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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Alugam-se Carros de Polícias

Rio de Janeiro e Minas Gerais deram um tom do que pode se alastrar pelo país. Terceirizaram suas frotas de veículos policiais (nenhuma Hilux!). Todas as viaturas operacionais são alugadas e o contrato prevê que os carros não podem passar mais de duas horas parados. Se quebrar, ou se repara ou se envia outro. Em conversa com o coronel comandante do policiamento de Belo Horizonte, ele me disse que, agora sim, podia planejar as ações e executá-las, pois sabe que vai ter os veículos disponíveis. Não tive acesso ao valor do contrato, mas me disseram que ele é bem salgado (como não poderia ser diferente). Essas polícias se resignaram e admitiram que não têm condições de realizar um gerenciamento eficiente de seus veículos. Pediram socorro. Minha constatação antes de ser uma crítica às policias, é uma felicitação pelo não corporativismo e humildade. Foram ao mercado e contrataram quem (teoricamente) sabe fazer melhor. A princípio, uma decisão lógica. A crítica que poderia ser feita é de que custa muito caro. No entanto, se formos quantificar o custo social de ocorrências não atendidas, creio que se paga. Quem vive no contexto policial sabe que o grande gargalo está no custeio. Em menos de um ano viaturas ficam sucateadas e falta dinheiro para qualquer pequena peça. Poderíamos nos questionar: não vai faltar dinheiro para pagar a locadora de veículos? Provavelmente, não. O que um governante mais detesta é colocar dinheiro em uma área onde ele sabe que tem desperdício e é mal gerenciada. Se pagar uma empresa significa a qualidade do serviço público, isso passa a ser prioridade e o dinheiro aparece. De qualquer forma, carece acompanhar as iniciativas para saber os resultados.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Android

Havia fortes rumores de que a Google fosse lançar um telefone celular, o que acabou por frustrar os ansiosos internautas e amantes de gadgets. O foco da Google é outro. Eles apresentaram uma plataforma aberta para desenvolver softwares em telefones celulares. Android é o nome desta plataforma. Com ela pode-se construir G-phones (Google fones). A idéia é começar a quebra a lógica atual de que cada telefone celular tem um software proprietário. Na verdade, essa lógica já vinha sendo desafiada com as iniciativas da Nokia e de outros grandes da telecomunicação (Siemens, Sony, Ericsson, Panasonic) com o sistema operacional Symbian. Para incentivar o desenvolvimento de aplicações em Android, Google lançou um prêmio de 10 milhões de dólares para quem desenvolver a aplicação mais interessante usando Android. Certamente será uma injeção de motivação nos desenvolvedores pelo mundo afora. Vejam que essa iniciativa é emblemática da maneira com que Google faz negócios. A aposta é de que em breve Google será tão importante para o mundo dos celulares como é para o mundo dos computadores (afinal, telefones são computadores, não?). Vejam abaixo o vídeo de lançamento (em inglês) de Android por Sergey Brin (um dos donos da Google).

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Mapeamento Criminal em Debate Na Escola de Saúde Pública

Na semana passada fui convidado para participar de uma mesa de debates com a Profa. Glaucíria Brasil e com o Dr. Luis Carlos Galvão médico legista de Salvador. Excelente iniciativa da Escola de Saúde Pública, pois a Segurança é um problema multidisciplinar e a área de saúde é uma das que mais sofre as conseqüências da falta de políticas efetivas na área. O Dr. Mário Mamede me disse que a cada cinco minutos chega um motoqueiro acidentado ao IJF (que não vêm só de Fortaleza). Foi igualmente uma ótima oportunidade para que eu pudesse disseminar os conceitos de mapeamento criminal e de como isso pode ser útil como ferramenta de gestão pública. A Segurança tem o que aprender com a Saúde. Desde a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), uma cultura de coleta e análise de dados se criou e hoje dados sobre o sistema de saúde são bem mais confiáveis do que os dados da Segurança. Não é a toa que muitas vezes o Ministério da Justiça recorre às estatísticas de homicídios vinda do SUS ao invés das que vêm das polícias estaduais.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Economia Criativa na FIEC

