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segunda-feira, 31 de março de 2008

WikiCrimes no II Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Estive em Recife desde quarta-feira participando do II Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em particular, atuei na mesa redonda sobre Produção de Dados e Conhecimento para Segurança Pública. Foi minha primeira oportunidade de apresentar WikiCrimes para uma platéia formada basicamente por agentes da área de Segurança Pública. Descrevi os objetivos do projeto e demonstrei seu funcionamento para um público atento e que realizou diversas perguntas. Sabia que a tarefa não seria simples, pois trata-se de um projeto que acaba por contrariar uma cultura difundida nas instituições de segurança que se caracteriza por falta de transparência e excesso de centralização. Uma pergunta recorrente me foi feita após minha apresentação sobre se as informações sobre crimes publicadas em WikiCrimes não poderiam ser usadas por pelos próprios criminosos em benefícios deles mesmos. Acho que vale a pena elaborar um pouco mais a resposta para essa questão. Uma das teorias mais referenciadas no meio acadêmico da criminologia é a teoria das atividades rotineiras (RAT – Routine Activity Theory, Felson 1979). Essa teoria formaliza algo que se pode compreender de forma fácil e intuitiva, qual seja: ocorrência de crimes depende da convergência de um agressor (motivado a cometer o crime) e uma vítima (em condição de vulnerabilidade e atratividade) em um determinado espaço geográfico. Em outras palavras, não há como haver um crime sem que essas condições ocorram (vejam que essa teoria não se aplica para crimes cibernéticos ou mesmo as extorsões por telefone, muito comum nos dias atuais, por exemplo). Pois bem, o que a RAT diz é que a convergência desses três fatores (agressor, vítima e local) depende das atividades rotineiras tanto da vítima como do agressor. Ou seja, se as rotinas dos dois coincidem com freqüência , há uma probabilidade maior de um crime ocorrer do que se essas rotinas não coincidem. Ocorre que quem tem o poder da informação e da surpresa é o agressor. Ele tem a possibilidade de decidir se um crime ocorre ou não além de poder inclusive planejar sua ocorrência, observando a rotina da vítima, por exemplo. O cidadão, como não tem a informação a seu dispor, não pode fazer muito. Ao fornecer informações sobre locais onde deve-se ter cuidado, WikiCrimes auxilia o cidadão a evitar a convergência dos fatores do RAT. Mas e essa mesma informação também seria útil a um criminoso? Provavelmente, não, mas para ser mais convinente ainda, deixem-me dizer-lhes ainda outra coisa bem conhecida no contexto da criminologia. Há locais que são mais freqüentemente alvos de crimes do que outros e um dos fatores que leva a isso é que os agressores, exatamente por terem a condição de estudar o local e planejar suas ações, sentem-se mais confortáveis em cometer crimes em locais que conhecem do que locais onde não tem algum conhecimento. Por isso, que digo que saber onde o crime ocorre com freqüência não é relevante para o criminoso. Há muitas outras informações mais úteis e que ele já as tem como obter diariamente como os hábitos das vítimas, as rotas de fuga, horários de desguarnecimento., etc. Mesmo que pudéssemos duvidar dos argumentos que apresento, há que se concordar que toda informação pode ser usada em benefício próprio tanto para o bem como para o mal (como, aliás, é fato para todas as grandes invenções da humanidade). Nas circunstâncias atuais, o cidadão de bem é o mais prejudicado com a falta de informação incentivada pela prática da cultura centralizadora e pouco transparente que hoje prevalece. Para finalizar, devo dizer que as polícias no resto do mundo já perceberam isso e divulgam o máximo de informação sobre os crimes na Internet. Dois exemplos disso são os sites (www.chicagocrime.org e http://topeka.org/crimestats/Map.aspx).

