Nas minhas recentes conversas com amigos, percebo uma nostalgia latente. O ponto comum de que todos se ressentem é da liberdade que tínhamos de ir e vir. Quando jovens explorávamos Fortaleza a pé, de ônibus, bicicleta e, eu em particular, de carona.
Tinha me esquecido do quanto eu pegava carona. Era caroneiro de todo momento. Não era somente em ocasiões especiais, para ir a uma praia ou lugar mais distante. Voltava de carona da escola quase que diariamente, principalmente quando estudava no Santa Cecília (cerca de 30 anos atrás). Dirigia-me ao sinal da Estados Unidos (hoje Sen. Virgílio Távora) com a Antonio Sales e pedia carona aos que paravam lá.
Algumas diferenças daquele tempo para cá. Não existia o flanelinha que hoje domina a maioria dos semáforos da cidade. A Antônio Sales era duas mãos o que me era crucial, pois vinha da Estados Unidos até a Barão de Studart. Mas a principal diferença era, obviamente, o fato de que as pessoas não se furtavam a oferecer-me carona. Poucos carros tinham ar condicionado. Consequentemente, o contato do caroneiro com o condutor do veículo era mais fácil. A farda da escola ajudava muito. Quando estava fardado a taxa de aceitação era muito maior. Nunca fiz a conta para saber quanto. Na época não era obcecado em “numerizar” tudo.
O desaparecimento da carona amiga é muito emblemático da forma como vivemos hoje. Não há o menor sentido nem pedir, nem dar carona. Vivemos com medo dentro de nossas casas e de nossos carros. Como chegamos a isso? Acho que naquela época já estávamos nos dirigindo ao que somos hoje. Só que não percebíamos. Agora, resta-nos reconhecer que temos uma dívida enorme a resgatar. Talvez, um dia, nossos netos voltem a pedir carona. E nós mesmos poderemos estar no carro ofertando tranquilamente uma carona amiga.
Um comentário:
Nossa... fiz muito isso! Pegava carona quase todo dia na Av Oliveira Paiva para ir ao colégio (Hildete de Sá, que na época era Farias Brito). Bons tempos!
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