Recentemente, experimentei o quanto a realidade das propagandas
das escolas privadas está distante do que acontece nas salas de aula. Apresentei-me para estudar Química Orgânica a
minha filha (uma atitude a la fois nostálgica
e prazerosa). Ao começarmos veio o sentimento de que, a despeito de ser uma
excelente aluna com notas invejáveis, ela talvez não estivesse percebendo o
porque de tanta ênfase no Carbono como objeto de estudo. Mas afinal de contas, porque essa celebridade toda para um só
elemento?
Percebi que ela se apressava em memorizar as inúmeras
propriedades do Carbono, com seus nomes nada elementares, mas lhe escapava a
essência, a intuição, a motivação que estava por trás daquilo tudo. É essa
essência, no entanto, que quando se captura não se esquece jamais. Ela que
motiva o aprendizado. É ela que dá sentido e nos aproxima dos fenômenos físicos,
químicos e biológicos, mais complexos que permeiam nossas vidas. Isso é que faz
a ciência bela.
Esse fato já me deu uma indicação de que poderia haver uma
deficiência no ensino e assim, convidei-a a descobrir comigo qual a intuição
que estava por trás da preponderante posição do Carbono. Tinha certeza que
haveria material didático destinado a isso. Estava enganado. O material
didático curricular era de uma pobreza sem tamanho. Apostilas anônimas
continham textos simplórios com várias categorizações das propriedades do
Carbono e só. Nem um livro havia.
Vai Vestibular, vem ENEM, e nosso sistema educacional continua
voltado à memorização de fatos, nomes, fórmulas, etc. As escolas, ditas
melhores, são as que melhor se adaptam a esse contexto. Fica difícil gostar de
estudar. O apelo que as surpresas trazidas pelas descobertas científicas e pela
abertura de horizontes que provoca não podem deixar de ser conhecidas. Têm um
poder fantástico de entusiasmar a todos e aos jovens em particular.
E quanto
ao Carbono? Se sentirem-se curiosos, busquem descobrir com seus filhos, netos
ou jovens que os rodeiam na Internet. Foi o que fizemos e, garanto-lhes, é fascinante.
* P.S Artigo publicado na coluna Opinião do Jornal O Povo de hoje