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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Um WikiCrimes para Chamar de Seu – Bis

Poderia repetir meu texto escrito há pouco tempo sobre como novas iniciativas de fazer como WikiCrimes surgem sem que se perceba que o ideal era somar esforços. Não vou repetir a mesma ladainha. 

Vou somente registrar mais uma iniciativa. Desta vez é um jornal paranaense chamado A Gazeta do Povo. Decidiram criar um mapa de crimes para ser povoado pelos cidadãos. Recebi um telefonema de um repórter do jornal interessado em WikiCimes. Aproveitei para convidá-lo a fazer uma parceria conosco. Pelo visto não fui muito convincente.

Como já disse, não tem problemas. Vamos acompanhar atentamente a iniciativa dos paranaenses. Será que conseguem manter o projeto por muito tempo? Ou vão fazer como o mapa de homicídios do Diário do Nordeste que está inexplicavelmente desatualizado há mais de quatro meses?


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Lytro


Lytro, que tomei conhecimento no FB via André Herzog, é mais um desses exemplos de inovações vindas de startups que nascem no Vale do Silício. A tese de doutorado de Ren Ng, em Stanford, permitiu que ele levantasse cerca de U$ 50 milhões para bancar o investimento inicial. Isso mesmo, só o inicial.

Lytro é uma nova forma de fotografar. Com um sistema que consegue capturar as luzes em diferentes direções pode-se ter diferentes focos da foto depois que ela foi tirada. Vejam exemplos abaixo. Você pode interagir com a foto clicando uma vez para mudar o foco e duas vezes para aumentar o zoom.

O Hardware é uma pequena maquineta que mais parece um binóculo (ou melhor, um monóculo). Vejam os preços e mais demos no próprio site. Isso vai revolucionar a forma de se tirar fotos e de explorá-las? Não sei. Há ainda muitas questões para serem  respondidas. Em particular, não se sabe como os usuários vão reagir ao fato de que, embora tenham o hardware, ficarão dependendo do software da Lytro que é o capaz de explorar a imagem capturada. 

No entanto, essa inovação serve para nos indicar que as fotografias estáticas parecem ter chegado ao seu limite. Embora as fotos tenha ficado digitais há alguns anos, elas continuam muito rígidas como se fossem sempre ser impressas, coisa que será cada vez menos usual. Um novo campo de pesquisa chamado fotografia computacional visa avançar nessa nova direção.


domingo, 23 de outubro de 2011

1984 - Basquete Juvenil do Ceará

Para recordar. Vejam foto abaixo de alguns atletas da Seleção cearense juvenil de basquete que saiu no Tribuna do Ceará na coluna de Zé Flávio Teixeira. Isso foi em agosto de 1984. Estou agachado à direita. Tínhamos acabado de chegar de Belo Horizonte. A semi-final foi um jogo super pegado contra os mineiros. Arbitros caseiros foram determinantes para nossa derrota. De qualquer forma, o terceiro lugar foi um grande resultado.

Digno de menção: o chefe da delegação era o "papai sabe tudo", Bebeto Moreira, que nos deixou há pouco tempo.



quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Projetos de Inovação: Leia Antes de Submeter

Já escrevi sobre a dificuldade de se caracterizar uma inovação. Tenho percebido que empreendedores têm muita dificuldade de preparar um projeto consistente e convincente. Resolvi escrever algumas sugestões com base na minha experiência na FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e na UNIFOR.

Sou frequentemente consultado sobre a questão e achei que expor publicamente minhas sugestões é uma forma de contribuir transparentemente. Não se tratam de sugestões extraordinárias, mas simplesmente de algo que vale a pena ler antes de submeter um projeto. 

É importante sempre lembrar que, embora inovação implique em risco, cabe ao avaliador buscar se cercar de argumentos que justifiquem o investimento  e minimizem o risco de insucesso. Os avaliadores são sempre instruídos a pensar que o dinheiro público da subvenção deve ser tratado como se fosse o próprio dinheiro dele, avaliador. Assim, seja convincente.