quinta-feira, 27 de março de 2008

Harrods

Voltando a falar de momentos da recente viagem a Europa, não posso deixar de mencionar como fiquei espantado ao visitar a Harrods em Londres. Foi a primeira vez que fui a essa loja de departamento que certamente merece estar presente em qualquer roteiro turístico. Cerca de 300 mil pessoas a visitam em momentos de pico como o Natal. As lojas são extremamente luxuosas. Seu mercado que é integrado a um pequeno restaurante é extraordinário . Difícil encontrar uma decoração tão extravagante e luxuosa. Os produtos vendidos são exóticos, caros e sempre envoltos em decorações marcantes. Vejam algumas fotos que tirei dos ambientes para terem uma idéia da decoração. Só não dá para comprar nada. Mesmo com o Real forte, a maior das extravagâncias seria usá-lo com tanta futilidade.



quarta-feira, 26 de março de 2008

WikiCrimes e a Associação de Seguradores de Automóveis

Esta semana WikiCrimes ganhou efetivamente um novo parceiro. A Associação de Corretores de Seguros de Automóveis do Ceará (ASCOR) encampou a idéia. Seus mais de cem afiliados vão começar a registrar roubos e furtos de veículos que tiverem conhecimento e ainda distribuirão panfletos descrevendo WikiCrimes em cada apólice de seguro que venderem. Os panfletos, inicialmente em torno de 2500, foram gentilmente cedidos pelo Instituto Atlântico que juntamente com a IVIA, é outra Empresa de Tecnologia do Estado que junta-se ao projeto de forma totalmente espontânea. Vejam abaixo o panfleto que estará sendo distribuído pela ASCOR.

terça-feira, 25 de março de 2008

Fomento à Pesquisa em São Paulo

Na semana passada estive visitando a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa Científica do Estado de São Paulo) que é o equivalente à FUNCAP aqui no Estado do Ceará. A FAPESP é uma referência nacional por uma séria de motivos: sua história que data de mais de quatro décadas, o volume de recursos manipulados (1% da arrecadação do Estado de São Paulo), número de projetos de pesquisa financiados (cerca de oito mil por ano) e número de bolsas de apoio a pesquisa concedidas (7 a 8 mil bolsas por ano). O mais surpreendente é a sua forma autônoma de atuar, coisa que não tinha visto em nenhum órgão público no País. Nem a propalada autonomia universitária dá tanta liberdade. Essa autonomia vem em sua grande parte, da existência de um patrimônio, que vem se avolumando desde a década de 60, de cerca de 1 bilhão de reais. Somente os recursos decorrentes de aplicações financeiras a permitem investir cerca de 25% a mais do que o dinheiro destinado pelo Estado. Não é somente essa autonomia financeira que é surpreendente. Há uma autonomia administrativa que permite, por exemplo, que aumentos salariais, tanto reajustes como promoções, sejam definidos pelo seu Conselho de Administração, sem que sejam pedidas autorizações ao governo paulista nem que sejam seguidas as regras rígidas dos funcionários tradicionais. Não me surpreendeu saber que todos os governos estaduais vivem querendo reformular essa situação inclusive com ações cada vez mais contundentes da Procuradoria Estadual. No entanto, a FAPESP conta com um apoio de peso: a comunidade científica paulista. Uma comunidade que representa o que há de melhor na ciência brasileira e que tem um alto poder de influencia política. Argumentam que se trata de um modelo que está dando certo e que não existe razão para mudanças. Deixando de lado os meandros internos da FAPESP, vale a pensa ressalvar que, nessa visita, começamos a articular uma cooperação FAPESP-FUNCAP que certamente será um marco nas pesquisas científicas no Estado do Ceará. A FAPESP se dispôs a destinar recursos para que pesquisas cooperativas, entre pesquisadores paulistas e cearenses, sejam realizadas conjuntamente em temas estratégicos a serem definidos pelo Estado do Ceará. A contrapartida cearense é aportar recursos de mesma monta que os financiados pelo governo paulista. Tenho uma grande expectativa de que isso aconteça o mais breve possível.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Ranking de Redes Sociais


