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terça-feira, 1 de abril de 2008
Por Uma Polícia “Esperta”
David Bayley, americano de 75 anos, é uma referência mundial em segurança pública. Este pesquisador da Universidade de Albany escreveu vários livros que se tornaram leitura obrigatória para qualquer estudioso e prático no assunto. Sua palestra no II Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança constituiu-se em um dos pontos altos do evento. De forma simples e bem didática, ele respondeu a pergunta a qual ele mesmo formulou. O que a Polícia pode fazer para controlar a criminalidade? Resposta: ser esperta e ser justa (minhas traduções para “be smart and be fair”). São os dois pontos fundamentais que dirigiram a apresentação. Para ele, “ser esperto” é ter condição de responder se o que se está fazendo está dando certo. Ele disse que já viajou o mundo todo e sempre testa se uma polícia é boa com um joguinho de perguntas e respostas com o chefe da polícia. Pergunta primeiro o que a polícia está fazendo para controlar o crime. Independentemente da resposta, pergunta depois se isso dá resultado. A terceira pergunta, então, é crucial. Que dados possui para comprovar que o que está fazendo dá resultados. Disse que na sua grande maioria as polícias no mundo não sabem responder a todas essas perguntas. Muitas delas não respondem nem as duas primeiras. Uma polícia esperta precisa aplicar métodos policiais ou mesmo não policiais para resolver problemas particulares em locais específicos. Quando se refere a resolver um problema específico, ele se aproxima do conceito de Problem-oriented Policing (veja o que escrevi sobre isso aqui) que é um conceito bem popular nos EUA nos últimos dez anos. A idéia é de que a polícia tem que problematizar a criminalidade considerando as especificidades do local, as razões sociais, enfim o contexto geral do ambiente, para então, propor soluções que não precisam ser necessariamente somente de ações de polícia. Enfatiza que medidas genéricas, em geral, não resolvem. Principalmente em grandes cidades, há muitas diferenças entre bairros e áreas, entre classes sociais, entre cidadãos com faixa etária diferentes, etc. de forma anedótica, Bayley deu vários exemplos de como a polícia pode controlar a criminalidade com medidas não policiais e sem violência. Por exemplo, contou um caso em que traficantes e gangueiros abandonaram um lugar de tráfico só porque detestavam a música clássica que os policiais juntamente com o prefeito começaram a promover na área. Outro exemplo foi o da prostituição masculina que teve que mudar de área porque a nova iluminação pública da região, em combinação com as roupas que usava, os deixava com uma cor meio roxa e não os deixava atrativos. Trata-se de exemplos quase que caricaturados que visam ilustrar que a criatividade deve estar presente na busca das soluções. Em resumo, ser esperto é estar em avaliação continua. Vejam que esse discurso é algo muito parecido com o da grande maioria dos gurus de business que morrem de ganhar dinheiro falando sobre como ser um bom chefe, um líder, planejador e outras mais. Na verdade, a novidade do discurso de Bayley é que ele traz para o contexto policial toda uma problemática já presente nas grandes empresas. Ele mostra a necessidade de se ter mecanismos gerenciais voltados a busca por resultados. A estruturação de uma polícia esperta requer seminários de avaliação com policiais operacionais, a criação de unidades de polícias que testam novas estratégias, a criação de uma unidade dentro da Polícia só para realizar a avaliação dos programas, o desenvolvimento de colaborações com outros serviços como as universidades e, por fim, a criação de uma unidade “in-house” que pesquise sistematicamente por conhecimento a ser aplicado.
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