O texto anterior exemplifica as deficiências do policiamento do Ronda Quarteirão em uma cena cotidiana que eu mesmo havia presenciado. Mencionei o quanto a aparente simples tarefa de patrulhamento a pé requer uma postura observadora, proativa e, acima de tudo, atenta. Algo raro de se conseguir e que pouco tenho visto nas polícias brasileiras de uma forma geral.
Não pensei que teria um exemplo tão marcante para ilustrar o que venho dizendo. Na semana passada três guardas do Ronda Quarteirão (nome do batalhão dito de policiamento comunitário do Estado do Ceará) foram assaltados por dois homens em uma moto. Suas armas e coletes foram levados e os assaltantes, ainda hoje, não foram encontrados. Só tenho informações sobre o ocorrido através da mídia (veja matéria jornalística aqui), mas creio não ser exagero creditar as causas da ocorrência a despreparo dos policiais. Seria por demais simplista culpar especificamente os policiais em questão, bem como poderia ser leviano dizer que todos são assim.
Mas acredito que fatos como esse ocorrem, dentre outras razões, pelo problema de postura que tenho apontado. Como justificar que policiais que estão em maioria possam ser rendidos dessa forma? Tinham por obrigação apresentar uma postura observadora e atenta que certamente seria também preventiva. Não estamos falando de bandidos fortemente armados e em maior número e organização como as situações que as vezes presenciamos em grandes metrópoles brasileiras. Estamos falando de alguém que se aproxima dos policiais até o ponto de rendê-lo com uma arma na sua cabeça.
A ocasião é adequada inclusive para enfatizar um detalhe que deve pode ter passado desapercebido. Leiam o trecho abaixo
Quando o reforço policial apareceu, os bandidos já haviam ido embora levando uma pistola de calibre Ponto 40 (0.40) e um colete à prova de bala, ambos pertencentes à PM, e uma pistola de calibre 380 ACP, pertencente a um dos PMs, mas que ele, estranhamente, usava mesmo estando de serviço e fardado. O Comando do Ronda do Quarteirão foi avisado do caso e prometeu investigá-lo, mas, até a noite passada não havia sido descoberta nenhuma pista dos ladrões.
A matéria do Jornal Diário do Nordeste diz que uma das armas roubadas foi um 38 que um dos policiais “inexplicavelmente”estava usando, visto que não se tratava de sua arma oficial. Porque um policial usaria uma arma extra àquela que a corporação lhe dá o direito de usar? Essa prática era comum tempos atrás e tinha fins nada louváveis, visto que elas eram usadas por policiais que não respeitavam os direitos humanos. Um batalhão, dito de policiamento comunitário e formado em sua maioria por jovens policiais, pode aceitar esse tipo de prática?
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