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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Leis que pegam e Leis que não querem(?) que pegue

Já tinha falado do fenômeno brasileiro das leis que pegam e de outras que não e do quanto isso é perigoso para a nossa sociedade. No texto lei, moral e valores reforcei o fato de que se existem leis que não suportam valores da sociedade(clique aqui para ler esse texto), elas são fadadas ao insucesso. A situação do jogo do bicho é emblemática e me causa estarrecimento. São exemplos de coisas que ocorrem porque o poder público não cumpre sua parte com uma conivência da sociedade. Completa omissão de todos. Um jogo de faz de contas inacreditável. Chega a ser surrealista os funcionários do Paratodos pedindo em público para “trabalhar”. Veja esse depoimento que tirei do Diário do Nordeste : “Ganhamos por comissão e a maioria só vive disso”, afirmou uma funcionária, de 46 anos. “Eu irei aonde for para mudar isso. Estamos sem trabalhar”. Esses funcionários não se consideram fora-da-lei. Aliás, nem ele, nem ninguém. Ou seja, há a lei, mas não há o suporte moral para a sua imposição. Isso explica como que um negócio que envolve cerca de 15 mil pessoas só em Fortaleza e em Caucaia pode acontecer e sobreviver sob o olhar inerte de todos durante todos esses anos? Aliás, o jogo do bicho não é o único exemplo. Os transportes alternativos estão indo na mesma pegada. Quando alguém quiser colocar ordem, não vai conseguir.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Genialidade Grupal – Resposta dos testes

Semana passada, coloquei dois testes realizados por psicólogos quando tentavam compreender como se dá a criatividade. O resultado para o primeiro pode ser visto na figura abaixo. Parabéns ao Adriano que foi o único que enviou a solução. A dificuldade de resolvê-lo é chamada em inglês de “thinking outside the Box” (algo abrir os horizontes ou ao pé da letra pensar fora da caixa). Os gestaltitas acreditavam que o insight era algo diferente do nosso pensamento tradicional e que estava influenciado por um bloqueio que ao ser eliminado leva a conclusão. No caso do jogo dos nove pontos, o bloqueio é não pensar que as retas podem passar dos pontos. Testes mais recentes com uso de scanners computadorizados indicam que isso não é bem assim. O insight é um mecanismo de raciocínio e busca de solução como os outros. Por essa razão depende mesmo é da experiência de casos similares vividos. Fica difícil ligar os pontos do teste, porque tradicionalmente a experiência das pessoas está ligada ao joguinho de labirinto onde ligar os pontos é feito dentro dos limites. Não há aprendizagem de outra estratégia. Por isso fica difícil encontrar a solução. Outros testes realizados com o intuito de provar essa hipótese mostraram que ao serem ensinadas com estratégias similares as pessoas acabam resolvendo problemas desse tipo mais rapidamente. Para finalizar, a resposta do teste do Raio X é a seguinte: coloque vários aparelhos de Raio X em posições diferentes e direcionados ao tumor. Ligue-os ao mesmo tempo com uma intensidade que não destrua os tecidos, mas de forma que os raios atinjam o tumor ao mesmo tempo. Dessa forma a intensidade que atinge o tumor será forte o suficiente para destruí-lo. O mais interessante desse problema é que ele é resolvido muito mais rapidamente quando várias pessoas discutem sobre o mesmo e colaboram na solução.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Polícia Comunitária ou Policial Cidadão?

Tem sido muito rica a minha interação com os alunos no curso de Especialização em Polícia Comunitária que coordeno e que nesse mês de Outubro ministrei uma disciplina. Interessante como me interei dos problemas do contexto da Segurança e como aprendo sobre ele constantemente. Um dos pontos que tenho percebido é a percepção de alguns agentes de segurança (vejam que isso é mais abrangente do que só a Polícia) e da própria sociedade sobre o conceito de Polícia Comunitária. Percebo uma tendência a considerar polícia comunitária como aquela que é educada em contraposição à tradicional que não o é. Preocupa-me essa visão que além de reducionista do conceito de Polícia Comunitária é ainda indutor de uma postura errada dos que não fazem essa função. Digo sempre aos alunos que ser respeitoso com os direitos do cidadão, tratá-lo dignamente e sempre dentro dos ditames da lei é obrigação de qualquer policial (do servidor público de uma forma geral). A verdade mesmo é que há uma cultura arraigada de que na hora de “fazer Polícia mesmo”, não dá para ser educado. Tem que ser na porrada. Ser bacana na hora de dar uma informação, de trocar o pneu de uma madame, de orientar um turista é fácil. No pega para capar, não dá para ser comunitário. Esse tipo de raciocínio é uma tremenda de uma confusão que está se formando na cabeça dos agentes de segurança e, pior, na cabeça dos cidadãos. Não vamos misturar alhos com bugalhos. Polícia comunitária não pode ser confundida com fraqueza. A Polícia é uma Instituição a quem a sociedade deu o direito do uso da força. Se a situação assim o exigir, nada mais natural de que ela recorra a esse expediente. Agora, a polícia deixa de ser comunitária (mais do que isso, deixa de ser cidadã) quando se excede, usa a força desnecessariamente e desrespeita os valores e direitos individuais do cidadão. Polícia comunitária requer proximidade com a comunidade para ações pró-ativas, preventivas, reconhecimento da sociedade e identificação de potenciais focos de violência e tensão social. No entanto, Polícia, comunitária ou não, requer auto-controle, autoridade, postura e acima de tudo seguimento da lei.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Lei de Inovação Cearense