Imperdível o evento que ocorrerá na Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC na semana que vem (26, 27 e 28 de novembro) sobre Economia Criativa. Considero que esse tema, já abordado neste blog (clique aqui e aqui para ler o que foi escrito), deve fazer parte, com prioridade, das políticas públicas em todas as esferas de poder. Na verdade, o interesse pelo tema não se resume aos entes públicos. O setor produtivo já compreende que existem possibilidades interessantes de negócio que começam a surgir, pois se trata de eixo fundamental na questão da inovação. A idéia básica é criar condições de agregação de valor ao potencial criativo das atividades culturais fazendo uso de gestão qualificada, novos meios tecnológicos e marketing agressivo para atingir mercados globais. No evento da FIEC estarão expoentes nacionais e internacionais no tema que discutirão sobre assuntos diversos como a questão das políticas transversais de cultura e inovação, experiências e casos de sucesso, perspectivas de mercado, geração de empregos e renda, para citar alguns. As inscrições podem ser feitas no site (clique aqui para acessar). Aliás, vale a pena mencionar que a iniciativa do evento partiu das organizadoras do festival de Jazz e Blues de Guaramiranga e que se credenciam cada vez mais como representantes legítimas da nova cultura empreendedora e que a economia criativa requer.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O Trabalho é de Nossa Natureza?

Acabei de ler um artigo no Le Monde Diplomatique edição especial sobre o trabalho. Já mencionei algumas vezes nesse blog o quanto gosto deste jornal mensal. É bem verdade que ele tem um viés de esquerda tão forte que o torna, às vezes, pouco crível. No entanto, não se pode discordar de que o mesmo possui dossiês muito bem realizados sobre temas muito pouco explorados na mídia convencional. Voltando a questão do trabalho, o jornal faz um apanhado deste conceito por diversos pontos de vista. Desde o aspecto histórico até a questão econômica e política do trabalho de trinta e cinco horas na França, todos esses aspectos são abordados. Mas a pergunta mais polêmica é: o trabalho é algo inerente a nossa natureza? Essa é a pergunta de fundo que dá o tom do dossiê e que o jornal coloca a um conjunto de entrevistados. Há aqueles que argumentam que em termos biológicos não há nada que leve a conclusão que trabalhar faz parte de nossa natureza. Eles dizem que somos talhados para não fazer nada! Trabalho só quando é necessário subsistir. Uma abordagem histórica mostra que trabalhar e dizer que isto é da natureza humana vêm sendo sempre usado pelas classes dominantes, seja através da religião, seja através de mecanismos mais elaborados que passaram a ser difundidos com a revolução industrial (mídia, por exemplo). Interessante que nesse campo, comunismo e capitalismo se encontram: trabalho é necessário e devemos louvá-lo. Karl Marx considerava o trabalho como algo da constituição humana. Nem precisa dizer o quanto o capitalismo precisa de nossa dedicação ao trabalho. Não é a toa que o no país mais rico do mundo o trabalho seja tudo (nem férias existem). Mas é bem difícil refletir racionalmente sobre o trabalho, algo que nos domina tão integralmente. Algo que nos faz sentir felizes ou tristes com uma volatilidade enorme. E aqueles que não conseguem trabalho? Podem se considerar os normais e não se sentirem desintegrados da sociedade? Claro que não, dizem outros especialistas, mais afeitos as recentes teorias que consideram o aspecto da auto-realização humana como sendo de nossa natureza e que por conseguinte, elegem o trabalho como um dos instrumentos mais importantes para atingirmos essa realização. Tudo bem discutível e polêmico. Mas, enfim, adorei a leitura desses textos e do dilema que me causou. Estive percebendo como tenho estado determinístico e racional em minhas reflexões. Há sempre conclusões conclusivas (desculpem-me o pleonasmo. Ele é intencional). Esse assunto consegue me deixar totalmente incerto. Paradoxalmente, de tão incerto, ele só serve para me levar a uma conclusão óbvia e clichê (mas sincera por ser exatamente o pensamento que me vem a cabeça) : o trabalho não é tudo.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Dirigindo em Rond Points