Minha experiência tem mostrado que muitos projetos são enviados sem uma clara percepção do que visa o programa de subvenção. Para começar, sugiro logo considerar se o projeto a ser submetido se encaixa claramente no rol daqueles que NÃO se caracterizam como uma inovação elegível à subvenção. Os três casos abaixo são exemplos disso:
i) Projetos de pesquisa científica. Embora a ideia descrita no projeto possa se apresentar como fronteira do conhecimento e bem posicionada perante ao estado da arte, a subvenção deve estar ligada à capacidade de gerar riqueza, dar resultado e agregar valor a curto prazo (no máximo médio prazo). Pesquisas são financiadas por outros mecanismos.
ii)  Projetos que visam desenvolver atividades rotineiras e que a empresa já realiza. Trata-se aqui do caso típico em que empréstimos são os mecanismos de fomento mais adequado. Recorrer ao Banco do Nordeste ou BNDES é uma boa alternativa. Lembre-se ainda que a subvenção não pode ser encarada como uma forma fácil de aumentar o capital de giro da empresa.
iii) Projetos de governo. Projetos governamentais devem ser financiados pelo próprio governo através de ações previstas no orçamento. Inovações sociais até podem envolver órgãos governamentais, mas os atores potencializadores dessa inovação devem ser do terceiro setor.

Algumas variáveis importantes que impreterivelmente são consideradas pelos avaliadores e que seu projeto deve responder são as seguintes:  

a) Por mais que um projeto seja inovador, há sempre formas de encontrar competidores que realizam algo pelo menos parecido. Comparações com soluções existentes no mercado e/ou com a academia   fortalece o argumento de a proposta é inovadora além de dar segurança ao avaliador de que o proponente conhece o negócio,  identifica os obstáculos e vislumbra como vencê-los.
b) O projeto deve apresentar um plano de negócio ou pelo menos uma análise dos competidores, desafios e oportunidades. Como, quando e quanto de dinheiro espera-se que a inovação gere?
c) A cooperação com a universidade é consistente? Esse é um item fundamental. Muitas vezes percebe-se que a equipe é composta de pesquisadores doutores que nem são ativos na área em que o projeto está inserido. Os avaliadores chamam isso de “doutor de aluguel”. Muitas vezes participam do projeto só por favor. Há cooperações anteriores que demonstrem a solidez da parceria?  Recomenda-se que o projeto seja maturado em conjunto. Um avaliador experiente percebe facilmente quando isso não é o caso.
d) A empresa tem uma estrutura mínima de desenvolvimento da inovação? Há equipe que internalize a inovação ou vai ficar somente com os parceiros na academia? Capítulo à parte na avaliação desse item são as Startups. Elas muitas vezes não tem estrutura mínima,  mas a composição de uma equipe com know how diferenciado para desenvolver uma boa ideia pode indicar que vale a pena o investimento de risco.
e) O projeto é de empresa que já foi contemplada com subvenção? Se a subvenção está em andamento, avalia-se rigorosamente se a empresa tem capacidade para abrir inovações em mais de uma frente. Não sugiro a pequenas empresas, submeter um pedido de subvenção quando uma já está em andamento. Caso a subvenção tenha terminado. É desejável que o financiamento de uma segunda subvenção seja uma aposta em algo que deu certo e que pode melhorar mais ainda. Ou seja, mostre que teve bons resultados com uma primeira subvenção e então solicite extensões do que foi feito.

Essa lista não é completa, nem quero dizer que se todos esses aspectos forem contemplados o projeto será aceito. Mas creio que ela cobre pontos relevantes e que, se um projeto não as contempla, já começa em desvantagem. 

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Empreender na Web: O Case da Ingresso.com

Hoje a partir das 14:00, Jorge Reis, criador da Ingresso.com vai palestrar sobre sua experiência em empreendedorismo na Web. Tive a oportunidade de conversar com Jorge longamente ontem e hoje e conheci um pouco de sua rica trajetória.

Desde quando deixou um confortável emprego na Petrobras até se tornar diretor da Americanas.com, e logicamente passando pela criação do ingresso.com, Jorge é um inquieto: algo típico dos  empreendedores. Na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) ele falará das dificuldades e desafios de empreender na web brasileira, mas creio que desde já ouso dizer que ele é otimista. Acredita que o Brasil e o Nordeste, em particular, têm um grande potencial para crescer na área.

Em visita à FUNCAP, Jorge conheceu um pouco do contexto de inovação no estado do Ceará e pode nos falar sobre seus planos de estágio que fará em Berkeley, na Califórnia. Vamos tentar estreitar os laços para fortalecer a cadeia de inovação no estado.

domingo, 16 de outubro de 2011

Compreender o Empreender



Essa semana li uma matéria no jornal O Povo sobre o evento de empreendedorismo que ocorreu em Fortaleza que me chamou atenção. O evento chamado Empreender 2011 foi promovido pelo próprio jornal e que abordou em particular estratégias inovadoras para as micro e pequena empresas. Sou extremamente cético quanto à eficácia deste tipo de evento, mas reconheço que há pelo menos um aspecto positivo envolto neles. Precisamos falar muito de empreender para criar uma cultura diferente da nossa. Já refleti como nossos jovens são mais voltados a buscar um emprego público do que abrir uma empresa aqui.

