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quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Estrago de Boas Idéias

Já tinha mencionado nossa incapacidade de implementar boas idéias no contexto da tecnologia da informação na segurança pública (clique aqui para acessar o texto) . Na verdade acredito que temos, enquanto país, uma baixa capacidade de realização que chega a ser traumática. Somos uma sociedade que privilegia fortemente a concepção de idéias, mas pouco a realização destas. A conseqüência disso é um constante estado do que chamo de “estrago de idéias”. Ou seja, idéias que são boas, mas por não serem corretamente implementadas acabam sendo estigmatizadas. No contexto da Segurança Pública do Ceará, presenciei em alguns momentos essa situação. A mais marcante delas se refere ao CIOPS (Centro Integrado de Operações de Segurança). Fui o idealizador e coordenador do projeto CIOPS no Ceará. Um dos pioneiros no Brasil, até hoje ele é referencia nacional, pois contempla uma série de ferramentas que trazem qualidade e transparência à gestão. O CIOPS grava todas as ligações de pedido de socorro feitas pelo cidadão. Pode-se verificar imediatamente se o atendimento foi correto ou não. Um moderno sistema de computador registra o tempo de atendimento em um alto e variado nível de detalhe. Sabe-se claramente quanto tempo se levou para chegar na ocorrência. As viaturas de patrulha também são monitoradas por satélite e acompanhadas em um mapa digital dentro do microcomputador de cada policial que realiza o despacho e coordenação das viaturas na rua. Antes da implantação do CIOPS era muito comum o cidadão ligar para o 190 e este número estar ocupado. Com o CIOPS a capacidade de atendimento aumentou significativamente. Poderia descrever muito mais. Quase todos os Estados da federação vieram conhecer o modelo do CIOPS do Ceará e nele se inspiraram para a criação de seus centros. Era de se esperar que fossemos orgulhosos de nossa criação, não? Infelizmente, esse não é sempre o caso. Freqüentemente, escuto críticas a atendimentos realizados (ou deixados de serem realizados) pelo CIOPS. Não me parece que se esteja utilizando todo o potencial que o CIOPS tem e muito menos estejam sendo dados os recursos necessários para tal. Há claramente uma situação de “estrago da idéia”, pois os problemas apontados são sempre de operacionalização da polícia em si. Por exemplo, em um final de semana cerca de 30% das chamadas de atendimento não são atendidas por falta de viaturas. Impossível manter uma boa idéia com tamanha deficiência. A idéia-mor do CIOPS é a de um completo sistema gerencial que dá apoio às ações policiais. No entanto, ele não substitui o trabalho da polícia. Mágica não dá para fazer.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tem coisas que eu não entendo.

Se o CIOPS é realmente, tudo isto que você diz, temos quase uma varinha de condão na mão.

O que você atribui a "má utilização deste instrumento" ? Falta de compreensão do corpo estratégico do Governo ? O quanto pior melhor ? Ter sido feito em outros governo e os seguintes não deram a importância devida ?

Ricardo Rebouças disse...

Grande Prof. Vasco,
antes de tudo um grande abraço! Esse é meu primeiro comentário no seu blog. Gostei do texto, embora não ache que sejamos incapazes de implementar boas ideias ou que as implementemos de forma errada. Ou pelo menos vejo de outra maneira. Vc descreveu com muita propriedade o caso do CIOPS. Posso dizer que sou testemunha que foi um caso bem implementado, pois trabalhei com voce na sua implementação. No meu modo de ver, o que aconteceu com o CIOPS, enquanto "centro estratégico", foi que a ideia foi desvirtuada por motivos que vão além de minha compreensão. Isso sim acho que somos campeoes enquanto pais e temos diversos exemplos dessa prática: idéias geniais, implementadas com sucesso e, lamentavelmente, desvirtuadas. Nesse contexto posso citar o Programa de Saude da Família(PSF) de atenção básica a saúde. Umas das premissas desse programa era o conhecimento da comunidade pelos profissionais de saúde. No entanto o PSF terminou por servir de leilão salarial para profissionais de saúde e, consequentemente, a mudança constante de profissionais para os municipios que pagam um pouco melhor. Como uma mudança contante de profissionais permite o conhecimento da comunidade? O proprio CPMF tinha uma missão exemplar que poderia ser expandida para se investir em outras áreas senão a de saúde. O programa Bolsa-Escola para garantir instrução de nossas crianças, acredito que em seu início teve o impacto desejado, porém sua continuidade é duvidosa. Infelizmente, todos foram desvirtuados. Acredito que temos uma dificuldade tremenda em dar continuidade as nossas boas ideias. Tê-las e implementá-las até que conseguimos. Ricardo Rebouças.

Vasco Furtado disse...

Grande Ricardo,
Fico feliz com sua participacao no Blog. Quanto a seu comentario, concordo que ha um problema de continuidade.Ja alertei para isso em outros textos. Acho, no entanto, que temos os dosis problemas. Somos fracos an impementacao e quando o fazemos nao temos condicao de dar sustentabilidade.