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terça-feira, 11 de março de 2008

O Inferno da Biblioteca François Mitterrand

Na minha recente viagem a França, tive a oportunidade de voltar à Biblioteca François Mitterrand. Trata-se de um dos dois sítios da Biblioteca Nacional da França – BnF (o outro, mais antigo, está na Rue Richelieu, perto de l’opéra de Paris). A biblioteca François Mitterrand é a terceira no mundo em volumes no seu acervo. São cerca de 13 milhões de livros. Perde para a biblioteca do congresso americano (29 milhões de livros!) em Washington e para a British Library (mais ou menos do mesmo tamanho da BnF). Vê-se claramente a vontade de integrar as diferentes formas de memorização e transmissão do conhecimento existentes no momento atual. Podemos encontrar nela o livro e o periódico, bem como o audiovisual e a informática. Esta última serve tanto para gerir o orçamento, o catálogo ou a consulta cotidiana das obras, como de memória (principalmente os CD-ROMs). Mais de 100 mil obras antigas foram digitalizadas e podem ser acessadas por computador à distância ou no próprio sítio. Um projeto de digitalização de obras que não são mais protegidas por direito autoral está em andamento. Agora, o que me parece o mais marcante da biblioteca é a riqueza de eventos que lá ocorrem diariamente. Exposições, palestras, aulas, debates, a todo momento, acontecem nas quatro torres que fazem a biblioteca. Na minha visita conheci uma exposição super interessante chamada L’Enfers de La Biliothèque (O Inferno da Biblioteca). Esse termo surgiu para representar as obras que eram censuradas e banidas de acesso à leitura. Quando não eram danificadas, ficavam armazenadas em área de acesso restrito. Do começo do século XIX até 1969, o “inferno” foi mantido e proibiu o acesso a livros que retratavam mais de 500 anos de história. Tive uma sensação estranha ao ver os catálogos das obras com a menção enfers escrito de lápis ao lado do título da obra. O termo é decididamente bem forte e emblemático. Carrega toda a carga da moral religiosa tão dominante durante tantos anos na Europa. Tratavam-se em sua grande maioria de obras que versavam sobre sexo, adultério e “imoralidades” (pelos padrões religiosos) embora temas políticos e considerados reacionários também tenham estado lá. A exposição na BnF é proibida para menores de dezesseis anos e uma vasta quantidade de material de áudio e vídeo também está presente. Gravuras, desenhos animados e filmes pornográficos com sexo explícito feitos no começo do cinema mudo nos lembram o quanto o tema é determinante por mais inovadora que seja a mídia. Para ver um vídeo em francês sobre a exposição clique aqui . Abaixo postei uma foto da maquete da BnF, site François Mitterrand. Percebe-se a grandiosidade da arquitetura. Outra figura postada exemplifica algumas chamadas para exposições e eventos diversos.


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