A sociedade cearense está de parabéns! Desde a semana passada, 21 de outubro para ser mais exato, o Estado do Ceará têm sua lei estadual de inovação: a lei 14.220. Em seu artigo primeiro é dito que a lei
“... estabelece medidas de incentivo à inovação e pesquisa científica e tecnológica com vistas a introdução da inovação no ambiente produtivo, nas políticas públicas e nas ações estratégicas visando o desenvolvimento social e econômico do Estado do Ceará”.
Embora com pouco impacto mediático, ou pelo menos, com bem menos do que considero ser merecido, essa lei é um marco histórico. Ela segue em linhas gerais a lei de inovação federal, mas, introduz mecanismos próprios voltados ao contexto estadual. Creio que ela é, acima de tudo, emblemática ao colocar o Estado em papel preponderante no contexto da inovação. Ressalta uma importante decisão estratégica que sinaliza à sociedade de que o momento atual, visto em todo o mundo, de que inovar é preciso, está sendo percebido pela sociedade cearense. Bem além, não se trata somente de perceber a importância do tema, mas de agir, de criar mecanismos que façam atuar os diferentes atores envolvidos no processo: empresas, academia e governo. Entre os diferentes mecanismos que a lei traz para incentivar a inovação no setor produtivo, ressalte-se a estruturação das agências de fomento, os estímulos à participação de Empresas no processo de inovação, da participação do Estado em fundos de investimento e em parques tecnológicos. Em particular, gostaria de mencionar o capítulo VI que estabelece mecanismos para estimular a participação do funcionário público no processo de inovação. Essa participação não só passa a ser permitida, como pode inclusive ser remunerada por bolsas ou complementos salariais vindos das instituições executantes ou apoiadoras de um projeto de inovação. A lei assegura ainda que os pesquisadores em geral podem ter participação nos ganhos econômicos resultantes de contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criação. Os ganhos podem ser através de royalties ou quaisquer benefícios financeiros resultantes da exploração direta ou por terceiros. Esse mecanismo é particularmente importante, pois cria condições concretas de incentivo à participação de pesquisadores em projetos de inovação empresariais o que implica na tão desejada proximidade Universidade-Empresa. A lei é leitura obrigatória para empresários, pesquisadores e servidores públicos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Dave Mathews Band

A rádio ao lado está mudando (não muito), pois continua com o rock moderno (no sentido de recente) do Dave Mathews Band. Trata-se de um conjunto americano nascido no início dos anos 90 e que vêm a cada ano se aperfeiçoando e criando um estilo bem próprio. Abaixo, coloco uma de suas músicas mais populares e que admiro pela combinação de instrumentos jazzísticos com a voz de Dave com seu sotaque meio caipira que é inconfundível.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Web na Televisão

Recentemente estive a assistir rapidamente Fox Television, uma das maiores cadeias de televisão do mundo, e vi algo que me chamou a atenção: um exemplo de integração da televisão com a web. A Fox fica constantemente mostrando na telinha quais matérias são as mais “pesquisadas”e as mais “clicadas”no seu site na Web. Reflete uma tendência já existente nos EUA. As pessoas usam a web mais do que a televisão e mesmo quando usam a TV, o fazem concomitantemente com um computador. Isso certamente vai dirigir a atenção das cadeias de TV de mais em mais. Agora, se isso é bom ou ruim é outra estória. No momento em que estava assistindo a TV, num desses dias de crise econômica, eleições nos EUA, atentados e outras coisas mais, sabem qual assunto foi disparado o mais clicado (26% dos acessos): o divórcio de Madonna. Lado positivo: caras e bundas não é privilégio de brasileiros.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Anuário do Fórum de Segurança

Somente ontem pude ler com um pouco mais de detalhe o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública lançado na semana passada (acesse o anuário completo clicando aqui). Trata-se da segunda edição de uma iniciativa que tem tudo para se tornar uma referência em um País tão carente de dados sobre Segurança. Vou me deter a algumas reflexões mais voltadas ao Estado do Ceará. A primeira constatação é extremamente preocupante. O Fórum dividiu, no Anuário, grupos de Estados caracterizados pela qualidade estimada dos dados criminais. Para cada Unidade da Federação foram considerados o número de mortes por agressão (homicídios) e o percentual de óbitos mal declarados, ambos produzidos pelo Datasus, do Ministério da Saúde. O Ceará ficou no grupo dos Estados que o índice de óbitos maldeclarados é muito grande e por essa razão o dado de homicídio não é totalmente confiável. Em outras palavras não sabemos, por uma fonte externa à Polícia, quantas pessoas morrem vítimas de violência. De quebra, os dados de outros crimes também não foram contabilizados pela pouca credibilidade dos dados de homicídios. Os Estados considerados como possuidores de dados qualificados, e por essa razão, fontes de maiores análises são SP, DF, ES, MT, MS, MG, PR, PE, RJ, RS e SC. Bem, pelo menos em relação a dados de recursos humanos e financeiros, podemos fazer análises comparativas. É bem verdade que toda análise comparativa tem que ser feita com muito cuidado, pois os critérios de coleta dos dados podem ser muito variados. Não obstante, elas servem, no mínimo, para forçar um refinamento no sistema de coleta. Vejam, por exemplo, outros dois conjuntos de dados que indicam pontos vulneráveis de nossa Segurança. A primeira situação refere-se ao contingente da Polícia Civil dos Estados (já tinha mencionado as deficiências da Polícia cearense aqui). Vejam o gráfico abaixo que produzi com os dados do Fórum e que têm como fonte principal a Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP. O gráfico de barras mostra o número de delegados de Polícia por habitante. O Estado do Ceará é o penúltimo colocado: um delegado para cada 31.482 habitantes. Outro dado que merece menção é o de investimentos feitos em Segurança Pública em cada Estado. A fonte é o Ministério do Planejamento e a variável é o quanto do total do orçamento do Estado está sendo usado para Segurança. Nesse quesito, o Ceará é o último colocado (em 2007).