Mas foi somente ao ver a matéria sobre o que ocorreu no evento é que decidi expor minhas reflexões neste espaço. A “palestra técnica” do evento foi ministrada por Ciro Gomes. Isso mesmo, palestra técnica (por isso em aspas). Não consegui perceber o que Ciro Gomes tem de conhecimento técnico sobre empreendedorismo, mas tudo bem, pensei, tem larga experiência e deve ter algo a dizer relevante.  

Ao acompanhar a matéria sobre a sua palestra, palestra esta de título “Políticas Inovadoras para o Desenvolvimento do Empreendedorismo no Ceará, (você pode acessá-la aqui), reforcei meu ceticismo. A matéria era confusa de uma forma que só me dei duas possibilidades. Havia um problema de compreensão da audiência (no caso o jornalista) ou problemas na mensagem emitida pelo palestrante. Bem, é verdade, há uma terceira possibilidade, a de que as duas anteriores estejam corretas.

O título da matéria é “Ciro Gomes defende mudanças no modelo pedagógico”. Já me causou espanto porque não guarda relação direta com o título de sua palestra. 

Tudo bem, dá para ligar emprendedorismo com educação. Até porque se liga educação com tudo ! Continuemos. O Segundo parágrafo da matéria começa com “Para ele, é falsa a “verdade” de que tudo é culpa da educação.” É falsa a verdade? Soa estranho! Ainda por cima, para quem vai defender mudanças no modelo pedagógico, essa não é exatamente a frase ideal. Seguindo, não inovou muito quando citou o exemplo coreano e do investimento em educação que eles fizeram.

Para finalizar, o ultimo parágrafo começa com outra frase atribuída a Ciro Gomes: “é mentirosa a ideologia neoliberal que diz que a economia mundial está globalizada”. Não satisfeito com o cliché, emenda que “a humanidade está sendo induzida a acreditar que a felicidade é consumir elementos de um padrão internacional de consume”. Assim também é demais! Fico me perguntando o que os micro-empresários e os jovens potenciais empreendedores devem ter extraído em termos de empreendedorismo com essa palestra. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Torcida do Corinthians

Ao acompanhar o movimento das torcidas no Torcida Virtual admito que estou impressionado com a atitude dos corinthianos. Além de serem os primeiros no ranking, participam ativamente do site e parece que já encontraram um outro objetivo maior do que o que tínhamos inicialmente ao lançar a ideia do mapa: mostrar o mapa dos corinthianos no MUNDO e não apenas o brasil. Vejam abaixo a figura que recortei do site. São ou não são um bando de loucos?  :-)))

sábado, 8 de outubro de 2011

Comparação de Torcidas

A nova versão do Torcida Virtual permite ao torcedor exportar os mapas comparativos das torcidas. Vejam um exemplo abaixo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Amy and Jobs

Estamos sempre tendo exemplos do quanto somos insignificantes neste mundo. Neste fim de semana, estava a escutar Amy Winehouse e ao mesmo tempo a ler sobre Steve Jobs.

Desculpem-me os leitores sobre esse texto um pouco depressivo, mas decidi por nessas linhas um pouco do sentimento ao relacionar esse dois monstros. Por nutrir especial admiração pelos dois, lamento por ter perdido Amy e Jobs. Ambos tão jovens.

Numa época de tanto avanço científico é muito frustrante e acima de tudo renega-nos a uma enorme humildade, ver que mesmos os maiores expoentes  diferenciados em suas áreas são impotentes frente aos designíos do destino.

Nunca pensei que a morte de Jobs, anunciada é verdade, me tocasse de forma diferenciada. Não vou aqui falar da vida de Jobs, pois tudo que foi dito e redito na mídia, social ou não, não consegue expressar o que sinto. Não somos exatamente de uma mesma geração. Nove anos nos separam. Tempo que, nesse mundo de inovação tecnológica, faz uma enorme diferença. Mas havia algo em Jobs e na sua trajetória que me atraía. Tinha uma especial identificação com sua obstinação por, como ele dizia, mudar o mundo.