O recente levantamento da Compete que descreve as redes sociais mais visitadas no mês de fevereiro de 2008 nos dão uma dimensão do quanto é extraordinária a popularidade desses sites. Para se ter uma idéia, Orkut que é considerado um fenômeno de popularidade no Brasil, só se encontra em décimo-segundo lugar entre os mais visitados. E a diferença é bem significativa como pode ser vista no quadro acima. Outra conclusão que já era sentida pelos pais de adolescentes brasileiros é que a razão entre numero de acessos e de visitantes de Orkut é a maior de todas. Ou seja, o pessoal que visita o site vive nele o tempo todo. Ressalte-se ainda algo não considerado no levantamento de que fevereiro é um mês ímpar para o contexto brasileiro devido ao carnaval. O acesso a web diminui sensivelmente pelo menos durante cinco dias, pois o pessoal decididamente está mias interessado em redes sociais, digamos, menos virtuais. O crescimento de Facebook, que é o único em condições de ameaçar MySpace, foi claramente identificado na pesquisa. Comparado com o mesmo mês de 2007, Facebook cresceu 77% enquanto MySpace estacionou. Agora, o mais surpreendente é o surgimento de Fubar (www.fubar.com) que cresceu 3.272.217% em um ano! (lá se vem mais um milionário americano devido a web). Fubar é um site de redes sociais com uma proposta um pouco diferente. Ele se considera um bar e propaga que é o melhor local para se ter encontros casuais como happy hours e tomar “uma dose” (virtualmente, é claro). A metáfora das bebidas está a todo momento presente na proposta de Fubar. Um rapaz que quiser paquerar pode,por exemplo, “oferecer um drink” a um membro da comunidade que estiver no bar e assim começar um relacionamento. Será que isso pega aqui no Brasil? Pelo menos tem a vantagem de que dá para dirigir depois de ter ido ao bar, tomado todas, e ainda não ter ressaca.

sábado, 22 de março de 2008

Semana Santa e Web

Quando escrevo sobre meu entusiasmo sobre a web, não desconheço que há muito lixo nela. No entanto, o que mais me agrada é seu caráter democrático e eclético. Um bom exemplo é a grande quantidade de sites religiosos (só foquei nos cristãos) que descobri em TechCrunch (www.techcrunch.com). Sites como GodTube , peopleo2pray , cross connector , faith2 e ebible são usados por milhões de cristãos para publicação de vídeos, consulta da bíblia, colaborações diversas, discussão sobre evangelhos, etc. Embora não tenha achado nenhuma menção a sites em português, a existência dos sites religiosos e o crescimento dos mesmos em popularidade é ilustrativo, pois normalmente se associa um estereotipo conservador e anti-web aos religiosos. Eles estão encontrando uma forma de dar o recado que lhes interessa. Os americanos, como era de se esperar, pois usam a web para tudo, não deixam de realizar suas orações na web. Uma pesquisa feita em 2004 pela Pew (veja pesquisa aqui) mostrou que 64% dos internautas americanos realizam alguma atividade espiritual e religiosa online.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Memória Fotográfica da Europa

Estive organizando algumas fotos de momentos que registrei na viagem a Europa e decidi postar quelques choses très interessantes.

O metrô de Londres com uma enorme propaganda do Rio de Janeiro com essa belíssima foto abaixo.


Um pequeno exemplo de como é fácil abrir tampas de sucos, leites, e alimentos em geral. Vejam o suco de laranja abaixo servido no EuroStar em viagem para Londres.Basta puxar delicadamente a abazinha branca e a tampa vai se abrindo em espira. Para os que acharem estranho o porquê desse comentário, vejam o texto que escrevi sobre a odisséia de abrir uma geléia em um vôo da TAM (clique aqui para acessar o texto).


Um parquímetro para registrar o tempo de estacionamento de carros em vias pública em Bruxelas. Percebam as células fotovoltaicas na parte superior. Energia solar onde nem tem tanto sol assim! Será que não poderíamos fazer um pouco mais por essas bandas?


Uma das melhores coisas na Bélgica. Há para os dois gostos.


A sensibilidade de Beth conseguiu capturar em uma só foto as coisas mais típicas da França em um quarteirão do Quartier Latin. Da esquerda para a direita: queijos (de fromage), Vinhos (des vins), pães (le boulanger), cafeteria (Le Café).