Errata : Genialidade Grupal

Desculpem-me o erro. Esqueci de dizer que para o jogo 1 é preciso ligar os pontos com quatro retas. Senão ficava muio fácil, não?!

Genialidade Grupal

Li recentemente Group Genius: the Creative Power of Collaboration (Grupo Gênio: a força creativa da colaboração) de Keith Sawyer. O livro trata de assuntos interessantíssimos e que estão fortemente ligados às minhas atividades atuais: criatividade, inovação e colaboração. De uma maneira geral, no entanto, me decepcionou pelo o que considero uma infeliz estratégia seguida pelo autor. Ele caiu na armadilha de dar receitas do que fazer e não fazer e assim dirigiu-se a um terreno arenoso de obra tipo auto-ajuda e que particularmente detesto. Principalmente quando se trata de assuntos que estão na fronteira do conhecimento, melhor deixar o leitor tirar suas conclusões do que ficar querendo propor receitas. Por esta razão não o estarei postando na coluna ao lado. No entanto, há muita coisa interessante no livro que em resumo busca quebrar certo estereotipo de que a criatividade e a inventividade vêm através de insights repentinos por indivíduos iluminados, isolados e mesmo alienados. Ao contrário, criatividade está mais ligada a trabalho em equipe, experiência com tentativa e erro e muita interação, quer seja diretamente com colegas, quer através de idéias que vão sendo gradativamente assimiladas e evoluídas. Quando o autor não está dando receitas de como ser criativo, a leitura flui agradavelmente muito em função das diferentes e interessantes experiências feitas por psicólogos cognitivos descritas no livro. Para relaxar, deixem-me exemplificar com dois testes realizados na década de 60 por psicólogos “Gestaltistas” (consideram que o pensamento e as percepções das pessoas não podem ser entendidos por análises de componentes individualizados, mas somente com a visão completa do todo). Eles fizeram vários testes em busca de entender o fenômeno “aha”ou “heureka” que caracteriza o momento do click, da descoberta, o chamado “cair a ficha”.
1º teste – Nove Pontos
Veja a figura abaixo. Tente conectar os nove pontos com quatro retas sem tirar a caneta do papel, nem passar duas vezes no mesmo caminho.


2º teste – Problema do Raio X
Suponha que você é um médico e tem um paciente com um tumor maligno no estômago. É impossível operá-lo, mas se o tumor não for destruído o paciente irá morrer. Existe um tipo de Raio X que pode ser usado para destruir o tumor. Se esse Raio X atingir o tumor todo de uma vez com uma intensidade alta o tumor será destruído. Infelizmente, com essa intensidade necessária o Raio X destruirá todo tecido de pele e nervoso que encontrar pela frente. Com uma intensidade baixa os tecidos não são destruídos mas o tumor não é destruído. Como fazer para não deixar o paciente morrer sem destruir seus tecidos nervoso e da pele?


Quem souber resolver, pode colocar as soluções nos comentários. Em alguns dias, farei alguns comentários sobre a dificuldade de se resolver esse tipo de problema (além de dizer a solução).

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O Cliente Tem Sempre Razão?

Um fato ocorrido comigo no mês passado me deixou tremendamente incomodado e levou-me a escrever esse texto. Fui a Brasília para um dia de trabalho. No final da tarde tive tempo de ir ao shopping Pier e lá fui à livraria e papelaria Leitura onde comprei uma caneta. Passei a usá-la mas na semana seguinte ela apresentou-se sem tinta na sua carga. Um pouco mais de uma semana, em uso normal (eu arriscaria até a dizer abaixo do normal), não é suficiente para acabar a tinta, não? Decidi guardar a caneta para voltar a loja, pois sabia que a oportunidade de voltar a Brasília me viria logo. Pois bem, cerca de vinte dias depois, lá estava eu novamente na livraria Leitura. Expliquei à situação a atendente que logo me disse que não poderia resolver o problema e por isso chamaria a gerente. Ao chegar, a gerente foi logo dizendo que não realizava troca de cargas e que a caneta, na venda, tinha sido testada, o que comprovava que ela tinha tinta. Tentei argumentar, mas logo percebi sua intolerância e inflexibilidade. A caneta custou cerca de R$ 60,00. A carga vale R$ 8,00. Eu não me conformava como ela poderia pensar que estava lá vindo de uma outra cidade, para levar vantagem por um valor tão baixo. Minha indignação crescia com o passar do tempo, pois ficava cada vez mais claro que a questão era de desconfinça mesmo. Ela argumentava que eu não tinha como provar que a caneta tinha pouca carga. Podia ter sido meu uso que era excessivo. Ou seja, ela não acreditava na minha palavra. Ponto final. Tentei falar com alguem superior (talvez o dono) não consegui. Só me restou guardar a indignação para, agora, com a cabeça mais fria, pensar: o que pode motivar uma pessoa agir assim? Há como generalizar? Não pude deixar de me lembrar de uma situação que passei na Califórnia similar a essa. Fui fazer a feira no supermercado e, quando cheguei em casa, me dei conta de que tinha esquecido um pacote. Não sabia muito bem o que tinha ficado no pacote, mas sabia de alguns itens que tinha certeza que havia comprado não tinha chegado em casa. Detalhe. Não estava mais com a nota. Dei o prejuízo por assumido, mas minha esposa me incentivou a voltar lá e explicar o ocorrido. Talvez alguem tivesse ficado com o saco de compras faltante. Relutei, mas, na manhã seguinte, voltei. Ao chegar lá expliquei meu caso a supervisora. O caixa que me atendeu não estava lá e ninguem tinha visto o saco de compras. A supervisora então perguntou-me se eu sabia o que estava dentro do saco. Eu disse que lembrava-ne de algumas coisas, não tudo. Ela nem chegou a me perguntar o que eram as coisas. Disse-me para entrar, pegá-las e sair. Quase não acreditei. Lembro-me que só peguei aquilo que tinha certeza que estava faltando. Não tive coragem de pegar o que estava em dúvida. Ela simplesmente confiou em mim. Não fiz mais feira em outro local. O que difere as duas atendentes? Não sei. Talvez a fartura. Uma carga de caneta para a livraria vale muito mais do que os itens que esqueci no supermercado. Não creio. Acho que seria bem difícil acontecer algo similar em supermercados brasileiros. Talvez a qualificação profissional, o cliente sempre tem razão é forte nos EUA. Talvez a cultura de falar a verdade, pois a mentira é repudiada muito fortemente nos EUA (mentira de presidente é a exceção que confirma regra). Talvez não haja como categorizar, são simplesmente pessoas diferentes. O fato é que lamento as situações não terem sido invertidas. Uma coisa é certa:não voltarei mais a livraria-papelaria Leitura.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Jogos Eletrônicos e Inteligência Artificial