Rond point é o nome em Francês para os giradores ou rotatórios que encontramos em algumas cidades brasileiras. São usados para controle de tráfego em cruzamentos. Escolhi o nome em francês pelo fato deste tipo de controle de tráfego ser bem típico na França. Quando morava lá, sempre me surpreendia como o trânsito fluía bem e pude conviver com alguns giradores que possuem mais de 10 avenidas. O mais popular é sem dúvida L´Étoile (A Estrela) onde está o Arco do Triunfo (ver foto acima), e chegam doze avenidas. Isso mesmo, doze (veja o mapa acima). Mesmo nesses gigantescos, a coisa funciona (e sem abalroamentos, diga-se de passagem). Por outro lado, fico extremamente intrigado como aqui em Fortaleza somos tão “amarrados” em rond points. Decididamente é um problema cultural. E olhe que não se trata de coisa nova, por estas paragens. Parece-me que os cearenses não conseguem compreender a lógica do rond point. A idéia básica é de que normalmente se pode entrar na roda sem ter que parar. Basta reduzir a velocidade. A contrapartida dos que já estão na roda é uma direção lenta e atenta para permitir a entrada dos outros. Outra estratégia é saber se posicionar no lado interno ou mais externo da roda. Só se deve ir para o lado externo quando se quer sair da roda. Isso evita o bloqueio da entrada dos outros. Os engarrafamentos que vivenciamos nos nossos rond points demonstram nossa incapacidade de dirigir nesses instrumentos. Quase que diariamente, enfrento um desses engarrafamentos no rond point recentemente construído na entrada da BR-116 (na praça Manuel Dias Branco). Para piorar, a prefeitura, periodicamente decide colocar guardas para fazer o papel de semáforo e “controlar” o trânsito. Como era de se esperar, aí é que o negócio fica ruim. Claro. Colocar semáforos é totalmente contrário a filosofia. Não desespero. Nada que um programa de cultura cidadã não consiga mudar.

Franceses no Brasil

Estive semana passada no Rio de Janeiro participando de um workshop (nome em inglês para seminário) com pesquisadores sobre um dos temas de minhas pesquisas: simulações e negociações entre agentes de software. No entanto, não é do aspecto técnico que desejo falar nesse texto, mas de outro aspecto que me chamou fortemente atenção. Dentre os pesquisadores participantes do workshop (e outros que conheci em outras circunstâncias) havia quase uma dezena de franceses. Nada fora do normal, pois os franceses têm cientistas de gabarito nessa área de pesquisa. O que me surpreendeu, primeiramente, foi o fato de que todos falavam muito bem o português. Além disso, estavam morando no Brasil, já há algum tempo. A maioria trabalha em uma entidade chamada CIRAD (Centre de coopération International de Recherche em Agronomique pour le Dévelopment – Centro de Cooperação Internacional de Pesquisa em Agronomia para o Desenvolvimento). Trata-se de uma instituição criada para desenvolver projetos de pesquisa científica em regiões subdesenvolvidas e/ou em desenvolvimento em várias áreas de expertise ligadas a agronomia. No caso dos pesquisadores do workshop, eles eram ligados a área de meio ambiente. Pude conhecer trabalhos muito interessantes relativos a preservação ambiental seja na Floresta Amazônica, na floresta da Tijuca e mesmo de preservação da qualidade da água em bacias hidrográficas no Estado de São Paulo. Trata-se de um exemplo louvável de transferência tecnológica. Os pesquisadores franceses trazem suas experiências teóricas e, juntamente com pesquisadores brasileiros, vão literalmente a campo para a aplicação de modernas tecnologias investigadas nas Universidades e nos centros de pesquisa. Grande parte dos recursos vem da Comunidade Européia que oferece periodicamente propostas de financiamento a fundo perdido para equipes compostas de pesquisadores europeus com pesquisadores de países em desenvolvimento.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cultura Cidadã e Ordenamento Urbano

Mais do que feliz os comentários produzidos na coluna política do Jornal OPovo pelo jornalista Fábio Campos em 15 de Novembro de 2007. Ele descreve o quão fácil é encontrar irregularidades na ocupação dos espaços urbanos na cidade e de como o poder público convive inerte a essas irregularidades. Seus comentários foram ainda mais felizes por ter relacionado a incapacidade administrativa com o aspecto da cultura cidadã. São exatamente esses dois aspectos que devem ser os pilares de qualquer um que se proponha a fazer administração pública. Como já tenho enfatizado em textos anteriores (digite cultura cidadã no canto esquerdo superior onde tem um espaço para texto e tecle PESQUISAR BLOG e veja todos os textos que já escrevi sobre o tema). Considero a cultura cidadã um aspecto transversal a todas as outras ações a serem empreendidas. Mas enfatizo que não se trata aqui de um discurso meramente retórico. Concomitantemente, com a cultura cidadão, e também de uma forma transversal, vislumbro um sistema de gestão moderno, profissional (baseado em servidores públicos com competência) e imune às ingerências politiqueiras. Desta forma, se pode efetivamente realizar ações que transformem a cidade. Essa transformação significa mudar o espaço físico (usando o termo cada vez mais popular da informática, o hardware) bem como a mentalidade, a cultura de nosso povo (o peopleware).

