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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Estrago de Uma Pergunta Errada


Digo sempre a meus alunos que uma boa pergunta é mais importante do que as respostas dadas a ela. Quero dizer que a identificação de um problema relevante é o primeiro passo para uma investigação frutífera. Perguntas erradas levam, no mínimo, a gasto de energia e muitas vezes levam a perda de foco para o que é relevante.

A motivação para essa introdução veio após, ler pela segunda vez, o jornal O Povo abordar a questão de que o perfil do Secretário de Segurança deve ser outro que não um delegado ou militar. Dimitri Túlio foi a primeiro a propor, em seu artigo  “Chega de delegado e general”, um “novo perfil” e de quebra sugeriu o nome de Ivo Gomes para secretário da pasta. Justifica sua escolha por considerar que ele seria um “gestor sistemático e orgânico”  (seja lá o que isso signifique, foi aplicado como algo positivo). O mesmo teria ainda apoio político e outras coisas mais que podem ser lidas no próprio artigo aqui

Já na ocasião tinha achado a questão mal colocada, mas hoje ao vê-la recolocada decidi expor aqui meu incômodo.

Primeiramente, acho que para ser Secretário de Estado uma pessoa deve ser competente, ponto.  Reconheço que não é fácil encontrar gente boa para isso. Mas achar gente competente é desafio para todos os setores. Eleger um ou outro perfil com os capazes de melhorar a Segurança Pública é por demais reducionista. Acaba por desviar o foco dos problemas mais relevantes. Esclareço logo que não estou aqui contra ou a favor de quem quer que seja, muito pelo contrário. Entendo, no entanto, que a questão mais relevante é sobre que política de Segurança teremos. Os quatro primeiros anos da gestão atual na área de segurança foram marcados por ações pontuais, conceitualmente confusas e alicerçadas num programa gerado na campanha eleitoral com claro apelo de marketing.

O que deveríamos estar discutindo era a política de segurança (ou a falta dela) e as condições institucionais, políticas e sociais que devem ser criadas para que a Segurança Pública avance. Não pretendo ser repetitivo sobre quais são essas condições, já expus sobre alguma delas extensivamente nesse blog (veja um pouco aqui, aqui, aqui e  aqui). Resta-me enfatizar que se perdermos o foco dos reais problemas podemos continuar a formular perguntas erradas. A conseqüência disso é que a sociedade acaba por não se envolver da questão da forma que se necessita. 


Reduzir o problema à escolha de um nome ou perfil de gestor só vai  aumentar o estrago atual e, por fim, acabar com a reputação de gestores competentes (delegados, generais ou outros quaisquer). 

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