O palestrante convidado do Congresso Ibero-americano de Inteligência Artificial (IA) que está se desenvolvendo aqui em Lisboa foi o norte-americano Michael Young. Ele é professor da Universidade de North Carolina a co-diretor do laboratório de jogos eletrônicos. Ele falou sobre como a Inteligência Artificial pode ser usada, aliás já está sendo, para realizar jogos eletrônicos cada vez mais poderosos. Para os que não sabem o que faz a IA, aqui vai uma definição bem sucinta: busca desenvolver teorias, métodos e programas de computador que possam realizar tarefas de forma similar às pessoas. Falar de jogos em IA não é nenhuma novidade para alguém minimamente conhecedor do tema. Afinal de contas a IA sempre usou bastante de jogos para exemplificar suas técnicas e demonstrar sua aplicabilidade. Os professores de IA (dentre os me incluo) usam constantemente exemplos de jogos, como o xadrez, para facilitar a compreensão dos conceitos teóricos. Agora, o aspecto importante que Young trouxe a tona foi o de que jogos em IA deixaram de ter, digamos, papel coadjuvante. O foco não pode mais ser exclusivamente didático nem de prova de conceitos. Jogos são um negócio importantíssimo no mundo hoje. Os números são surpreendentes, pois indicam uma movimentação de 27 bilhões de euros no mundo em 2007. Isso é mais do que o que consegue o mercado da música (cerca de 24 bilhões) e do que cinema (11 bilhões). Outra coisa importante a compreender é que o perfil do usuário que gosta de jogos eletrônicos também está mudando. Não são somente os adolescentes que jogam. A idade média do jogador na Inglaterra é 28 anos e nos EUA é 34. A idade média! As mulheres jogadoras já são 48% na Inglaterra e 37% nos EUA. Outro fato importantíssimo do contexto atual dos jogos é que eles são o segundo maior introdutor de tecnologia para novatos. Perde apenas para o celular. O que mesmo a IA pode fazer para se ter jogos melhores? O estudo da IA é normalmente de natureza multidisciplinar, fortemente ligado à compreensão do pensamento, do aprendizado, da resolução de problemas, ou seja, de como “funciona” a cabeça das pessoas. Isso é fundamental para se criar um efeito importante no contexto de jogos e que em sendo explorado por Holywood há 50 anos: criar a ilusão da realidade (termo cunhado por Walt Disney). Esse efeito de ilusão de realidade pode ser mais facilmente obtido para se identificar, por exemplo, o que o usuário está esperando acontecer e assim gerar um efeito surpresa. Por exemplo, se um herói de uma estória se encontra em situação de apuros, um jogo inteligente vai conseguir se antecipar às ações do usuário e excluir as alternativas de salvamento que o usuário poderia pensar em aplicar. Isso cria um clima de suspense e de dificuldade ao usuário que torna o jogo mais excitante. Compreender em que situações isso pode acontecer requer compreender o modelo mental do usuário para então prover esse tipo de funcionalidade. Outro exemplo interessante trata-se a capacidade do jogo de tratar a interatividade quando essa provoca uma mudança inesperada pelo sistema. É fortemente indesejável que um jogo eletrônico tenha muitas restrições que dêem a sensação ao usuário que ele não está inserido em algo parecido com a realidade. Assim, se um usuário decide dar um tiro em uma personagem essencial ao desenrolar da estória, como o sistema deve se portar? Ou se tenta encontrar outra personagem que assuma as atividades da personagem que morreu ou então se encontra formas de dissimular a ação do usuário (por exemplo, dizendo que o usuário errou o tiro e dando chances à personagem de escapar). Em resumo, IA e jogos parecem ter um futuro bem promissor pela frente e com grande espaço para inovar. Quem se habilita?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Exigência de Educação e Cultura Cidadã