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Fórum Brasileiro de Segurança Pública em Recife

Estive esta semana em Recife participando da reunião do conselho de administração do Fórum Brasileiro de Segurança. Dentre os assuntos discutidos começamos a nos preparar para o Encontro Anual que será realizado em Março de 2008 em Recife. O governo do Estado de Pernambuco foi representado por seu vice-governador. Numa conversa muito amistosa e agradável pude constatar um mesmo sentimento que já vinha percebendo em outros governantes: há uma enorme ansiedade por soluções na área. O vice-governador, João Lyra, sugeriu que os especialistas que compõem o Fórum propusessem linhas de ações a serem seguidas pelos governos, em especial as ações que possam ser implantadas por prefeituras. Senti dele um enorme interesse de conhecer mais sobre os problemas que afligem as polícias e sobretudo sobre as soluções que podem auxiliar a reduzir a criminalidade. Ele enfatizou que o governador pernambucano, contrariando a sugestão de marqueteiros (sic), decidiu tomar para si o problema da Segurança. Percebam que uma frase desta só serve para confirmar nosso diagnóstico feito em textos anteriores que os problemas que vivemos na segurança pública nos dias atuais foram frutos desta postura omissa de nossos governantes (que ainda são, nos dias atuais, aconselhados por marqueteiros a agir dessa forma!). Felizmente, esta postura de envolvimento parece-me cada vez mais difundida na nossa política. É uma boa notícia pois é o primeiro passo para um processo de mudança. Mas é um passo muito pequeno. Por outro lado, fica cada vez mais claro o quanto estamos tateando no escuro ao tentar resolver problema tão complexo. Já escrevi sobre como o problema requer soluções multidisciplinares com ações transversais, continuidade e muita qualidade gerencial. Fortalecimento das instituições de forma que elas possam realizar suas atividades dentro de condições corretas. Tudo isso é muito abstrato, lento e dificílimo de ser implantado. Deixa políticos e mesmo cidadãos mais inquietos cada vez mais ansiosos. Mas entendam que, dada a dimensão dos problemas existentes, não há como ser diferente. Por exemplo, no mesmo instante que estávamos reunidos, eclodia uma rebelião no maior presídio da America Latina que se encontra na região metropolitana de Recife e que abriga mais de 4000 detentos (onde só há vaga para 800!). Dá para perceber o tamanho do problema, não? Se lamentar e se queixar porque se chegou a esse ponto não adianta de nada. Há que se construir mais presídios e que os mesmos sejam feitos dentro de condições que permitam ações de ressocialização e tratamento digno aos detentos, mas ao mesmo tempo possuam mecanismos de controle e segurança rigorosos. Isso é lento, requer planejamento além de requerer contratação de pessoal qualificado e bem remunerado que deverá assumir os novos postos de trabalho. Por mais bem intencionado que seja o governante, em um só mandato é impossível resolver o problema definitivamente. Por isso insisto tanto que temos que pensar em soluções em longo prazo e que tenham continuidade independentemente de mudanças governamentais.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

