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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O Trabalho é de Nossa Natureza?

Acabei de ler um artigo no Le Monde Diplomatique edição especial sobre o trabalho. Já mencionei algumas vezes nesse blog o quanto gosto deste jornal mensal. É bem verdade que ele tem um viés de esquerda tão forte que o torna, às vezes, pouco crível. No entanto, não se pode discordar de que o mesmo possui dossiês muito bem realizados sobre temas muito pouco explorados na mídia convencional. Voltando a questão do trabalho, o jornal faz um apanhado deste conceito por diversos pontos de vista. Desde o aspecto histórico até a questão econômica e política do trabalho de trinta e cinco horas na França, todos esses aspectos são abordados. Mas a pergunta mais polêmica é: o trabalho é algo inerente a nossa natureza? Essa é a pergunta de fundo que dá o tom do dossiê e que o jornal coloca a um conjunto de entrevistados. Há aqueles que argumentam que em termos biológicos não há nada que leve a conclusão que trabalhar faz parte de nossa natureza. Eles dizem que somos talhados para não fazer nada! Trabalho só quando é necessário subsistir. Uma abordagem histórica mostra que trabalhar e dizer que isto é da natureza humana vêm sendo sempre usado pelas classes dominantes, seja através da religião, seja através de mecanismos mais elaborados que passaram a ser difundidos com a revolução industrial (mídia, por exemplo). Interessante que nesse campo, comunismo e capitalismo se encontram: trabalho é necessário e devemos louvá-lo. Karl Marx considerava o trabalho como algo da constituição humana. Nem precisa dizer o quanto o capitalismo precisa de nossa dedicação ao trabalho. Não é a toa que o no país mais rico do mundo o trabalho seja tudo (nem férias existem). Mas é bem difícil refletir racionalmente sobre o trabalho, algo que nos domina tão integralmente. Algo que nos faz sentir felizes ou tristes com uma volatilidade enorme. E aqueles que não conseguem trabalho? Podem se considerar os normais e não se sentirem desintegrados da sociedade? Claro que não, dizem outros especialistas, mais afeitos as recentes teorias que consideram o aspecto da auto-realização humana como sendo de nossa natureza e que por conseguinte, elegem o trabalho como um dos instrumentos mais importantes para atingirmos essa realização. Tudo bem discutível e polêmico. Mas, enfim, adorei a leitura desses textos e do dilema que me causou. Estive percebendo como tenho estado determinístico e racional em minhas reflexões. Há sempre conclusões conclusivas (desculpem-me o pleonasmo. Ele é intencional). Esse assunto consegue me deixar totalmente incerto. Paradoxalmente, de tão incerto, ele só serve para me levar a uma conclusão óbvia e clichê (mas sincera por ser exatamente o pensamento que me vem a cabeça) : o trabalho não é tudo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Este assunto me lembra uma música que se chama RUGAS do Nelson Cavaquinho / Augusto Garcez / Ary Monteiro e diz "se eu for pensar muito na vida, morro cedo amor".

Para mim, trabalhar é algo como comer,beber,se divertir. Cada um tem e/ou cria as suas necessidades

Meio complicado para uma sexta-feira mas, é isto mesmo

Vasco Furtado disse...

Muito pelo contrario. Otimo assunto para uma sexta-feira