“IBOPE: 70% dos brasileiros aprovam qualidade do ensino”. Esse é o título da matéria veiculada no Diário do Nordeste via Agência Estado sobre uma pesquisa feita pelo IBOPE em nove capitais brasileiras (Fortaleza, inclusive). Essa pesquisa (veja a matéria aqui) per si deveria nos obrigar a uma reflexão. Adicione-se a essa pesquisa, outra feita no ano passado com patrocínio da UNICEF chamada "Redes de Aprendizagem - Boas Práticas de Municípios que Garantem o Direito de Aprender". Esta pesquisa destacou cidades no País onde a rede municipal de ensino público funcionava bem. No entanto, um outro levantamento, feito há poucos dias, mostrou que do universo das 37 cidades premiadas, 21 não reconduziram os prefeitos ou seus candidatos para um novo mandato. Creio que as duas pesquisas se entrelaçam através de uma constatação trágica: nosso nível de exigência em matéria de educação é muito baixo e isso é um reflexo de nosso baixo nível de educação. Surpreenderia se fosse diferente. Educação não é algo absoluto que se pode facilmente dizer que se tem ou não tem. A própria percepção do que se tem por direito como cidadão é parte da educação. Vê-se aqui um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. Vou voltar a bater na mesma tecla que tenho batido nesse blog quando falo da cultura cidadã (veja alguns textos aqui, aqui e aqui). Temos que ter uma visão mais abrangente de educação da população. Sempre que falamos de educação pensamos na escola e na sala de aula. É claro que essa educação formal é importante, mas há muita coisa que pode ser feita no dia-a-dia das pessoas e que poderia fazê-las mudar de comportamento e que passassem a agir de forma educada (mais civilizadas diriam alguns). O problema é que isso implica em uma mudança na nossa forma de governar também. É preciso sair da reatividade e passar a pró-atividade. É preciso considerar toda e qualquer oportunidade de contato com o cidadão como uma oportunidade de ensino e aprendizagem. É preciso transformar todos os agentes públicos em educadores em potencial. É preciso propor parcerias com a sociedade organizada numa cruzada pela ética, civilidade e comportamento coletivo. Isso evidentemente é muito difícil e os mais céticos diriam que com nossos políticos de hoje em dia isso fica impossível. A boa notícia é que um movimento desse tipo acaba ficando mais fácil nesse momento em que o País começa a conhecer um pouco de fartura. Uma economia estabilizada (que a crise internacional não me desminta) que gera melhor nível de renda, que oferece mais possibilidade de empregos e que permite ascensão social, é o momento ideal para que as pessoas se dediquem um pouco para o social. Não somente no sentido de ajudar os outros, mas também no sentido de perceber que é preciso fazer um pouquinho pela coletividade para que a sua própria vida seja melhor. Sem as condições mínimas, fica mais difícil qualquer discurso visando o coletivo, pois as necessidades individuais egoístas prevalecem. Se comerçarmos a fazer algo nessa direção, teremos melhor educação, até porque seremos mais exigentes.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

IBERAMIA 2008

A partir de hoje estou a participar do IBERAMIA 2008 aqui em Lisboa. Trata-se do Congresso Ibero-Americano de Inteligência Artificial. Tivemos, Thiago Assunção e eu, um artigo completo aceito que deverei apresentar amanhã. Trata-se de uma conferência que se realizou primeiramente em 1988 e que ganhou gradativamente seu espaço para que, em 1998, tivesse seus anais publicados pela prestigiosa editora alemã Springer Verlag, o que vem ocorrendo desde então. A conferência passou então a ter maior reconhecimento, divulgação e tornou-se lugar importante para estreitar os laços de pesquisas entre cientistas dos dois lados do Atlântico, em particular daqueles da Penísula Ibérica com os da América Latina. A programação completa do Congresso pode ser acessada aqui bem como a descrição das edições anteriormente realizadas quer seja no Brasil ou na Europa.

domingo, 12 de outubro de 2008

Lisboa

Lisboa lembra-me fortemente Marseille na França onde morei por quase quatro anos. Talvez por isso mesmo seja uma cidade que me agrade tanto. As colinas e vales e a estrutura de suas avenidas que descem diretamente ao mar são de uma similaridade incrível. Marseille tem sua Canabière que leva-nos ao Vieux Port à beira do Mediterrâneo. Lisboa com suas Avenida da Liberdade e Rua do Ouro que nos levam a Praça do Comércio e ao desembocadouro do Tejo. No entanto, não é só isso. As duas cidades são velhas, mas de espírito jovem. Não que as compare por causa de suas faixas etárias, pois nesse quesito Marseille é mais de 1000 anos mais idosa (oficialmente, mas as duas cidades parecem ter aparecido há mais de cinco séculos antes de Cristo), mas sobretudo em sua arquitetura. São semelhantes em suas ruelas escuras, enigmáticas, cheias de monumentos que comportam muita história e sempre cheias de alegria, sobretudo à noite, algo bem típico de cidades marítimas e de jovens. Abaixo algumas cenas retratadas e que me dizem um pouco de Lisboa.

Aos Gourmands. Pastelarias com Pastéis de Nata


Ruelas e mais ruelas.


As calçadas não são dos peões (ou melhor, pedestres).

Museu Calouste Gulbenkian. Tanto arte antiga(minha preferência) quanto moderna

Mercado de antiguidades e de peças para colecionadores. Selos, livros e discos de vinil abundam em face da Praça do Comércio e abaixo de um arco do triunfo dedicado a Vasco da Gama

Por falar em Vasco da Gama, esses belíssimos azulejos descrevem seu diálogo com o Rei antes de partir para conquistas em sua nau também retratada. Bem que meu Vasco poderia se inspirar um pouco em tanta glória.

Casa do Alentejo. Ainda hoje é destinada a reunir os alentejanos para uma conversa, um café e troca de homenagens. Seu prédio estilo mouro com azulejos e madeiras rebuscadas é imperdível.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

What are you doing the rest of your life?