As Oportunidades e Desafios do Desenvolvimento de Software Off Shore

Em julho escrevi sobre os desafios do desenvolvimento de software off shore (ver aqui o texto). Só lembrando, este termo refere-se à prática de empresas terceirizarem algumas de suas atividades em países onde o custo do serviço é reduzido. O desenvolvimento de programas de computadores, os serviços de telemarketing e mesmo as atividades ditas Back Office (contabilidade, logística, cobranças, etc.) são exemplos de serviços que cada vez mias passam a ser exercidos na modalidade off shore. Esta semana tomei conhecimento de um relatório recente produzido pela empresa de consultoria AT Kearney que faz uma análise de que países têm mais potencial para atrair investimentos em serviços off shore. Os quatro primeiros colocados continuam sendo asiáticos com Índia e China encabeçando a lista nessa ordem. A grande novidade é o Brasil que era o décimo colocado em 2005 e, agora em 2007, é o quinto. A análise da AT Kearney baseia-se em três critérios: financeiro, pessoal e ambiente de negócios. No aspecto financeiro se analisa o custo da mão-de-obra, impostos e outros fatores que afetam o custo do serviço. Quanto ao aspecto das pessoas, busca-se analisar a qualidade da mão-de-obra como no nível de fluência em diferentes línguas, a quantidade de pessoas com nível superior e indicadores de educação básica em geral. Por fim o critério referente ao ambiente de negócios analisa o quanto o mercado local é regulado, quão sólidas são as instituições governamentais, inclusive o judiciário e a lei de falência, quão presente é a cultura de proteção de direitos autorais (antipirataria) e outros fatores que podem tranqüilizar ou preocupar um investidor externo. Ao analisar os índices brasileiros para esses critérios fica evidente que o nosso grande desafio refere-se à pessoal qualificado. O Brasil tem uma grande desvantagem no que se refere aos serviços de telemarketing que é a língua. Mesmo grandes conglomerados latinos não consideram o Brasil o primeiro alvo para investimento, pois preferem países de língua espanhola. Esta é uma das razões pela qual o desenvolvimento de software passa a ser o setor mais promissor. O Brasil já tem uma história no setor, mas sofre da carência de pessoal em quantidade que venha a abastecer as demandas do mercado internacional que são grandes. Esse tinha sido exatamente o diagnóstico que tínhamos feito no texto anterior supramencionado, em particular, quando nos referimos ao contexto cearense. Infelizmente, deficiências desta ordem não são rapidamente sanadas. Pode-se até construir prédios, fornecer banda larga e dar incentivos fiscais. Formação de pessoal, no entanto, demanda tempo. Melhor começar logo!

domingo, 11 de novembro de 2007

Vamos Andar em Guaramiranga!

Na minha visita fim-de-semana passada à Guaramiranga além da possibilidade de conviver com o mundo das corridas de fundo (veja texto aqui), pude visitar novamente a cidade depois de quase dois anos. A última vez tinha sido antes de minha ida ao pós-doutorado na Califórnia. Nessas últimas duas vezes tivemos (Beth e eu) o prazer de ser ciceroneado por casais amigos e capazes de recepções bem calorosas (muito embora no frio). Silvia e Tonguinho, Ana e Cláudio, e Ruth e Alberto são responsáveis por nossa imagem agradável e sempre nostálgica de Guaramiranga. No entanto, não posso deixar de demonstrar minha indignação com um aspecto na cidade que me salta os olhos. Presenciei um exemplo marcante de como estamos indo na contramão do mundo no que se refere ao uso dos espaços das cidades pelas pessoas com automóvel. O centro charmoso de Guaramiranga possui uma praça cortada por uma rua principal e circundada por outra via. Nele estão restaurante, bares, teatros onde se concentram os principais eventos da cidade. A passagem de carros é permitida nas duas vias, embora durante alguns eventos, a rua principal seja fechada aos veículos. Na via secundária além do tráfego é permitido o estacionamento de carros que se amontoam nas calçadas e o tráfego é confuso e muitas vezes impossível. É um claro exemplo de falta de planejamento urbano. Um projeto de reordenação com a criação de estacionamentos públicos ao redor da praça e com a completa proibição de estacionamento na via secundária não é, de forma alguma, difícil de ser feita. A via principal deveria ser totalmente dedicada aos pedestres. As distâncias na cidade são muito curtas e os percursos entre os restaurantes, principalmente os do centro é curtíssimo. Vale lembrar ainda que os efeitos deletérios desse desordenamento não se resumem ao caos do trânsito, mas igualmente a poluição em todos os níveis, que, em se tratando de Guaramiranga, é devastador. Há que se induzir a descoberta da cidade a pé. Aliás, caminhar na cidade com seu clima ameno é um dos charmes que todo visitante deveria conhecer. Temos muito que aprender com os países europeus que são habituados a proteger seus pequenos vilarejos dos carros e da ocupação desordenada. Para exemplificar, lembrei-me de duas cidades francesas que seguem a mesma filosofia de controle do tráfego de veículos. Uma cidade que me foi lembrada por um amigo e que tive a oportunidade de visitar várias vezes na França foi Baux de Provence(veja o site oficial da cidade aqui). Uma cidadezinha charmosa construída em cima de uma grande rocha. Os visitantes quando chegam à cidade são levados a um estacionamento onde deixam o carro e podem conhecer a cidade a pé. Outra cidade, também na Provence (interior do sul da França) que segue a mesma idéia é a cidade histórica medieval Le Castellet (acesse o site do Castellet clicando aqui). Vejam que essas cidades já são estruturadas desta forma há mais de 10 anos. Teria inúmeros outros exemplos de projetos em que os cidadãos são privilegiados em detrimento aos carros. Nosso subdesenvolvimento nessa área é patente.

