Tempo de eleições é sempre um período marcante na vida de um país democrático. Ótimo que seja assim. Envolve engajamento, paixão, decepção, amor e ódio. Ingredientes presentes em qualquer drama.
Institucionalmente envolve governos, ONGs, empresas, imprensa e, como não poderia deixar de ser envolve os interesses econômicos essenciais para a própria sobrevivência dessas instituições. Adicione-se o fato de que as instituições são feitas por pessoas que por sua vez amam, odeiam, se decepcionam, tem seus interesses, etc. De novo tem-se os ingredientes para o drama.
Nesta eleição a imprensa voltou a jogar um papel preponderante, não só no tocante à tradicional atuação como meio de comunicação. De denúncias pouco fundamentadas à investigações polêmicas, vários eventos a colocam na berlinda e creio que nem mesmo na eleição de Collor ela foi tão exposta. Evidenciava-se, na época, o quanto um meio de comunicação tinha o poder de influenciar nos fatos políticos. A combinação da neutralidade jornalística com liberdade de imprensa mostrava-se, numa jovem democracia, argumento invencível, o que permitiu a manipulação da informação que resultou no que hoje já conhecemos.
Seria por demais prepotente de minha parte buscar pintar um quadro completo da situação atual. Só emito minhas opiniões com base no pouco que percebo como leitor e curioso que busca ler as entrelinhas dos fatos (se é que elas são legíveis). Ouso então inserir uma nova variável que, creio, tem tornado a situação atual diferente do que ocorreu no passado: a Web.
Estou supervalorizando aquilo que é meu objeto de trabalho e estudo? Talvez. Mas a Web impacta na cobertura das eleições em pelo menos duas formas muito evidentes e inovadoras. Primeiro as necessidades econômicas de sobrevivência dos veículos tradicionais ficaram muito mais evidentes. O enfraquecimento desses meios devido à concorrência que a Web proporciona os faz mais vulneráveis e mais dependentes dos governos. Segundo, a reverberação das críticas aos meios de comunicação é muito maior com a Web. Antes, erros da imprensa não tinham como tomar grandes dimensões, pois o poder de propagação da crítica dependia quase que exclusivamente da própria imprensa. Hoje, a realidade é outra. Recentemente, comentei sobre isso quando discorri sobre os fenômenos CalaBocaGalvão e DilmaFactsbyFolha.
Parece-me adequado revisitar aqui a máxima de que não só vivemos uma época de mudança, mas acima de tudo, vivemos uma mudança de época. Isso pode se ilustrado pela histórica decisão tomada ontem pelo Estadão. Em seu editorial, o jornal paulista de dimensões nacionais, declarou preferência pela candidatura de José Serra. Foi um dos poucos casos de quebra explícita de neutralidade na história recente brasileira. Essa postura é comum nos EUA e na Europa. Na França, por exemplo, Le Fígaro é conservador, Le Nouvel Observateur é socialista. Nos EUA, para que veículo mais republicano do que a FOX? Até mesmo em eleições primárias, a imprensa toma partido. Nas últimas primárias do partido democrático, por exemplo, o New York Times declarou sua preferência por Hillary.
O segundo aspecto, referente a como ecoam as críticas à mídia pela Web, também tem dimensões próprias de mudança de época. Evidente que a Web brasileira hoje em dia não tem penetração em todas as camadas sociais. A rede social dos que transitam por Twitter, blogs e redes afins é ainda muito reduzida. Mas é nessa pequena e elitizada rede que trafegam quase todos os nomes da imprensa brasileira. Por essa razão os jornalistas, algumas vezes bem mais do que as instituições jornalísticas, que se expõem. As reverberações dessa rede os atingem diretamente. Têm suas opiniões confrontadas a todo momento quase que imediatamente após qualquer declaração. A credibilidade dos mesmos é a todo momento avaliada e reavaliada. Eles estão sendo afetados fortemente pela interatividade típica das mídias sociais. Como nem todos foram formados nesse contexto, estão aprendendo on the fly.
Tudo isso terá reflexos na imprensa brasileira do futuro? Creio que sim. Mudança de época ou época de mudanças o processo de aprendizagem é constante. Os mais aptos sobreviverão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário