A grande estrela da web nesses últimos dias no Brasil tem sido o Twitter. O fenômeno “CALA BOCA GALVAO” foi largamente explorado pela mídia impressa e está fazendo mais gente refletir sobre o que ele realmente significa. Não é o tipo de reflexão nova para mim. Tenho trabalhado com a noção de partipação e interação na Web e tentar compreender as diferentes nuances e comportamentos das pessoas na web é um desafio que já me acompanha.
A capacidade de propagação de uma mensagem em uma rede social é estupenda. Já expliquei um pouquinho da matemática que rege isso aqui. Em suma, a rede que se forma com os seus amigos, amigos de amigos, etc. cresce exponencialmente. Isso explica porque uma mensagem que se propaga nessa rede pode atingir tantas pessoas. Veja o seguinte exemplo. Suponha que você tem cinquenta amigos numa rede social (podem cinqüenta seguidores no Twitter). Suponha também que, em média esses amigos também têm, cada um, cinquenta amigos e assim sucessivamente. Se você enviar uma mensagem para os amigos e pelo menos dez desses amigos a repassarem e por sua vez mais dez dos amigos de seus amigos fizerem o mesmo já serão mais de mil pessoas a receber a mensagem. Como é muito comum termos mais que cinquenta amigos e a propagação vai normalmente em profundidades maiores que 3, os números são bem mais impressionantes. Vamos expandir mais três níveis dessa rede mantendo essa proporção de dez amigos que repassam a mensagem. Nesse caso teremos a mensagem atingindo 1 milhão de pessoas!
É por isso que dominar os segredos das redes sociais é um desejo tão cobiçado por marqueteiros, homens de negócios, jornalistas, religiosos, enfim, todos que querem propagar uma mensagem.
O Twitter tem uma característica particular. Por ter restrições do tamanho de sua mensagem (somente 140 caracteres) as mensagens que nele trafegam ou são indicações para textos maiores ou são mensagens curtas que, obviamente, não possuem muita profundidade. Essa característica é determinante, pois faz com que mensagens bem humoradas quase sempre irônicas bem como os clichés dominem o ambiente. Não exigem uma leitura muito criteriosa, nem muita reflexão e por isso acabam sendo repassados (retuitados). Isso pode dar uma falsa impressão de mobilização. Digo falsa, porque muitas vezes não há muita substância de proposta. Reflete somente um estado de espírito. O CALA BOCA GALVAO é um exemplo clássico. Não exigia uma mobilização real. Refletia sim, uma demonstração de insatisfação. Alguns tentaram aproveitar a onda de insatisfação e propuseram um dia sem a Globo. Nesse caso, em que uma real mobilização era necessária (a ação de não assistir a televisão na Globo) o resultado é bem menos satisfatório. Na verdade, os últimos números indicam que a popularidade da Globo nem se mexeu e chegou mesmo a aumentar.
Ou seja, não é tão simples usar a capacidade de mobilização das redes sociais para acabar com a corrupção, para defender a adoção de uma nova matriz energética que emita menos poluentes, para fiscalizar o poder, etc. São causas que exigem engajamento real e muito mais que uma demonstração de insatisfação que se demonstra com uma repassagem de mensagem. Torço para que avancemos nisso, mas creio que não será só com o Twitter que isso ocorrerá. Acredito ser preciso usar os diversos meios de veiculação de informação de forma combinada para fornecer mais consistência às mobilizações.
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