sábado, 10 de novembro de 2007

Pop Rock com Phil Collins

Estou mudando um pouco o estilo da rádio personalizada ao lado. Depois do Jazz com Lizz Wright e FourPlay vou passar para algo mais "popular". Um pouco de rock com Phil Collins. Abaixo posto um vídeo deste artista em um concerto em Paris. Cantando "take me home" ele consegue entusiasmar a multidão (olhe que entusiasmar francês não é muito fácil!). No começo do vídeo ele demonstra sua habilidade na bateria. Aliás para os amantes deste instrumento, no mesmo concerto há um solo de bateria que também vale a pena ver (clique aqui para acessar): Phil Collins on the drums.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Cooperação Empresa com Universidade: Porque é Tão Difícil?

Há alguns dias atrás participei de uma reunião promovida pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia que tinha o objetivo de aproximar as empresas de Tecnologia da Informação (TI) do Estado às Universidades e a seus laboratórios de pesquisa. A metodologia empregada foi a de que cada laboratório exporia seus projetos e potencialidades para que os empresários pudessem identificar interesses em cooperação. As apresentações dos laboratórios me foram muito úteis, pois não conhecia o que estava sendo feito em boa parte deles. Principalmente os laboratórios da UFC do departamento de teleinformática. Embora necessária, a efetividade da aproximação Universidade-Empresa através de um maior conhecimento de suas competências é somente a ponta do iceberg. Creio que podemos olhar para o problema sob dois pontos de vista. Primeiro, há uma questão financeira. Pesquisas científicas requerem investimento, não são baratas e não dão resultado a curto prazo. Em se tratando do mercado cearense, que é majoritariamente formado por pequenas e médias empresas, recursos privados para pesquisas não são de forma alguma fáceis de serem obtidos. A margem de manobra das empresas é pequeníssima e ainda por cima, não custa lembrar, pesquisa embute um risco que as empresas quase nunca se sentem confortáveis em bancar. Depende-se assim fortemente de uma política governamental de indução a cooperação e que envolva recursos públicos. Os recentes investimentos do Governo Federal em subvenções econômicas às empresas privadas é um exemplo de como isso pode ser feito. O outro ponto de vista refere-se ao aspecto metodológico de como a cooperação pode ser feita efetivamente. Nesse aspecto, considero que a forma mais efetiva de cooperação deve envolver sempre que possível a imersão do pesquisador dentro da Empresa. Ele precisa conhecer o negócio da Empresa, suas potencialidades e seus problemas. Isso é fundamental porque a descoberta de um problema (em termos científicos) é uma das etapas cruciais do processo de pesquisa. Tenho visto muito freqüentemente os empresários buscarem na academia soluções para problemas que os mesmos identificam nas suas Empresas. Em sua grande maioria trata-se de problemas que podem ser resolvidos com a adoção de uma tecnologia adequada. Não deixam de ser importantes para a Empresa e podem otimizar suas operações, mas não se caracterizam como problemas de pesquisa e que, ao serem resolvidos, podem dar um diferencial competitivo significativo. Já mencionei em texto anterior (acesse-o clicando aqui) como algumas empresas estão criando um conselho de ciência e tecnologia e colocando pesquisadores acadêmicos para fazer parte do mesmo. Se provermos soluções para os problemas apresentados sob essas duas óticas, a aproximação será muito mais fácil. Na verdade, sou bem otimista quanto a essa aproximação, pois é exigência do mercado globalizado. Vale a lembrança do que também já mencionei no mesmo texto supra-referenciado. O maior motor de indução da aproximação universidade-empresa é a competição do mercado que vai exigir inovação em todos os níveis das organizações. Quem não investir nisso, não sobreviverá muito tempo.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Carteira de Identidade: Será Mais Uma Idéia Estragada?