Michel Legrand já foi objeto de um de meus textos nesse blog (veja aqui ). Nele mencionei que o considero um dos maiores maestros de todos os tempos, em especial em músicas para filmes. A música que tem o título desse texto é uma de suas obras primas. A composição é do casal Alan e Marilyn Bergman. Esse casal é um exemplo de como o métier de compositor é tão pobremente reconhecido. Eles são os autores de músicas que foram nominadas ao Oscar 16 vezes e venceram três. "The Windmills of Your Mind" em 1968, "The Way We Were" em 1973, e "Yentl" em 1984. "Windmills" e "The Way We Were" também venceram o Globo de Ouro e "The Way We Were" ganhou dois Grammys com Barbara Streisand cantando. Voltando a “What are you doing…”, a letra é tão intensa que me dei o direito de traduzi-la. Não uma tradução ao pé da letra, mas certamente não uma tradução de um tradutor juramentado. Somente uma tradução sincera e interpretativa dos sentimentos que “leio”, “escuto”, enfim, capto nessa música. Nesses dias de comemoração de vinte anos bem vividos de casamento , nada seria mais adequado a desejar e pedir. Abaixo, publico o vídeo de uma das gravações que mais gosto. Sting cantando com Chris Botti no sax. Alta classe.

O que vc estará fazendo o resto de sua vida ?
Norte, Sul, Leste e Oeste de sua vida ?
Eu só tenho um desejo de sua vida
Que você a gaste toda comigo
Todas as estações e horários de seus dias
Todos os centavos e vintens de seus dias
Faça com que as razões e os sentidos de seus dias
Comecem e terminem comigo
Eu quero ver seu rosto em todo tipo de luz
Seja nos campos do amanhecer ou nas florestas das noites
E quando você estiver próxima de seus bolos com velas
Deixe-me ser aquele que vai escutar seus pedidos silenciosos
Aqueles amanhãs intensos de seus olhos,
Olhos que refletem um mundo de amor,
Eu despertarei o que ainda está adormecido neles
Com um beijo ou dois
Por toda a minha vida,
Verões, Invernos, Primaveras ou Verões de minha vida,
Tudo que eu recordarei de minha vida,
é toda minha vida com você.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Análise de Crimes: Um Livro Referência

Acabei de ler o livro “Artificial Crime Analysis Systems: Using Computer Simulations and Geographic Information Systems - Sistemas Artificiais de Análise de Crimes: O uso de simulações computadorizadas e sistemas de informação geográficos”. Trata-se de uma coletânea de artigos escritos por pesquisadores de todo o mundo e que foram editados pelos pesquisadores Lin Liu e John Eck da Universidade de Cincinati. O livro foi lançado no começo do ano e congrega os diversos aspectos que estão sendo estudados hoje no mundo em computação, sociologia, criminologia e áreas afins sobre métodos científicos para mapeamento criminal. Mapeamento criminal refere-se a técnica de usar sistemas computadorizados em conjunto com sistemas de informação geográficos com fins de compreensão da criminalidade e investigar meios de reduzi-la. Pode-se dizer que, embora recente, a obra já tornou-se uma referência na área de Segurança Pública por sua abrangência, diversidade e representatividade. Ressalto que, junto com alguns alunos e colegas professores, escrevi o capítulo XV, que descreve nosso enfoque multiagente para simulação de crimes contra o patrimônio. É leitura obrigatória para qualquer estudioso no assunto. Maiores referências podem ser acessadas na coluna ao lado de leituras obrigatórias.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Esporte e Sociedade

Instigado por um comentário de um leitor que me dá honra por sua presença neste blog, vou voltar a falar sobre esporte e educação. O comentário foi feito pelo mestre Roberto Bastos um estudioso do basquete mundial e acima de tudo com compreensão, como poucos, do papel do esporte em uma sociedade. Roberto em seus comentários ao texto em que falo de Internet e educação (clique aqui para acessá-lo e ao comentário completo de Roberto) pergunta
“Na sua recente viagem a Europa não viste nada relacionado ao esporte? que tenha ajudado o ser humano a ser melhor através do esporte?”, “Será que esse jogo(o basquete) não melhora o homem em todos os sentidos? Não seria bem mais fácil de aprender dividir, multiplicar, somar,diminuir?”.
É claro que sei que ele já sabe minha resposta, mas não custa nada reiterá-la. Não há menor dúvida que o esporte é capaz sim de tornar as pessoas melhores. Os esportes coletivos, como o basquete, então, são particularmente relevantes para desenvolvimento de aptidões essenciais nos dias de hoje a qualquer profissional: trabalho em equipe, relacionamento interpessoal, liderança, controle emocional e competitividade. Não é novidade para Roberto, como também para grande parte da população, de que precisamos dar uma nova dimensão ao esporte através da educação como já tinha mencionado nesse texto aqui escrito logo após os jogos olímpicos. Agora, é ainda mais relevante entender que é preciso que o esporte tenha uma dimensão maior na sociedade como um todo. Algo muito na linha do que tenho escrito sobre a cultura cidadã (veja textos que escrevi sobre isso escrevendo "cultura cidadã"no espaço de pesquisa no canto superior esquerdo) em que a sociedade passa a participar mais ativamente da resolução de seus problemas em comum. Quando se fala de esporte tem-se uma grande vantagem porque ele tem a capacidade de entusiasmar, fazer sonhar, criar ídolos, enfim, mexe com o imaginário popular. Sentimentos que, quando bem trabalhados, podem fazer as pessoas melhores. Evidentemente, que há outro lado da moeda. Todo esse discurso é muito próximo de argumentos fascistas de preponderância de alguns sobre os outros, de uma classe ou de um tipo de gente sobre alguém. Algo do tipo “ é preciso vencer sempre”e “deve-se levar vantagem em tudo”. Aqui mora o perigo e de novo vem a lembrança de que esporte e educação devem andar juntos, para que o sentimento de respeito e admiração pela excelência prepondere sob a frustração de não ter sido o melhor. Isso não é fácil de jeito nenhum. Aliás, a própria sociedade americana, a qual constantemente está em meus comentários com exemplos positivos devido a seu nível de participação, solidariedade e educação, tem nos demonstrado com freqüência o quanto uma educação competitiva pode ter efeitos colaterais negativos como as matanças de jovens em escolas por colegas desequilibrados. De resto, seria muito bom que nossos prefeitos entrantes ou reentrantes começassem a pensar, e sobretudo, agir mais sobre tudo isso.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eleições Municipais – Esquisitices, Pérolas e Curtas Reflexões