Estacionamento de bicicletas. Para quem quiser entender mais como funciona o sistema de aluguel de bicicletas em Paris veja o texto que escrevi nesse blog clicando aqui.


Em meio à modernidade londrina, há espaço para a publicidade artesanal. Algo como um Outdoor ambulante! Agora, segurar essa placa no frio de zero grau, é muito amor a arte!


Multas de 50 pounds (mais de R$ 150,00) para cachorros sem coleira na rua. Pertinente!

quarta-feira, 19 de março de 2008

Mais Computadores Que Televisões

Para quem não acredita que no Brasil a Web desbancará a televisão como já vem ocorrendo na Europa, Japão e EUA, os dados relativos às vendas de computadores em 2007 deveriam, pelo menos, fazer duvidar. Foram 10,5 milhões de computadores e ultrapassaram o total de aparelhos de televisão vendidos no País nesse mesmo ano. Já somos 40 milhões de internautas com expectativa de 45 milhões em 2008. Outra surpresa é que a classe C participa fortemente da Web e o comércio eletrônico não cessa de crescer. Li no site do Interactive Advertising Bureau Brasil (clique aqui para acessar o site) que a web foi a mídia que mais cresceu no ano passado, registrando um aumento de cerca de 45% nos investimentos publicitários, o que corresponde a um total de R$ 527 milhões. Creio ainda que a convergência de mídias como a integração de áudio-visual em jornais na Web (esta semana o Diário do Nordeste lançou o projeto Diário Multimídia) e a televisão digital vão fazer com que a web seja de mais em mais imbatível.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Nunca na História Desse País ...

Certamente essa frase ficará para a história. Vou usá-la para dar o tom de como vi a apresentação do ministro da Ciência e Tecnologia (C&T) Sergio Resende em Fortaleza na semana passada. Primeiramente, sua disposição é digna de elogios, pois ao final de um dia cansativo de agenda ele não tinha a menor obrigação de realizar uma palestra para os convidados que foram presenciar a assinatura de dois convênios que o governo federal estava estabelecendo com o governo do Estado. Um mero discurso protocolar, ou até de improviso, teriam sido de bom tamanho e compreendido por todos. Mas não, ele decidiu fazer uma palestra para descrever os macros objetivos e ações do plano que desenvolveu para sua pasta até 2010 (acho que o hábito da docência lhe deixa confortável nessa circunstância). É muito reconfortante ver um homem público com completo domínio dos projetos que coordena, o que é mais comum quando os mesmos não são meros políticos alçados à condição de executivos. Já conhecia o plano de C&T do Governo Federal e não vi novidades no que foi exposto pelo Ministro, no entanto, a forma como ele expôs a história, o presente e o futuro do tema, trazem ilustrações iluminadas. Para começar ele se absteve de um discurso de salvador da pátria. Limitou-se a expor gráficos e dados sobre a situação da área, o que permite a cada um tirar suas conclusões sobre a questão. Os gráficos do investimento financeiro em C&T desde a década de 70 é interessantíssimo. Em pleno regime militar o orçamento de C&T chegou à níveis altíssimos, só atingidos recentemente. O gráfico mostra ainda, ressaltado pelo comentário do ministro, que o grande divisor de águas do investimento em ciência no Brasil veio com a criação e regulamentação dos fundos setoriais em 1998. De lá para cá o investimento em C&T não parou de crescer, pois a infraestrutura para tal estava criada e os governos sucessores tiveram a sensibilidade de continuar o investimento. Já escrevi o que penso sobre a questão da continuidade na política(veja aqui ) e nos governos e de como temos a obrigação de compreender que só conseguiremos crescer sustentavelmente, se cada governo colocar um tijolo a mais nas obras em andamento. Infelizmente, ainda é comum a prática de retirar os tijolos colocados por outros. Já escrevi igualmente sobre como o sucesso do governo Lula está intimamente ligado a continuidade de políticas tanto econômicas como sociais (veja o texto aqui). E digo isso sem nenhum viés pejorativo, nem para dizer que A é melhor do que B ou qualquer coisa similar. Só uma constatação de que a frase do título deste texto tem muito mais valor se ela for assim: “Nunca na história desse país se tem continuado tanto os bons projetos que estavam em andamento”. Ganhamos todos nós. A atual política atual de C&T é outro bom exemplo disso e não tira o mérito do atual governo por ter colocado mais um tijolo na obra. Aliás, se o plano de se chegar a 1,5% do PIB em 2010 for concretizado(o que significa 50% de incremento dos níveis atuais), o governo poderá se vangloriar certamente de ter posto não só um tijolo a mais nessa construção, mas de uma grande placa de concreto.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Congele!

