, inclusive para as autoridades, podem ser extraídas. Por exemplo, este final de semana estive fazendo uma análise comparativa entre os dados oficiais de homicídio do CIOPS e os dados de WikiCrimes para a cidade de Fortaleza. Esse trabalho é parte de um projeto de pesquisa que desenvolvo na UNIFOR financiado pela FUNCAP. Para o ano de 2008, o CIOPS registrou cerca de 800 homicidios, mas destes somente 337 tinham o endereço georeferenciado. Endereço georeferenciado é quando o local está ligado a uma coordenada geográfica e assim pode ser marcado precisamente no mapa. Em WikiCrimes, em 2008 foram 572 homicídios registrados e obviamente todos eles são automaticamente georeferenciados (pois na hora do registro o usuário já faz o registro apontando o local no mapa). A conseqüência disso é que observar o mapa de homicídios a partir de WikiCrimes é mais informativo do que um mapa feito com as informações exclusivas do CIOPS. Vejam abaixo o mapa de manchas com homicídios acontecidos em Fortaleza em 2008. Somente esse fato já é um resultado significativo de WikiCrimes para a sociedade. Não me contento só com isso. Outras coisas virão.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Os Livros do O Leitor

Muito feliz a matéria veiculada no caderno Vida e Arte de sábado sobre os livros lidos no filme O Leitor. No filme, a relação entre os protagonistas é frequentemente permeada por cenas em que a personagem masculina (David Kross e depois Ralph Fiennes) lê livros em voz alta à personagem feminina (Kate Winslet). Voltando a matéria, ao lê-la pensei “o que me fez apreciar tanto essa matéria?” (além do fato de ter gostado muito do filme). Creio ter sido pelo fato da pertinência e da forma como ela foi produzida. Envolve contextualização (o fato do filme estar em evidencia), percepção ( do detalhe que permeia o filme, mas que não nos dedicamos a apreciá-lo), novidade (pelo fato de observar a leitura em “voz alta”que é quase inédita para adultos) e educação (pelo fato de se tratar de clássicos que merecem nossa leitura). A matéria faz um breve resumo de todos os livros “lidos” em voz alta no filme. Guerra e Paz, O Amante de Lady Chatterlay, Odisséia e todos outros que circulam no filme, não sem objetivo (pois quase sempre contextualizam algum momento), ganharam um breve resumo. Acho que aqui há um exemplo do bom jornalismo. Onde a perspicácia está presente, que, englobando diferentes perspectivas de diferentes disciplinas , dissemina cultura por osmose. Vejam a matéria completa aqui.

quinta-feira, 12 de março de 2009

WikiMapAid – Um Mapa de Ajuda Humanitária

Depois da criação de WikiCrimes recebi muitas propostas para fazer outros sites de natureza similar. Sempre recusei por que achava que a experiência de WikiCrimes é por si só muito rica e ainda me faz aprender bastante sobre a Web, inovação, além de proporcionar um riquíssimo ambiente para realização de pesquisas em computação. Isso evidentemente requer muito investimento de tempo que, aliás, meu dia a dia não me deixa esquecer. No entanto, uma proposta feita em Maio de 2008, há quase um ano, ficou sempre na minha cabeça. Rupert Douglas-Bate é um experiente trabalhador na tarefa voluntária de ajuda humanitária. Ele é fundador e presidente de uma ONG em Londres chamada Global Map Aid – GMA. Ao conhecer WikiCrimes, ele me mandou um email que descrevia ao mesmo tempo seu entusiasmo e emoção, pois acreditava que um site para mapear ajuda humanitária, ao estilo de WikiCrimes, seria de grande valia para sociedades que hoje sofrem tanta carência. Rupert garantiu-me que eu não teria nenhuma energia a gastar depois que o site estivesse pronto. Ele teria todo o trabalho de divulgar, articular a participação e manter o site (ainda não sei se isso será bem assim!). Uma proposta extremamente interessante, em virtude de seu valor sentimental, mas que não via como viabilizá-la. Mantivemos o contato por alguns meses e, durante esse tempo, Rupert sempre me enviava notícias, fotos e vídeos de situações críticas no mundo e de devíamos fazer algo. É incrível como somos desinformados da pobreza, fome e crueldades que vivem algumas pessoas principalmente em países africanos. Somos rápidos em criticar os países ricos por sua ignorância quanto aos problemas dos mais pobres. Não me parece que agimos muito diferentemente. Quando a situação no Zimbábue começou a se deteriorizar coincidiu com o momento em que consegui o apoio de Ricardo Rebouças. Ele é um ex-aluno de graduação e orientando de mestrado que acima de tudo, adquiriu esse entusiasmo por desafios como o que lhe propus. O resultado é o site WikiMapAid que estamos lançando essa semana(sempre em estado beta). A idéia é usar o site para mapear a situação em regiões carentes. Abrigos, hospitais, escolas, pontos de apoio para obtenção de comida e de água são algumas das áreas que podem ser mapeadas pelos trabalhadores humanitários espalhados pelo mundo. Abaixo uma figura do site. Infelizmente, a versão atual só será em inglês. Em breve, contamos ter uma em português. Acho que pode ajudar inclusive a mapear regiões críticas mesmo no País como nos casos de tragédias devido a intempéries e onde a logística deve ser mapeada e disseminada na população.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Clube da Esquina