Fez com que os produtos que lançou fossem consumidos com paixão. Algo dificílimo a se conseguir. Quinze anos atrás, quando ainda não era usuário de produtos da Apple, eu notava que os que tinham um Macintosh sentiam algo mais pelo equipamento do que o que se sente por um computador. Havia um orgulho típico de um fã clube. Como alguém pode construir isso em torno de uma marca? É isso que acho genial em Jobs. Bem mais do que a inovação tecnológica em si. Ele conseguiu entender o gosto das pessoas e conquista-las. Conseguiu fazer com que pessoas racionais, agissem de forma quase irracional. Comprassem um computador mais caro, só porque queriam fazer parte  de um clube. Algo como sente aqueles que amam, Woody Allen, adoram Picasso, escutam Amy. Tecnologia e arte se misturam. A beleza que vem da criatividade. 

Hoje escrevo em meu Mac este texto e dedico Amy aos leitores. Sejam bem-vindos ao século XXI. O século da inovação tecnológica e  do progresso cientifico, mas as mortes de jovens celebridades nos relembram o século do romantismo não tão distante. Formas diferentes, mas as mesmas mensagens. Quanta insignificância! Escutemos Amy ao menos enquanto dure.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

“Escolas: menos empresa, mais educação!”

O título deste artigo reproduz um apelo feito no Twitter e que me chamou a atenção pela pertinência. Numa época em que abundam pela cidade propagandas patrocinadas pelas escolas privadas de Fortaleza sobre suas (discutíveis) façanhas em exames disto e daquilo, refleti sobre o que se espera que nossas escolas eduquem. Lembrei-me imediatamente do festival de falta de educação que se vê no trânsito frente às escolas, diariamente, nos horários em que pais vão transportar seus filhos. Há desde o desrespeito ao trânsito até agressões e discussões entre pais. Justamente o local onde deveria se aprender o certo, pratica-se diariamente o errado.   

Permitam-me compartilhar algumas experiências que tive quando de minha estada em outros países. Na Califórnia, no primeiro dia que fui transportar minha filha à escola, vi um senhor organizando o trânsito com um grupo de crianças (alunos da escola) de 6 a 9 anos que usavam coletes de trânsito e indicavam onde as pessoas deveriam parar. Na reunião de pais e mestres descobri que se tratava do diretor da escola. Na França, minha experiência foi similar. A escola tinha um local de estacionamento distante da entrada e todos tinham que deixar os carros lá e caminhar com a criança até a entrada. Nada de querer parar na porta da escola como é hábito aqui. A diretora da escola também participava do controle do trânsito.

Isso não é óbvio? Não há melhor momento e local para aprender a como se comportar no trânsito do que na chegada e saída da escola. E ainda por cima, há alguém com mais moral para fazer o controle do que o responsável máximo pela escola e as próprias crianças? O fato é que nesses países está muito claro de que a missão da escola é também educar cidadania, e isso deve envolver os pais, que devem ser responsáveis pelos bons exemplos. Esperar que a criança entre na sala de aula para só então ser educada, dissociada do contexto e da sociedade em que vive, é totalmente imbecil.

Querer que isso faça parte do rol de atividades de nossas escolas, em especial das privadas, é demais? Embora isso não seja cobrado no ENEM, no ITA, no vestibular ou seja lá no concurso que for, como acho que deveria ser cobrado pela sociedade, faço meu, o apelo feito no título.  


* Artigo escrito no Jornal O Povo de hoje

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Podemos nos sentir mais seguros com o Ronda do Quarteirão?

Semana passada o Jornal O Povo fez essa pergunta a dois especialistas. Cheguei também a ser consultado, mas como tinha muito pouco tempo para elaborar a resposta e tinha dúvidas sobre o que ela visava mesmo saber, tive que declinar de fornecê-la. Como não quero ser acusado de omitir-me quando consultado sobre assunto que me é de particular interesse, assumo essa responsabilidade aqui. Permite-me expor minha opinião de forma mais extensa.

Não se trata de pergunta simples para ser respondida responsavelmente. Já escrevi sobre o fenômeno da sensação de (in)segurança. Trata-se de algo dificílimo de ser apreendido e nem sempre dará indicadores de que uma política de segurança pública está correta ou não. Além disso, quando me foi perguntado se “podemos nos sentir seguros”, interroguei-me se não seria por demais prepotente dizer como acho que os outros podem se sentir.

Se o objetivo da pergunta é o de refletir sobre os avanços tidos no Ronda do Quarteirão durante esses quatro anos de implantação, creio que hoje já é possível buscar elaborar uma resposta, embora também não se trate aqui de resposta simples. Objetivamente, só se pode medir um programa sob a luz dos objetivos que ele visa atingir e sabe-se quais indicadores mostram que esses objetivos foram alcançados. Objetivamente, sucesso em segurança pública, mundialmente, se mede pelo acompanhamento da taxa de homicídios por 100 mil habitantes. Se fizermos uma análise do Ronda então somente por essa ótica, ele é decididamente um fracasso. Esse número só aumentou nos últimos anos e creio que ficaremos todos(inclusive o governo) muito felizes se conseguirmos trazê-lo de volta ao patamar do início do Ronda.  