Uma nova onda artística tem tomado conta das ruas e espaços públicos das grandes cidades. Grupos de atores se infiltram em um local e começam a encenar. O público é pego de surpresa e muitas vezes até participa do processo. É algo muito interessante para se perceber o efeito contágio e de imitação. Algo parecido com aquela estória de que se você vê alguém bocejando, você acaba bocejando também. Veja os dois vídeos abaixo. O primeiro realizado na Grand Central Station em Nova York. Vários artistas se infiltram na estação e em um dado momento congelam (ficam completamente parados). O mais engraçado é ver o pobre do guarda falando no rádio totalmente sem explicação. Em resposta a essa iniciativa, veja o que foi feito em Londres na famosa Trafalgar Square no segundo vídeo. Para maiores detalhes vejam mais vídeos no site http://improveverywhere.com/.



quarta-feira, 12 de março de 2008

Contratos de Compromisso

Ainda continuo lendo sobre economia, principalmente, pela alta relação existente entre os modelos multiagentes que tenho usado no trabalho de simulação da criminalidade com os modelos econômicos. Nessas lidas deparei-me com a noção de contrato de compromissos no blog do Freakonomics. Esse tipo de contrato se estabelece quando uma pessoa deseja formalizar uma penalidade para si mesmo caso não consiga cumprir uma determinada meta. Ainda mais interessante é a existência do site www.StickK.com que foi lançado recentemente por Ian Ayres, um professor de direito e economia da Universidade de Yale, e Dean Karlan, um economista também de Yale. A idéia é facilitar contratos de compromisso. Deseja parar de fumar? Vá ao StickK e assine um contrato que o obriga, se não conseguir cumpri-lo,a doar uma quantidade específica de dinheiro para a caridade. Você pode até mesmo assumir um compromisso de informar ao StickK quando fracassar na realização de suas metas ou mesmo da concretização dos compromissos. Também pode nomear um amigo como responsável e que informará o site por você. Não tenho muita certeza de que esse tipo de compromisso nos faz mesmo atingir nossas metas, mas é inegável que o site facilita o estabelecimento dos compromissos e que, pelo menos, auxiliará a realização de pesquisas sobre o comportamento das pessoas nessa circunstância.