A carteira de identidade é o documento mais importante do cidadão. A premissa básica da sua existência é de que ele serve para garantir a unicidade de uma pessoa. Ou seja, de que o cidadão é ele mesmo e que não há ninguém mais com aquelas características físicas. A verificação dessa unicidade é feita através da checagem da impressão digital pelos técnicos do Instituto de Identificação. Esse técnico, chamado de papiloscopista, desvenda as características das impressões digitais para que uma pessoa não possa retirar uma carteira duplicada ou com outro nome. O grande problema de boa parte dos Institutos de Identificação no Brasil é que, com o crescimento populacional, o volume de impressões digitais cresceu muito e a verificação técnica manual, em fichas impressas, ficou cada vez mais demorada. A entrega de uma carteira em alguns locais do país chega a demorar mais de um mês. Nossos governantes no afã de dar uma resposta ao cidadão decidiram promover o acesso a carteira com mutirões de serviço público e com a criação de centrais de atendimento tipo casas do cidadão. Exigiram agilidade na entrega de forma que a carteira fosse entregue, se possível, imediatamente. Essa agilidade acabou vindo, mas com um ônus bem precioso: a perca de confiabilidade da carteira. Para que as carteiras fossem entregues imediatamente, em muitos locais do Brasil, praticamente se extinguiu a verificação da impressão digital. De uma forma geral, a população não sentiu o problema, muito pelo contrário, por desconhecimento, aprovou as medidas de agilidade do atendimento. Os sistemas informatizados de impressão digital começaram a surgir no mercado e vieram trazer um novo alento para que a carteira pudesse novamente ser tirada com confiabilidade e em prazo aceitável. Foi seguindo essa direção que o Instituto de Identificação do Estado do Ceará implantou recentemente um novo sistema de emissão de carteiras de identidade. Ele traz algumas melhorias como o fato do cidadão não precisar mais pagar a foto, pois a mesma é tirada diretamente pelos computadores do Instituto, e o fato de que as impressões digitais e as assinaturas serem coletadas por equipamentos eletrônicos o que permite a digitalização e o tratamento dessas informações pelo computador. Mesmo como essas melhorias a entrega da carteira, durante um bom tempo, não poderá ser feita imediatamente. Enquanto todo o banco de dados de impressão digital não estiver no sistema novo, a entrega de uma carteira confiável deve exigir pelo menos cinco dias úteis. Creio que esse tempo é aceitável, desde que, evidentemente, a população estivesse informada do porque da espera e dos benefícios de tê-la. Aqui começam os problemas. Não houve nenhum trabalho de comunicação com o cidadão na mídia de forma que se compreendesse a nova sistemática. Além disso, a quantidade de atendentes do Instituto de Identificação é bem menor do que a necessária para atender a todos os pedidos e, por isso, filas enormes se formam diariamente. O número de papiloscopistas também não é suficiente e o prazo de cinco dias não vem podendo ser cumprido. Presenciei a implantação do novo sistema no Instituto de Identificação e verifiquei que urge um investimento nesses setores e também uma reformulação nos processos de atendimento permitindo a realização de marcação de atendimentos e a realização de procedimentos pela Internet. Como essas coisas não acontecem rapidamente, vemos, de mais em mais, opiniões de que o sistema de identificação é ruim e que outro precisa ser adquirido. Nem se passaram seis meses de implantação e já se corre o risco de mais uma boa idéia ser estragada.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Carreiras e Corridas

