"Think outside the box."
Essa expressão é muito usada nos EUA para referir-se à necessidade, que muitas vezes se impõem, de se pensar diferente. Abrir horizontes. Quebrar paradigmas. Só assim se consegue inovar e resolver problemas complexos Em se tratando dos efeitos deletérios que as drogas e a guerra contra as mesmas trazem às sociedades, só quebrando paradigmas. Está claro que a forma como o mundo atualmente aborda o problema é fracassada.
Surpreende-me a reação negativa de alguns às iniciativas de se abrir um debate sobre a necessidade de se aumentar o rol de drogas legais. Aqui em Fortaleza, a marcha nesse sentido (cunhada de Marcha da Maconha) foi proibida pela justiça. Os poucos manifestantes que se reuniram no local, por não terem sido informados da proibição, foram intimidados pela Polícia. Mesmo jornalistas com posição progressista como Fábio Campos do O Povo se posicionaram veemente contra à manifestação.
Não tenho como discutir o mérito da questão da legalização de drogas como a maconha e cocaína. Não possuo conhecimento suficiente sobre o tema que permita-me formar uma opinião segura. Mas é exatamente por essa minha ignorância que considero que o debate sobre a questão deve ocorrer. Só assim se consegue aprofundar o tema e gerar conhecimento. Não precisa ser especialista para perceber que o mundo está perdendo o combate contra as drogas. Não é a toa que vozes vindas de fontes diversas e ecléticas como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estão a clamar por uma nova política de descriminalização.
O uso de drogas como maconha para tratamentos médicos é igualmente barrado por um enorme bloqueio preconceituoso. Já há muito conhecimento médico dos efeitos positivos da maconha em tratamentos, inclusive contra o câncer. Um dos maiores especialistas mundiais em drogas, o psicofarmacologista Elisaldo Carlini, ligado à Unifesp, aponta a existência de estudos feitos com animais em que se revela que o princípio ativo da maconha ajuda a combater a depressão e fortalece os indivíduos em situações de estresse.
Em outro estudo, durante três anos, um grupo de 50 viciados em crack se submeteu a uma experiência comandada por psiquiatras da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo): a combinação de terapia com maconha. O resultado do teste ganhou repercussão mundial, especialmente nos EUA, onde foi publicado em revistas científicas. Daquele grupo, 68% trocaram o crack pela maconha. Tempos depois, todos os que fizeram a troca não usavam nenhuma droga.
A maconha serviu para reduzir o desejo pelo crack, enquanto se esperavam os efeitos da terapia para que, com apoio familiar, o jovem pudesse reorganizar sua vida.
Os especialistas não só conhecem dos efeitos da maconha na concentração, no aprendizado e na memória, mas sobretudo, sabem que sua descriminalização não é uma medida de fácil implementação. Visões preconceituosas impedem discussões honestas e mesmo o direito de fazer ciência é negado. Precisamos criar um ambiente favorável às opiniões divergentes. O fato da lei proibir o uso e a apologia do consumo não pode ser, de maneira alguma, argumento para impedir a discussão sob o tema. Afinal de contas, as leis não são imutáveis e as soluções inovadoras não virão sem muita pressão e movimentação social.
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