A iniciativa de um grupo de pessoas encabeçado por Rosa da Fonseca e a ex-prefeita Maria Luiza Fontenele pedindo que as pessoas não votassem foi uma pisada de bola sem tamanho. Qual a alternativa ao não-voto? Um regime de exceção? Mas não foram exatamente essas pessoas as que mais sofreram as conseqüências cruéis da falta de democracia? Esse fato é muito simbólico de que parece faltar um inimigo (e idéias) para candidatos a revolucionários. Aliás, incentivar o não-voto não seria incentivo a cometer um crime? Com a palavra o Ministério Público.

Gravações de Ciro Gomes pedindo voto para sua candidata a prefeito, sua ex-mulher Patrícia Saboya, e que foram enviadas indiscriminadamente aos usuários de celular. Inacreditável exemplo de desrespeito! Um autêntico spam eleitoral e eletrônico.

Ainda na campanha da candidata Patrícia Saboya. A “terceirização” da irmã de Ciro Gomes para passar uma mensagem de apoio a candidatura de sua cunhada (creio que não existe a figura da ex-cunhada). Que coisa estranha. Uma espécie de "nepotismo" de cabo eleitoral terceirizado ! Queria saber quem pôde imaginar que essa façanha podia conquistar votos.

Licença de cargo eletivo executivo para fazer campanha. Será que alguém consegue encarar, durante uma semana ou dez dias, um chefe do executivo licenciado como não representando o cargo que o povo lhe deu o direito?!

Proposta do candidato a Prefeito de Fortaleza Moroni Torgan para realizar entrega de remédio de graça na casa ao cidadão por moto táxi. Como prometer é de graça ...

A esquisitíssima e mal explicada desistência do candidato a prefeito de Fortaleza Luiz Gastão que teve que voltar correndo à presidência da FECOMÉRCIO sob denúncias de irregularidades em sua gestão. Alegou complô.

Aula de lógica: o que é abdução? A campanha dizia 100% Lúcio é 100% Adahil. Resultado da campanha: 0% Adahil. Qual a conclusão lógica?

Para finalizar. A prefeita de Fortaleza recém eleita acaba de dizer que o estádio Presidente Vargas vai estar entre o rol de estádios a sediarem jogo na Copa do Mundo de 2014. Menos Prefeita, menos. Deixa pelo menos o Leão jogar lá, senão a gente cai para a terceirona.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O Que é Inovação Tecnológica?

Desculpem-me pelo tamanho desse texto. Vai de encontro a minha intenção de escrever textos curtos, mas o tema é palpitante e cheio de meandros, o que acaba por me fazer prolixo. Aliás, esse tema faz parte deste blog desde seu início quando ainda estava no Vale do Silício (veja aqui , aqui e aqui três textos correlatos escritos em Janeiro de 2007). Recentemente tenho discutido com vários empresários sobre como se pode avaliar o mérito de um projeto de inovação. Essa discussão é extremamente salutar, pois indica que o meio empresarial começa a perceber que inovar é preciso. Evidentemente que isso acontece em função do surgimento de inúmeros mecanismos de financiamento à inovação que vêm sendo criados tanto na esfera federal, como estadual, o que anima a todos. Em particular, profissionais e empresários da área de tecnologia da informação (TI) estão sempre a perguntar minha opinião sobre se uma determinada idéia tem potencial para ser classificada como inovadora e assim ser competitiva na busca por subvenção. Percebo que meu ponto de vista nem sempre é compreendido até porque ele não agrada muito. Minha visão pode ser considerada excessivamente exigente, mas as opiniões sobre o assunto são realmente muito subjetivas. Por isso, expresso minha opinião com muita humildade e aberto a considerar opiniões divergentes. Bem, voltando ao cerne da questão, o que caracteriza mesmo uma inovação tecnológica? Um ponto relativamente pacífico é de que inovação deve ser feita na Empresa. Por quê? Pelo simples fato de que inovação está intimamente relacionada com agregação de valor a um produto, processo ou idéia e, assim, geração de riqueza (ou bem estar social, no caso de inovações sociais). A inovação pode ser medida por indicadores diversos como o aumento da produção, do emprego e mudança do comportamento do mercado. Lembro o que escrevi recentemente sobre a diferença de inovação e invenção (ver texto aqui). Invenção refere-se ao lançamento da idéia nova e nunca antes pensada, mas que não obrigatoriamente levará a geração de riqueza e, por isso, não obrigatoriamente é uma inovação. Agora, o segundo ponto me parece crucial e muito mais polêmico: inovar, como a palavra bem representa, subentende uma coisa nova, seja um novo processo, um novo produto e mesmo a abertura de um novo mercado. Vou me concentrar na definição de inovação tecnológica do manual de Oslo que é um documento produzido pela Organização para a Cooperação e desenvolvimento Econômico(OCDE) e considerado uma referência na área: “Trata-se da introdução de produtos ou processos tecnologicamente novos e melhorias significativas em produtos e processos existentes”. Duas palavras que ressaltei merecem uma maior reflexão. A tecnologia é o conhecimento transformado em técnica para produção de bem e serviço. Essa definição nos introduz a idéia de conhecimento que por sua vez nos leva a de ciência (conhecimento sistematizado, dentro de uma estrutura teórica rigorosamente formulada). Este me parece um ponto crucial no desenvolvimento da inovação. Há uma relação de interação constante entre Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (alguns chamam de cadeia linear, outros de espiral interativa). A produção de conhecimento e sua incorporação em inovações tecnológicas são instrumentos cruciais para o desenvolvimento sustentável e que produza inovações significativas. Chego então ao ponto fundamental de minha opinião sobre inovação: a interação com a pesquisa científica. É essa interação que é capaz de alavancar inovações significativas(mesmo que não sejam de ruptura como definida por Schumpeter), mas que não sejam banais. Para aqueles que vão fazer projetos para competir por financiamento para inovação, gosto de dar a seguinte dica. Ao ter uma idéia para desenvolver uma inovação pergunte-se: i) há no mercado algo igual? ii) há no mercado alguém que também possa fazer o que estou pretendendo? A primeira pergunta é óbvia. Afinal, se já existir algo não é inovação né? A segunda pergunta visa avaliar algo mais sutil. Se há outros que podem fazer o que você se propõe, muito provavelmente a significância da sua inovação estará em xeque. Serve ainda para exemplificar novamente a importância da pesquisa. Projetos inovadores baseados na interação com a pesquisa não serão facilmente desenvolvidos pelas empresas que estão no mercado. O conhecimento de fronteira não é algo que está amplamente disponível no mercado e assim a inovação tende a ser significante.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