O Clube da esquina foi um movimento musical que surgiu nas Minas Gerais, mas que ganhou fãs em todo o Brasil. Segundo a Wikipédia, considera-se que seus principais participantes tenham sido Tavinho Moura, Wagner Tiso, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Márcio Borges, Fernando Brant e os integrantes do 14 Bis. Uma dica para aqueles que quiserem saber mais sobre o movimento é o livro do irmão do Lô Borges, Márcio, entitulado “Os sonhos não envelhecem, histórias do clube da esquina”. Editora Geração Editorial. Deles, mais particularmente de Milton Nascimento, Márcio Borges e Lô Borges, vem uma das músicas mais bonitas que já escutei: Clube da Esquina 2. Abaixo uma gravação ímpar de Flávio Venturini e um vídeo com parte de um documentário sobre o movimento. Em homenagem a eles, a rádio personalizada do blog vai tocar músicas no estilo Fávio Venturini. Tem muita coisa boa de Elis Regina a Jorge Vercilo, passando, é claro, por Milton Nascimento. Escutem sem moderação.



terça-feira, 10 de março de 2009

Nunca na História Desse País...

Há quase um ano atrás, esse havia sido o título de um texto nesse blog (acesse-o aqui). Nele eu falava do quanto o setor de Ciência e Tecnologia brasileiro estava sendo inundado de dinheiro. Acreditava (e ainda acredito) que isso nunca havia acontecido. Meu objetivo aqui, infelizmente, não é tão positivo. Não posso deixar de refletir sobre o quanto a política brasileira chegou a níveis insuportáveis de nojeira. Sarney, Calheiros, Temer e agora Collor, tudo isso com o endosso do governo, é decididamente, de fazer nojo. Não há dúvida que Lula é um fenômeno eleitoral e que sua pessoa estará para a história desse País. Agora, não tenho dúvidas de que a contribuição para enlamear mais ainda o Congresso Nacional de seu governo, do PT e de tantos outros “esquerdistas” que buscavam se distanciar da pasmaceira que era a política brasileira (ou pelo menos diziam isso) é também inédita. O governo Lula e o PT conseguiram gerar um sentimento cada vez mais forte de que os políticos e a política brasileira são decididamente sem saída. A capitulação deles ao PMDB e aliados é um marco no País. Aqueles que se diziam guardiões da moralidade se tornaram os guardiões dos vilões. Teremos força para reverter isso? Não sei. O cidadão comum tem a sua disposição todos os argumentos que precisa para racionalizar toda e qualquer atitude não compromissada com os governos e com a sociedade. Nossa classe política é capaz de ser usada como argumento para perdoar todos os pecados. Lembro que uma das características marcantes dos golpes de Estado e tomada de poder por vias antidemocráticas é a fraqueza inconteste das instituições representativas da vontade popular. A postura de Lula face a tudo isso, me parece ainda mais simbólica. Vem-me a tona a dúvida sobre o quanto isso parece motivar sentimentos autocráticos (a la Chavez). Afinal de contas, no Brasil de hoje, estaríamos mais próximos de um golpe de estado de direita ou de um golpe branco que promovesse a permanência de Lula? Talvez esteja exagerando, mas a desilusão com a política faz-me realmente ver (o que espero ser somente) fantasmas.