terça-feira, 11 de março de 2008

O Inferno da Biblioteca François Mitterrand

Na minha recente viagem a França, tive a oportunidade de voltar à Biblioteca François Mitterrand. Trata-se de um dos dois sítios da Biblioteca Nacional da França – BnF (o outro, mais antigo, está na Rue Richelieu, perto de l’opéra de Paris). A biblioteca François Mitterrand é a terceira no mundo em volumes no seu acervo. São cerca de 13 milhões de livros. Perde para a biblioteca do congresso americano (29 milhões de livros!) em Washington e para a British Library (mais ou menos do mesmo tamanho da BnF). Vê-se claramente a vontade de integrar as diferentes formas de memorização e transmissão do conhecimento existentes no momento atual. Podemos encontrar nela o livro e o periódico, bem como o audiovisual e a informática. Esta última serve tanto para gerir o orçamento, o catálogo ou a consulta cotidiana das obras, como de memória (principalmente os CD-ROMs). Mais de 100 mil obras antigas foram digitalizadas e podem ser acessadas por computador à distância ou no próprio sítio. Um projeto de digitalização de obras que não são mais protegidas por direito autoral está em andamento. Agora, o que me parece o mais marcante da biblioteca é a riqueza de eventos que lá ocorrem diariamente. Exposições, palestras, aulas, debates, a todo momento, acontecem nas quatro torres que fazem a biblioteca. Na minha visita conheci uma exposição super interessante chamada L’Enfers de La Biliothèque (O Inferno da Biblioteca). Esse termo surgiu para representar as obras que eram censuradas e banidas de acesso à leitura. Quando não eram danificadas, ficavam armazenadas em área de acesso restrito. Do começo do século XIX até 1969, o “inferno” foi mantido e proibiu o acesso a livros que retratavam mais de 500 anos de história. Tive uma sensação estranha ao ver os catálogos das obras com a menção enfers escrito de lápis ao lado do título da obra. O termo é decididamente bem forte e emblemático. Carrega toda a carga da moral religiosa tão dominante durante tantos anos na Europa. Tratavam-se em sua grande maioria de obras que versavam sobre sexo, adultério e “imoralidades” (pelos padrões religiosos) embora temas políticos e considerados reacionários também tenham estado lá. A exposição na BnF é proibida para menores de dezesseis anos e uma vasta quantidade de material de áudio e vídeo também está presente. Gravuras, desenhos animados e filmes pornográficos com sexo explícito feitos no começo do cinema mudo nos lembram o quanto o tema é determinante por mais inovadora que seja a mídia. Para ver um vídeo em francês sobre a exposição clique aqui . Abaixo postei uma foto da maquete da BnF, site François Mitterrand. Percebe-se a grandiosidade da arquitetura. Outra figura postada exemplifica algumas chamadas para exposições e eventos diversos.


segunda-feira, 10 de março de 2008

Quanto Mais Caro Mais Saboroso

Embora o marketing seja uma coisa onipresente na nossa vida de consumidor, o conhecimento dos mecanismos psicológicos pelo qual as ações de marketing influenciam o comportamento do consumidor ainda permanece muito limitado. Mas um estudo recente que tomei conhecimento pelo Times On Line (ver a matéria original aqui) está auxiliando a jogar um luz na questão. Trate-se de um estudo em Neuro-economia que mostrou que ao se aumentar o preço do vinho aumenta-se as atividades neurais que demonstram prazer no gosto deste vinho(ao se tomar o vinho, é óbvio!). A Neuro-economia é uma ciência recente e que um tem como um dos seus objetos de estudo a compreensão de porquê há um apelo subconsciente tão forte dos consumidores em relação aos produtos de luxo, marcas famosas, e outras coisas típicas da sociedade capitalista que custam mais e oferecem muito pouca qualidade extra (as vezes nem a oferecem). Com a ajuda de modernos scanners do cérebro pode se compreender a relação entre as reações biológicas e os estímulos provocados pelos mecanismos econômicos que estão permeados na sociedade. Esses testes neurológicos abrem linhas de pesquisa nas ciências cognitivas que visam criar teorias para explicar o porquê desses efeitos. Um trabalho nessa direção está sendo desenvolvido em Stanford, no programa de sistemas simbólicos. Com a ajuda de modelos computacionais, simulações ajudam a verificar que o preço influencia a expectativa de qualidade que por sua vez influencia a experiência de prazer. Para saber mais, acesse a página do programa em Sistemas Simbólicos de Stanford (clique aqui) . Aliás, a proposta do programa de sistemas simbólicos é algo que se vê de mais em mais no mundo acadêmico, onde a multidisciplinaridade vem se tornando a regra. O programa reúne pesquisadores em Psicologia, Lingüística, Inteligência Artificial, Neurologia, Economia e interação Humano-computador.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Le Maître de Musique