Estive neste fim de semana em Guaramiranga participando de uma corrida de longa distância que me permitiu conhecer mais intimamente o ambiente que envolve essa prática que vem se propagando fortemente no Brasil, em especial, em Fortaleza. Experimentei o sentimento que move os entusiastas e pude refletir sobre alguns aspectos que me parecem interessantes deste contexto. Mesmo não sendo muito afeito a modismos, reconheço que neste caso, em particular, só identifiquei benefícios. Obviamente, o maior deles refere-se aos impactos positivos na saúde dos esportistas, conseqüência direta da prática de esporte. Impossível não sublinhar que os aspectos estéticos, por serem tão cultuados em nossa sociedade (veja texto sobre isso aqui), também se constituem resultado e motivação, principalmente nas mulheres que, aliás, comparecem em grande massa. Ao buscar aprofundar a busca de por que desta febre maratonista, identifica-se que as corridas de longa distância têm algumas características bem peculiares e que potencializam sua popularidade. Elas não requerem equipamento nem local especiais para sua prática. São ainda extremamente democráticas, pois todos podem praticá-las: congregam tanto homens como mulheres, profissionais e amadores, jovens e velhos, e de qualquer classe social. Não exigem dos eventos maiores preparações nem tratamentos diferenciados. Poucos esportes podem, por exemplo, realizar uma competição com todas as categorias juntas em um mesmo local e ao mesmo tempo. Vi muitas famílias correndo juntas, com pais e filhos e até avôs participando. Esta diversidade favorece sentimentos de companheirismo e fair-play emocionantes. Os corredores se ajudam e dão força uns aos outros. Nos treinamentos semanais os mais dedicados se juntam em grupos e formam equipes. Nutrem-se assim do componente social que originalmente não está presente na corrida que é eminentemente um esporte individual. A competição (estritamente falando) se restringe aos profissionais que disputam os primeiros lugares. A grande maioria dos corredores está buscando competir consigo mesma. Buscam quebrar seus próprios recordes e limites. O público que acena e aplaude em todo o trajeto dá ainda outro tempero especial ao evento. O segundo aspecto que me saltou os olhos foi de como esses eventos esportivos estão se tornando um negócio lucrativo. Não me refiro exclusivamente ao negócio para aqueles que promovem as corridas, mas principalmente às cidades onde elas se desenrolam: o negócio do turismo esportivo. Os esportistas se articulam para participar das corridas e para conhecer os sítios onde elas se desenvolvem. Essa prática já era habitual quando se falava das grandes e tradicionais corridas como as de New York e São Paulo (São Silvestre). Com a popularização das corridas e com o aumento do número de praticantes, há um nicho a ser explorado pelas cidades de outros portes. O evento deste fim de semana em Guaramiranga demonstrou isso muito claramente. Mais de quatrocentos corredores levaram, certamente, pelo menos o dobro de pessoas à cidade. Trata-se assim de uma ótima oportunidade para as cidades que querem expor suas potencialidades. O momento atual é de euforia dos praticantes e o número de adeptos cresce diariamente. Mesmo após um recrudescimento, que me parece normal que aconteça, com perdão do trocadilho: há carreira nas corridas!

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Ducentésimo

Os números são símbolos e é comum nos referirmos aos mesmos como marcos de momentos importantes de nossa vida. Não vou fugir a essa regra. Esse texto é o de número 200 deste blog. Penso se tratar um marco. Vejam o que foi escrito no meu primeiro texto, quando ainda estava na Califórnia.

Decidi criar meu blog. Depois de algum tempo relutando se deveria fazê-lo, decidi começar. Vários fatores me fizeram relutar. Creio que minhas dúvidas são as de muitos outros ao iniciar: será que alguém vai ler? Será que terei fôlego para manter a interação? Terei fôlego para mantê-lo atualizado? Custou um pouco para perceber que estas perguntas não tem muito sentido. Não tenho obrigação com ninguém, e por isso mesmo não tenho obrigação de mantê-lo atualizado nem de responder a todos que me interroguem. Além disso, não me cobro ter coerência em tudo o que digo, nem estar correto sempre. Escreverei com o nobre sentimento de puder dizer o que sinto e o que penso. Sem ambições, nem pretensões. Só pelo prazer de falar e quiçá de conversar. Vamos ver no que vai dar.”

Pois bem, fazendo um balanço destes quase 11 meses de blog, não me canso de dizer como foi e está sendo uma das experièncias mais enriquecedoras que já tive. Há evidentemente o prazer de escrever e o prazer de estar interagindo. Sinto que tenho uma audiência cativa e uma eventual como todo blog. No entanto, o mais interessante é que percebo um efeito colateral que certamente mudou minha maneira de ser. Passei a observar mais o mundo ao meu redor. Tudo merece mais minha atenção. Creio que estou escutando mais também. Estou sedento por mais informações e opiniões. Sempre gostei de aprender e estudar, mas agora, estou invadido por um sentimento de aprender de tudo, por todos e em todas as circunstâncias. Meus receios de não ter fôlego para manter o Blog não existem mais. Enfim, aos que me seguem, obrigado pela participação e vamos em frente rumo 400.