Em comparação com europeus e americanos, uma das posturas que mais considero marcante nos brasileiros, e mais ainda em nordestinos, é o hábito de “reparar” algo nos outros. Quem morou no exterior percebe mais claramente esse hábito. É algo tão enraizado na nossa cultura que poucos que aqui vivem percebem o quanto é presente. Morei na Europa e nos EUA. Ao conviver com outras pessoas lá, percebe-se claramente a preocupação de todos em respeitar a imagem e as decisões dos outros. Por exemplo, se você vai a um cabeleireiro, ninguém no trabalho diz “cortou o cabelo, ne’!”.
Quando falo sobre isso a amigos, alguns me dizem: “puxa como deve ser sem graça”. Pois é, pode-se até atribuir esse tipo de postura a frieza e distância, mas acho que é muito mais uma forma de respeito ao espaço dos outros.
Creio que nós, sob a desculpa da intimidade e convivialidade, exageramos. Reparamos nos outros tudo que os marca. É uma espécie de bullying institucionalizado. Você está magro ou gordo, velho ou novo, cabelos brancos ou pretos, curtos ou longos e por aí vai. Reparamos cada detalhe nos outros como se precisássemos disso até para nos aproximar, para ter intimidade. Não me surpreende quando leio sobre a procura crescente por cirurgias plásticas. Deve ser um peso grande para quem tem algo físico a ser notado a todo momento.
O cearense em particular além de comentar sobre alguma característica de alguém, ainda o faz frequentemente em tom jocoso. Quem vestido de preto não recebeu o comentário “está de Zorro, eih”. Se veste branco, “Lá vem o doutor ou o pai-de-santo”. Faz-se isso sem muito cuidado e frequentemente se passa dos limites. Algumas pessoas ao serem apresentadas a outras, já reagem com uma piadinha ou comentário engraçado. Não consigo me habituar com isso confesso. Mas como se diz por aqui “perde-se um amigo, mas não a oportunidade de uma piada”.