Ainda não mudei a rádio personalizada ao lado porque o estilo ColdPlay foi o mais bem recebido pelos internautas que cá freqüentam. No entanto, encontrei algo no Youtube (e o que não se consegue encontrar lá, eih?) que merece registro. Aos amantes do bel canto, aqui vai um pequeno extrato do excelente filme belga Maître de Musique, onde a ária “Sempre Libera” de La Traviata de Verdi é encenada. Um filme ímpar onde a relação professor aluno e a competição no ambiente artístico são retratadas de forma magnífica, principalmente, em razão da escolha feliz do repertório de músicas. Único ponto negativo(só para o mais exigentes na língua de Molière, admito) é que os atores canadenses e belgas têm um sotaque que nem de longe trazem o glamour que o filme merece.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Polícia Comunitária na UNIFOR

A UNIFOR faz agora parte de um grupo qualificado de universidades credenciadas pelo Ministério da Justiça, mais especificamente, pela Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP para compor a Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública(RENAESP). Estive capitaneando os esforços nessa direção juntamente com a equipe da vice-reitoria de pós-graduação da UNIFOR. Em virtude desse credenciamento, a partir de abril, a UNIFOR estará fornecendo um curso de especialização em Segurança Pública no tema Polícia Comunitária. Coordenarei o curso que se desenrolará durante todo o ano no período noturno e que será integralmente pago pela SENASP. O curso se destina a profissionais de segurança pública (policiais, guardas municipais, agentes penitenciários,) e possui uma proposta inédita em função de seu caráter multi-disciplinar. Direito, administração e informática, psicologia e metodologia científica são as grandes áreas de estudo. O aspecto legal será coberto por disciplinas que versam sobre direitos fundamentais, direitos humanos e direito restaurativo. Introdução a polícia comunitária e duas disciplinas sobre mediação de conflitos darão ênfase ao novo perfil que se quer do profissional de segurança pública. Planejamento estratégico e tecnologia da informação fornecem uma visão gerencial e habilidades para tratamento da informação. Por fim, dinâmicas em grupo sobre violência serão realizadas com os alunos com professores do mestrado de psicologia. As inscrições estão abertas até 14 de março e podem ser feitas em www.unifor.br.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Estamos nos Suicidando?

Dando continuidade às minhas reflexões sobre leituras de textos que revisitam teorias econômicas, li uma reflexão muito interessante de Gary Becker no blog Freaknomics (www.freakonomics.com). Este grande economista (Nobel de economia em 1992) relata que já aplicou a abordagem econômica a quase tudo como a fertilidade, educação, crime, etc. Aliás, li alguns artigos científicos escritos por ele sobre crimes e punições. Ele foi um dos primeiros a formalizar a noção de crime pelo ponto de vista de custos e benefícios dos criminosos. Voltando ao blog Freaknomics. Becker acha curioso a forma como as pessoas resolvem conflitos de metas contraditórias e exemplifica como algumas escolhas são surpreendentes. Boa saúde e longa vida são metas importantes para a maioria das pessoas, mas com certeza não são as únicas: de alguma forma uma saúde melhor ou a vida longa precisam ser sacrificadas porque elas conflitam com outras metas, como viver socialmente (o que nos faz beber álcool, comer mais do que o necessário, dormir tarde, etc.). Portanto, segundo a abordagem econômica, a maioria das mortes se constitui a uma forma de 'suicídio', no sentido de que elas poderiam ter sido postergadas caso fossem investidos mais recursos no prolongamento da vida. Esse tipo de reflexão me fez imediatamente lembrar da crítica à racionalidade que vem tomando corpo e que comentei no texto passado. Não somos muito racionais ao agir assim, não?

