Nessa semana participei de uma conversa muito interessante com a estudante Thaís Macedo que está de malas prontas para se mudar para Boston, EUA onde estudará no MIT (Massachussets Institute of Technology). Ela fez uma inscrição regular como podem fazer quaisquer jovens no mundo. Precisou fazer duas redações, a prova de SAT(Scholastic Aptitude Test, algo como um grande ENEM) e o TOEFL (proficiência em inglês). Além de suas boas notas nos testes, pesaram ainda as excelentes colocações nas olimpíadas de Química nacional e na internacional. Conseguiu inclusive uma bolsa de estudos de aproximadamente 50% do valor do curso. Thaís estava sendo entrevistada na FUNCAP para produzir a matéria para o jornal desta Instutição. Nessa conversa, além da natural leveza e do caráter extrovertido que ela demonstrou ter, duas coisas me marcaram e achei que valiam reflexão. Primeiramente, queria refletir sobre a reação inicial que sua família teve após sua declaração que queria ser Química. “Tá ficando louca!” e “Não tem futuro” dominaram os conselhos. A tenacidade de Thaís e sua vocação representada pelas notas que tirava nas competições foram essenciais para que sua família se conformasse. Essas reações inteiramente lógicas e esperadas são indicativas da pouca compreensão das pessoas do espectro de novas profissões que hoje em dia existem, principalmente daquelas ligadas à ciência. O desenvolvimento científico atingiu nos dias atuais um verdadeiro boom. Há assim uma gama bem variada de oportunidades de trabalho que eram inexistentes há duas ou três décadas atrás. Quando restringimos nosso olhar ao Nordeste do Brasil podemos mesmo dizer que esse tempo se reduz a pouco mais de dez anos. Alie-se a isso a pouca cultura de divulgação científica e de ensino de ciência na universidade (vejam o que escrevi sobre isso aqui). A conseqüência é que os pais de jovens que hoje estão escolhendo suas opções de trabalho estão totalmente perdidos e desatualizados. Na dúvida, melhor sugerir Medicina. Outro aspecto que merece reflexão veio após Thaís ter respondido a pergunta “Você volta”?”. Ela respondeu “ Provavelmente não”. Evidente que ela não tinha muito condição de responder a essa pergunta, pois tanta coisa acontecerá em sua já surpreendente carreira.No entanto, ela muito provavelmente está certa. O que caracteriza os EUA é essa constante capacidade de atrair as competências. Não é a toa que Thaís terá como colegas de classe jovens de todo o mundo. O americano típico é o que menos se interessa em ser cientista (mesmo os que se interessam sofrem para entrar, pois a competição é dura). Disse-lhe que sua ida ao exterior, mesmo que ela não retorne, pode abrir portas para cooperações entre pesquisadores brasileiros e aqueles de fora,
Um comentário:
A Taís vai ver o Brasil crescer de Boston, como eu estou vendo agora da Bélgica. Até o final do curso, ela também vai passar pelo mesmo dilema que eu: "Ajudo mais o Brasil ficando fora e captando oportunidades ou voltando e trabalhando lá?" A resposta para o dilema muda a cada 6 meses. Vamos ver qual vai ser a minha opinião no final do doutorado, daqui a uns 2 anos.
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