Já escrevi sobre o quanto precisamos avançar em termos de qualificação policial não só em relação à postura quanto aos direitos humanos, mas igualmente à postura quanto à ação policial em si. Muitas vezes são coisas tão simples, mas que indicam tanta coisa.
Tenho exercitado um hábito simples de sempre observar a postura de policiais que fazem patrulhamento a pé. Nas mais diferentes cidades, procuro conversar com policiais, pedir informações ou simplesmente observá-los como se postam nas ruas. Acredito que o simples patrulhamento a pé é uma amostragem da qualidade do policiamento de uma região e mesmo de uma cidade. Não é a toa que as brasileiros se impressionam tanto quando vão a Inglaterra. Os guardas de rua lá passam todo o seu tempo de patrulha, digamos, patrulhando. Pode parecer algo óbvio o que estou dizendo, mas infelizmente nossa cultura está mais para o que o ex-secretário de Nacional de Segurança Pública chama de “policial espantalho”.
Os policiais, andam sempre em dupla, posicionam-se no local a ser patrulhado e pronto. Só isso. Não ocupam o espaço. Diminuem-se. Ficam quase invisíveis. A conseqüência disso é que todo tipo de ilegalidade ocorre a cada segundo na frente dos mesmos e eles nada fazem. É como se as ordens que recebessem (se as receberam) fossem simplesmente no intuito de ficar naquele ponto e pronto. Se alguém chamar ou inquirir, pode até responder, mas em caso contrário, fique quieto.
Deixem-me exemplificar o que digo, com o que observei nesse fim de semana na Beira-mar de Fortaleza cedo pela manhã. Conversava com amigos após uma corrida na praia e observei como os dois policiais do Ronda se portavam. Estavam os dois de costas para a rua conversando descontraidamente. Naquele mesmo instante em que observávamos a postura dos mesmos, um carro estacionou bem na esquina atrás dos mesmos do outro lado da rua. Uma clara e evidente violação da lei de trânsito. Um dos amigos que estava comigo logo observou que aquilo iria trazer enormes problemas para os ônibus de turismo que dobravam naquela esquina. Quase que imediatamente após esse comentário, um ônibus chegou. E aconteceu exatamente com o previsto. Ele não conseguiu fazer a curva e parou o trânsito. Vejam, o ônibus estava parado na rua quase em cima dos policiais que mantiveram-se de costas conversando tranquilamente e sem perceber o que se passava. Depois de uma série de manobras, o ônibus conseguiu desviar-se do carro (embora quase atropelasse os policiais J) e seguiu em frente.
A cena deve ter se repetido com outros ônibus. Não ficamos para assistir. Interessante, é que outro amigo que estava comigo ainda tentou justiçar a postura deles. Não eram guardas de trânsito, disse. Mas são agentes da lei. Têm a obrigação de posicionar-se. Se estivessem patrulhando, bastava que dissessem ao motorista que não poderia estacionar ali. Evitaria a infração. Evidente, que espera-se que sejam firmes mas corteses. Aqui está outra grande dificuldade. Policiais, como agentes da lei, nem sempre agradam, sejam comunitários ou não, principalmente quando agem em um contexto onde o normal é infringir a lei. Ressalto que a polícia não tem o direito de agir de forma que desrespeite os direitos do cidadão. Agora, omitir-se nunca será a alternativa correta. Pequenos detalhes que podem nos dizer do muito que ainda precisamos fazer.
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