Este texto é nostálgico. Uma nostalgia que me veio após passar pela praia dos Diários um domingo destes. A maré baixa voltou a deixar a parte da areia ampla e plana. Similar à forma que ficava em minha infância. Não sei muito bem porque, mas a praia do Diários nos últimos anos não ficava mais seca como antes.
Voltou a ficar. E com essa maré voltou um hábito típico de outrora: jogar futebol na praia. Um rachão digno de descrição. Caminhava por volta de meio-dia e não pude deixar de observar um pouco daquele espetáculo. Veio-me à mente os detalhes de quando frequentava a praia nos anos setenta. A primeira característica marcante é o número de jogadores. Não há limites. Em certos momentos parecem ser vinte de cada lado. Um exemplo interessantíssimo de um sistema aberto que se autorregula. Quer jogar? Basta entrar. A única exigência é manter o equilíbrio numérico. Entrar aos pares, por exemplo, é incentivado.
Algumas regras são bem específicas desse tipo de jogo. A bola que vai em direção ao mar, permite que seja coletada com a mão, por quem chegar primeiro. Ótima oportunidade para aliviar o intenso calor. Alguns mergulham para pegar a bola. Outros para se refrescar mesmo.
Mas não é somente as regras que valem menção. Os jogadores são personagens excêntricas. Há para todos os gostos. Lembro-me como eu, meu pai e meu tio Darlan, após participar do rachão, ficávamos a nos deliciar com as figuras exóticas que participavam religiosamente, todos os domingos, do rachão. Eu os vi novamente. Evidentemente que não se tratavam das mesmas pessoas, mas havia lá a representação eclética e anedótica que nos entretenha e fazia-nos rir. Cabelos exóticos, zagueiros ríspidos (porém leais J), craques do drible, calções démodés ou não, tudo está lá. Todas as classes sociais, etnias e idades. Um micro-sistema social belíssimo, cheio de alegria, calor humano. Quanta democracia. Uma democracia bem brasileira!