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quarta-feira, 2 de março de 2011

O Que Mudou na Computação ?


A computação faz cada vez mais parte de nossas vidas. Quando decidi por esta carreira em 1983 não tinha a menor ideia do quão impactante ela seria. Sabia que era algo “do futuro” (literalmente), mas não tinha nenhuma pista de que futuro seria este. Vez por outra reflito sobre o que mudou da época que comecei para cá. A base da computação mudou durante esses quase trinta anos?

Na faculdade estudei, grosso modo, as mesmas coisas que meus alunos estudam hoje. A necessidade de construir modelos computacionais para representar o mundo real estava presente naquela época como hoje em dia. Dominar o manuseio do símbolos e das abstrações (representados pelas linguagens de programação) nos diferentes níveis, sejam o das aplicações, comumente chamadas de sistemas de informação, sejam os de software básicos como sistemas operacionais e banco de dados era a atividade predominante. A compreensão da arquitetura do computador e as formas de organizar e manipular a informação aliava-se às essas outras atividades mencionadas. Não é a toa que as disciplinas de teoria da computação, banco de dados, estrutura de dados, linguagens de programação, análise de sistemas, redes de computadores ainda estejam presentes nos currículos dos cursos de computação mundo afora.

Mas isso não é intrigante? Como pode uma ciência ter evoluído tanto, ser hoje tão ubíqua e mudar tão pouco? Não falta algo na nossa formação? Quando penso em responder a estas perguntas sempre me vem uma coisa à cabeça: falta compreender melhor as pessoas. Creio ser essa a grande diferença da computação de hoje da de outrora.

Trinta anos atrás, os programas que desenvolvíamos geravam resultados que eram apropriados pelas pessoas de uma forma muito elementar. Produzíamos relatórios a serem lidos, via de regra por burocratas (sem sentido pejorativo), pois o objetivo era processar os dados. À época o computador era algo raro, grande, caro, excêntrico. Era uma máquina compreendida por poucos. No mundo dos mainframes (grandes computadores corporativos) a relação daqueles que o manipulavam (nós, os informáticos) com aqueles que iam usar seus resultados era distante e com um formato predefinido. Iríamos gerar as listagens de correntistas para uso dos bancários, a listagem dos produtos no estoque, as listagens dos funcionários com seus salários, etc.

Não tinha o menor sentido falarmos em interação humano-computador. A interação era humano-listagem de computador. Com o advento do PC e depois da Internet tudo isso se transformou radicalmente. Fazemos software que são usados pelas pessoas para fazer tudo e cada vez mais um pouco. Do micro-ondas à geladeira, passando pelos ipods, ipads e iTVs tudo requer interatividade. Como produzir isso sem compreender os meandros da comunicação entre as pessoas e delas com as máquinas? Nossos currículos se atualizaram para nos prepararmos a essa nova realidade?

É bem verdade que IHC (Interface Humano Computador) passou a fazer parte dos currículos de referencia dos cursos de ciência da computação, mas creio eu, ainda de forma incompleta. A comunicação, lingüística, sociologia e psicologia cognitiva para exemplificar algumas áreas parecem-me ser hoje cruciais para um profissional de computação. E não estou aqui querendo falar de alguém que vai fazer pesquisa. Penso mesmo em alguém que acaba de se formar e quer empreender. Sem base para compreender toda a dimensão do que é um software na era digital alguém pode inovar? Ainda há espaço comercial para o desenvolvimento tradicional de software corporativo, mas não é mais aí que está o futuro. O futuro está em fazer software para as pessoas no seu dia-a-dia. Para isso precisamos compreender o que as motivam, quais suas intenções, suas reações e suas relações. Os softwares vão de mais em mais permear tudo isso. 

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