terça-feira, 4 de março de 2008

The Social Atom

Minha mais recente leitura foi The Social Atom (O Átomo Social) do físico e editor da conceituada Nature, Mark Buchanan. Já tinha lido Nexus do mesmo autor e pude ver em The Social Atom muitos dos conceitos anteriormente discutidos. No entanto, neste seu novo livro, Buchanan centra seus argumentos na necessidade de se prover as ciências sociais de um ferramental mais formal. Mas, ao invés de buscar levantar o cansado debate humanas vs exatas, ele apresenta uma série de argumentos para mostrar que há um quadro conceitual comum às duas áreas e que está sendo configurado em grande parte com o recurso das simulações computadorizadas. Para começar, ele ataca a suposição da racionalidade que tanto esteve presente nas ciências sociais recentemente. Defende que o ser humano não é racional calculista, mas de fato um “jogador” que vai se virando a cada momento. Usa uma série de estudos sobre a evolução da espécie para defender que as pessoas criam, a todo o momento, regras adaptativas para enfrentar as situações que a vida real os apresentam (o que ele chama de oportunistas adaptativos). Emenda ainda que a imitação está nas nossas raízes herdadas de nossos longínquos ancestrais pré-históricos. No entanto, a característica inerentemente social é a que merece maior atenção em seus argumentos. Ele argumenta que o ser humano foi evoluindo sua característica de altruísmo recíproco desde o momento que os caçadores pré-históricos perceberam que era fundamental viver em sociedade e assim aprenderam a cooperar. Onde entra mesmo a simulação computacional nessa estória? Na verdade, não se trata aqui de se usar os métodos tradicionais analíticos de simulação e que existem há mais de trinta anos. O enfoque analítico matemático tradicional não é suficiente para modelar fenômenos sociais que se caracterizam por sua extrema complexidade, não linearidade, diversidade e grande quantidade de variáveis que, por sua vez, normalmente assumem valores incertos. A modelagem desses complexos fenômenos sociais deve ser realizada com modelos baseados em agentes (ABM- Agent-based Models) que permitem representar as regras adaptativas e individuais que ele acredita ser o que caracteriza as pessoas. Essas simulações mesmo ainda incapazes de fazer previsões muito precisas, são ótimas para compreender fenômenos sociais ao se detectar padrões que podem ser matematicamente formalizados. Foi assim, por exemplo, que se descobriu como as redes sociais de relacionamento seguem uma distribuição que segue uma lei de potência como já comentei em um texto anterior (clique aqui para ver o texto que fala do fenômeno Small World). Enfim, considero The Social Atom leitura fortemente recomendada aos pesquisadores das ciências sociais bem como ao de computação. Através de exemplos e de uma narrativa muito fluida o autor é bem convincente de que a exatas e humanas podem se encontrar bem mais rápido do que se podia imaginar poucos anos atrás. A lista de livros interessantes ao lado estará assim sendo atualizada.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A Imprensa Americana nas Eleições 2008

Recentemente, estive assistindo com mais freqüência do que a habitual, as redes CNN, Fox bem como alguns jornais americanos para acompanhar a eleição de 2008. Sempre achei que a imprensa norte-americana precisava se recuperar do onze de setembro, quando ela foi acuada e engolida pelos eventos. A eleição 2008 é um momento bom para isso. Ela tem buscado ocupar o terreno perdido fazendo jornalismo com qualidade. Não há espaços para fofoquinhas (de vez em quando algum bobão pisa na bola, como o comentário ofensivo feito por um jornalista da NBC contra a filha de Hillary e Bill Clinton). Ao contrário, sua tarefa é de sempre lançar desafios aos candidatos, os colocando em pressão contínua. Buscam “espremê-los”para que os mesmos respondam sobre os grandes desafios que o país deve enfrentar nos próximos quatro anos. Quem auxilia os jornalistas no debate com os presidenciáveis são especialistas nas mais diversas áreas contempladas. Uma verdadeira sabatina pública que é muito saudável para um país. Outro aspecto digno de menção é o fato de que ela toma partido abertamente quando julga necessário. Já tinha comentado que na França os grandes jornais têm suas posições ideológicas claramente definidas. Le Figaro é direita, Le Monde é esquerda e Le Nouvel Observateur é ainda mais esquerda. Nos EUA e Grã Bretanha também é assim. Por exemplo, New York Times é democrata e mesmo em relação à escolha do candidato democrata o jornal se posicionou. Deixou claro que acha Hillary a melhor candidata. Já o jornal inglês The Economist é neoliberal. Será que vender uma postura neutra e imparcial como tentam fazer a maioria dos grupos mediáticos brasileiros não seria somente pura hipocrisia?