A capacidade de se indignar e de se manter indignado é fundamental para uma mudança significativa de uma sociedade. Isso é muito, mas muito difícil. Faz parte da natureza humana, a racionalização, pois nos libera das tristezas causadas pelas “coisas que (pensamos) não podemos mudar” ou mesmo porque queremos esquecê-las. Creio que racionalização é especialmente importante para nós brasileiros que temos a felicidade como valor tão fundamental (veja um exemplo do que já escrevi sobre nossos valores aqui). O exemplo mais marcante de indignação tive quando tinha acabado de chegar de mais de um ano de vida nos EUA. Fomos, minhas filhas e eu, de carro a uma farmácia e ao sair de lá, formos abordados por uma jovem mulher que tinha uma criança chorando no colo. Ela me pedia dinheiro para comprar um remédio enquanto mostrava-me a filha doente e triste. Ao sair do local, percebi que minha filha (de 17 anos) chorava muito. Ao perguntar-lhe o que estava a ocorrer, só escutei como resposta “não é justo, não é justo”. Aquilo me chocou tanto que nem me lembro muito dos argumentos que encontrei para racionalizar tudo. Só me lembro que foi exatamente o que tentei fazer. Nunca me esquecerei de sua indignação sincera e pura. Isso ainda acontece hoje, dois anos depois? Aprendeu a racionalizar. Essa estória me veio à mente quando de minha visita ao monumento ao holocausto bem no coração de Berlim. São grande pedras como túmulos que são dispostas em uma enorme área. Ao todo, perfazem 90 mil metros quadrados com 2711 lápides de concreto cinza. Um projeto de 27 milhões de euros. É verdadeiramente chocante. Uma sociedade que reconhece que não pode racionalizar e nem esquecer. A foto abaixo é do monumento. Como as lápides são de tamnha diferente, cria-se essa impressão de que há uma onda acontecendo.
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