Essa pergunta foi feita nesse domingo pelo Jornal O Povo a seis pessoas que, de uma forma ou de outra, estão ligadas à área de turismo no Estado do Ceará. Li atentamente cada resposta. Elas elencavam, por um lado, facetas positivas como nossas belezas naturais, bem como outras menos otimistas relativas às deficiências de infraestrutura e segurança.
Não mencionaram aquilo que me salta aos olhos diariamente, em especial na área turística da cidade e que acredito merecer ênfase. De uns tempos para cá, o número de pessoas que dormem nas ruas da região da Beira Mar parece-me só crescer.
Não sei dizer se há um aumento real ou um aumento na minha percepção. Talvez as duas coisas. Tenho viajado ao exterior e o choque do retorno é sempre relacionado à forma miserável como algumas pessoas (a maioria jovens) se deteriora ao relento aqui na cidade. Não é também incomum ver famílias nessa situação ou pelo menos grupos de pessoas que parecem compor uma família.
E se refizéssemos então a pergunta feita pelo jornal para algo como: Que sociedade vão os turistas conhecer? Que impressão terão do fortalezense? Que impressão terão de nós mesmos? Elas permitem-nos considerar uma dimensão de cidade maior do que praças, ruas e serviços.
Respostas a essas perguntas podem incluir um componente capaz mesmo de nos envergonhar e que está além da hospitalidade, alegria e afabilidade que gostamos de nos imputar. Podem identificar uma excessiva passividade que nos leva a aceitar inertes um convívio diário com concidadãos em situação tão penível. Se não nos indignamos a ponto de fazer nossos governantes resolverem a questão ou, talvez, de agirmos nós mesmos, será que isso não será “percebido” pelo turista? Ou será que achamos mesmo que isso não tem nada a ver conosco? Não podemos. Queiramos ou não, percebamos ou não, essa é a Fortaleza de hoje.
* Artigo publicado na coluna Opinião do Jornal O Povo de hoje
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