TIM: A Saga Continua

Recentemente escrevi aqui sobre minha péssima experiência com a TIM ao tentar comprar um modem 3G para uso em transmissões de dados pelo meu notebook. Em resumo, tive que cancelar a minha assinatura do serviço sem mesmo conseguir colocá-lo para funcionar, depois de uma frustrante “visita” ao serviço de atendimento ao cliente da Empresa. Relembro que ao final de meu texto disse que enviaria o texto do blog ao fale conosco da TIM. Assim o fiz. Ontem recebi um telefonema da TIM. Que bom, pensei. Achei que mandariam alguém para pegar o modem que ainda está sob minha posse. Para minha surpresa, a ligação não era bem para isso. Minha saga ainda estava a continuar. A atendente (na verdade, nem acho que posso chamá-la de atendente, visto que ela mesma é quem tinha me ligado) disse–me que sua ligação se devia pelo fato de ter recebido minha mensagem pelo site (até aí, ainda estava otimista). Pediu para que eu anotasse um número de protocolo e depois disse que eu devia ligar para *144 para contar meu caso e pedir ajuda! Puxa vida! Ela nem se deu o trabalho de ler o que eu havia escrito. Ora bolas, todo meu problema foi exatamente porque o serviço de atendimento telefônico, nem mesmo a loja, conseguiam resolver meu problema. Tinha que ligar de novo?! Ficou claro que ela só queria dar uma satisfação a algum sistema que lhe cobrava uma resposta ao fale conosco. Aliás, acho essa atitude bem típica de instituições com sistema de qualidade tipo ISO: mantenha a qualidade (mesmo se ela é bem ruim). Mas isso é assunto para outro texto. Voltando a questão. Depois de minhas infrutíferas tentativas de explicá-la a razão de minhas reclamações, percebi que ela não estava nem aí para o que eu falava. Ela dizia somente ”certo Sénhoor, o Sénhoor deve ligar para o *144 e contar tudo isso, Sénhoor”. Nem acreditei! Puro surrealismo! Minha surpresa foi tamanha que acabei por ligar de novo ao *144 como sugerido. Depois de toda a rotina de pergunta de dados básicos (id, fone, CPF, etc.) e algumas transferências de ligações cheguei ao serviço de atendimento para transmissão de dados. Novamente, deu para perceber que o sotaque tradicional de Call Center tinha desaparecido. Passei 30 minutos tentando explicar meu caso. Nada. A TIM não sabia o que tinha acontecido comigo. Por fim, a atendente disse que meu serviço tinha sido cancelado porque não tinham conseguido contato comigo. Como? Não tinham contato comigo? Mas eu mesmo havia ligado várias vezes? Cheguei a pensar que aquilo era uma pegadinha ou coisa que o valha. Expliquei novamente toda minha saga. A atendente pediu-me um tempo. Passei quase dez minutos em modo de esperar. Ao voltar a atender-me ela disse: “lamento dizer, mas o que tenho a dizer é o que já disse. O Sr. tem que entrar em contato com o serviço responsável para saber porque seu serviço foi cancelado”. Incrível! Até a autoria de ter cancelado o pedido do modem, eles me tiraram! Não sabia se ria ou chorava. Estava tão stressado que as palavras não me vinham a mente. A atendente então disse que ia me transferir para o “setor competente”(como se fosse possível acreditar que há alguma competência por lá”). Pois bem, sabe o que aconteceu? Ao tentar realizar a transferência, a ligação caiu. Simples. Lá estava eu, de novo, sendo obrigado a começar tudo do zero. Assim não dá. Decidi escrever esse texto e agora vou mandá-lo novamente ao fale conosco da TIM. Quanto tempo esse ciclo vicioso permanecerá? Talvez indefinidamente.