O Jornal O Povo fez recentemente uma matéria sobre o sistema de capacitação feito pela UECE para os iniciantes no Ronda do Quarteirão. A relevância do tema já havia sido mencionada nesse blog. Na matéria, os entrevistados são da SSPDS, da UECE e da PM. Não admira que as avaliações sejam todas muito entusiastas.
Já escrevi sobre o que considero os fundamentos da qualificação policial. Sem querer ser repetitivo, vale a pena comentar o seguinte. O curso de preparação para policiais ministrado em torno de quatro meses tem uma carga horária de mais de 1000 horas. Para termos uma referência, vejam que, um aluno universitário faz aproximadamente 360 horas de aula em um semestre (5 meses de aula). Olhe que quem cumpre tamanha carga horária precisa se dedicar bastante. Será que os futuros policiais, com essa quantidade de carga horária em tão pouco tempo, têm capacidade de cumprir suas atividades com qualidade? Pode-se esperar qualidade de aprendizagem com essa avalanche de informação despejada ?
Sobre o programa de disciplinas, embora fazendo parte de uma grade da SENASP, carece outro comentário. A SENASP (Secretaria Nacional de Segurança Pública) sugere linhas mestras. Cabe a cada polícia definir os detalhes de como será o curso e zelar para que o mesmo seja eficaz. O grande problema é que a estratégia de contratação e capacitação em massa em curto espaço de tempo que tem prevalecido nos últimos anos não tem como privilegiar a qualidade do ensino. Aulas práticas (que deveriam ser a maioria) com acompanhamento personalizado são dificílimas de serem implementadas quando se fala de centenas e as vezes milhares de alunos. A avaliação do aprendizado então! Como todo o conteúdo é apreendido? Aliás, ele é mesmo apreendido? Qual o acompanhamento que é feito? O trabalho policial exige muita prática. Já mencionei em texto anterior sobre a necessidade de aquisição de excelência nos conceitos, mas sobretudo nas AÇÕES. Algo que comparei à intuição de um bom atleta numa competição. Reações de reflexo e frente à pressão devem ser tomadas quase que por instinto. Isso requer muita prática. Senão vejamos novamente a questão do exercício do tiro. Nas polícias boas no mundo, a quantidade de tiros depende da qualidade dos acertos. Por isso, um policial americano precisa acertar 95 de 100 tiros. Qual a nossa exigência nesse sentido?
Outro exemplo. A matéria jornalística do OPovo mostra como as aulas para aprender a dirigir a Hilux são essencialmente téoricas. Os recentes acidentes com o Ronda são indicadores que há um problema.
Treinar cerca de duas mil pessoas de uma só vez é uma tarefa hercúlea e fadada ao sacrifício da qualidade. Dentre as desvantagens mencionadas percebe-se ainda a pouca padronização de procedimentos (visto que no próprio curso inicial, os professores têm que se revezar para dar conta da demanda).
Por tudo isso, confesso que surpreendeu-me o título alvissareiro na matéria que usa a expressão “tiro certeiro”. Qual é mesmo o alvo?
2 comentários:
Qual é a alternativa para o governo do estado nas próximas eleições? Por que o governo atual não tem noção dos próprios erros e continua repetindo-os? Ou sempre foi assim? Ou piorou? Ou fez foi melhorar? Levando em consideração as decisões de fazer o novo centro de convenções na Washington Soares e depois fazer um aquário inútil, acho que fez foi piorar.
Esse excesso de alunos sendo formados em tão pouco tempo me parece uma compra de votos disfarçada.
Voltar para Fortaleza está se tornando uma decisão cada vez mais difícil.
Sejamos otimistas. Cada vez mais com gente qualificada e com olhar crítico, mais melhoraremos. Por isso, voltem logo!!!
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