Mas mesmo assim, recuso-me a parar a análise somente sob essa perspectiva. Afinal, há sempre espaço para alguém argumentar que i) há outros objetivos no Ronda que num primeiro momento podem não resultar em melhorias objetivas a curto prazo, mas que podem acontecer a longo prazo, ii) a taxa de homicídio poderia ser maior se não houvesse o Ronda e iii) há outros indicadores que podem indicar melhorias.

Vamos então buscar analisar o programa sob uma perspectiva diferente e que me parece também estava presente no início do Ronda. Houve acenos de que o programa seria uma polícia comunitária ou, como o Secretário Monteiro chamava de polícia de proximidade (já discuti sobre isso aqui). Com esse modelo teríamos uma polícia mais bem treinada e respeitosa dos direitos do cidadão. Policiais educados pareciam conquistar os cidadãos. Já descrevi como considero isso desfocado e até hipócrita aqui. Novamente, retomo a questão dos indicadores. Quais são eles para que se possa dizer que o programa foi bem sucedido sob esse ponto de vista? O índice de letalidade da polícia cearense diminuiu com o Ronda? Dito de outra forma: a polícia mata menos? Desconheço esse indicador. Se a polícia o possui, não o divulga.  Veja mais sobre como esse é um problema no País aqui.

Há algum outro indicador de qualidade do trabalho do policial que indique maior qualidade no que faz? Desconheço. E aqui vale uma pergunta a profa. Coordenadora do Laboratório de Estudos da Violência - LEV), uma das entrevistadas pelo O Povo. Ela  respondeu que acredita que hoje " o ronda dispõe de equipes policiais consideravelmente experientes" e que por isso podemos nos sentir mais seguros. Mas essa experiência é algo positivo? Pode-se dizer que estão implantando uma nova mentalidade ou aprenderam na rua com os que lá estavam?? Não tenho dados para achar que essa mudança de mentalidade é o que ocorre. Tenderia a achar que o que ocorreu com aqueles que compunham as primeiras turmas, que foram para a rua com pouquíssimo tempo de treinamento,  é exatamente o oposto (veja a tragédia que isso causou aqui). Mas não quero deixar meus sentimentos contaminarem meus argumentos. Se há algo de concreto que fortaleça a opinião da profa., queria muito conhecer. 

A taxa de homicídios seria maior se não houvesse o Ronda? Essa pergunta é ainda mais difícil de responder. Na verdade, essa taxa no Ceará vinha se mantendo estável (em patamar alto, é verdade) nos últimos 10 anos. No final do governo Lúcio Alcântara houve um pequeno aumento. Impossível dizer se era prenuncio de uma ascensão meteórica que seria ainda maior sem o Ronda. Mas é pouco provável.

Há outros critérios que merecem ser analisados? Por exemplo, parece ser consenso na população de que há maior visibilidade da polícia. Vê-se muito mais polícia do que antes. Mas isso é indicador de resultado? Há algum estudo específico que associe essa maior visibilidade a uma redução da violência ou da violência que seria potencializada sem a presença? Desconheço. Certamente esse fator é impactante na sensação de segurança. A população sente-se mais segura quando vê a polícia. Isso é bom, mas tem seus limites (já comentei sobre isso aqui). Principalmente se os casos de abuso de autoridade aumentam (novamente aqui solicito a divulgação desse número que não é transparente).

No final de tudo, caro leitor, devo dizer que essa análise que faço é propositadamente incompleta sob alguns pontos de vista, porque o Ronda é só um programa e a Segurança Pública exige uma política. É algo muito maior e que perpassa até os próprios órgãos subordinados à Secretaria de Segurança. Mas uma coisa posso afirmar categoricamente. Se não houver um trabalho consistente de definição e acompanhamento dos indicadores que permitem avaliar os objetivos do sistema de segurança, não se pode responder responsavelmente às perguntas feitas pela mídia e pela sociedade. E esses indicadores devem ser acima de tudo, transparentes. Se isso acontecer, a própria pergunta feita pelo jornal deixa de fazer sentido, pois ela terá resposta imediata com o simples acompanhamento público dos indicadores que mostram ou não o atingimento dos objetivos almejados.