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terça-feira, 20 de maio de 2008
Teses em Prateleiras
Na semana passada, participei de uma mesa redonda sobre Inovação no auditório Luis Esteves na Federação das Indústrias do Estado do Ceará. De uma forma geral, percebe-se uma convergência no discurso de que a inovação é necessária e que a cooperação com a academia é o caminho . Aliás, já escrevi sobre isso, mas alguns discursos que escutei recentemente levam-me a revisitar o tema. Na mesa redonda da FIEC, ressalte-se a palestra do Prof. Carlos Pacheco da UNICAMP. Pacheco foi secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia quando Bresser Pereira foi ministro. Teve participação ativa na formulação e operacionalização dos fundos setoriais que são a mola mestra do motor de financiamento em C&T que hoje faz tanto sucesso no País. Pacheco de forma muito elegante disse que o primeiro requisito para se ter cooperações persistentes entre Empresa e Universidade é de se compreender que esses dois agentes possuem agendas próprias. Dito de outra forma, ele estava a dizer que a Universidade não existe só para fazer inovação para as Empresas. A produção de conhecimento é algo eminentemente vasto, eclético, difuso, enfim, não pode ser podado nem restrito, muito menos enquadrado. É na liberdade de se pensar o inusitado, de propor o diferente e de estudar o que aparentemente não se vê aplicação, onde se encontra a capacidade de se fazer grandes descobertas. Essa liberdade não necessariamente está ligada a falta de foco ou implique redução de qualidade. O mecanismo que rege mundialmente a produção de conhecimento é bem definido e há rigor e exigência em todos os momentos. As publicações científicas são avaliadas por comitês de especialistas o que faz com que os pesquisadores sejam obrigados a buscar qualidade no que fazem. Não fazem somente o que lhes “dá na telha” como pode parecer a alguns. Teses e artigos científicos que não têm aplicação prática imediata não estão somente “expostas nas prateleiras” como gostam de expressar vozes incompreensíveis desse contexto. Essas teses alimentam o ciclo de produção de conhecimento, pois são objeto de estudo de outros que podem em futuro, muitas vezes longínquo, achar utilidades práticas para as idéias ali presentes. Interessante é que as mesmas pessoas que falam de teses em prateleiras são as primeiras que gostam de mencionar Havard, Stanford, MIT, etc. como exemplos de instituições de referencia no contexto acadêmico. Só que são exatamente essas instituições que produzem o maior número de “teses de prateleiras”. Conseqüentemente são as mais cobiçadas pelas Empresas para a realização de parcerias. O motivo é simples e fácil de entender. O que as Empresas querem com cooperações com as Universidades é ter acesso ao que não conhecem, ao que não conseguem produzir, querem a novidade. E sabe onde elas estão? Nas tão estigmatizadas prateleiras.
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Um comentário:
Recentemente, estava conversando com uma amiga portuguesa (economista) e ela me disse o seguinte: "a minha tese consiste em uma compilação pura e simples dos artigos que publiquei. Simplesmente escrevo uma introdução, anexo todos os artigos e finalizo com uma conclusão. É isso que eu vou defender no mês que vem". Nossa! Isso me fez pensar que a discriminação em relação as teses de prateleira faz todo sentido apartir do modo burocrático como são feitas. Um calhamaço de papel com conteúdo monótono e além do que realmente se faz necessário para inovar. Não sei se é cultural dos economistas, mas achei o método deles dinâmico o suficiente para a inovação não parar na prateleira. A final, a inovação propriamente dita foi exposta muito antes da tese tomar corpo, através dos artigos científicos. Na minha humilde opinião, tese como uma pilha de papel, não deveria mais existir nos dias de hoje. Não possuem o dinamismo que o mundo precisa.
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