Espero que o Brasil não perca a oportunidade de implantar um
programa de importação de pessoal qualificado por causa de tanta desinformação e corporativismo. Todo País do mundo quer receber gente qualificada
em qualquer setor. Americanos e canadenses são exemplos só para ficar pelas
Américas. Perdi a conta dos alunos e amigos que hoje estão no Canadá, Europa e
EUA. O engraçado é que todo mundo se lamenta quando eles se vão. Quando se fala
em trazer de lá pra cá, não vejo a mesma coerência.
Especialmente
nos últimos anos, não éramos atrativos para imigração qualificada, pois as
condições econômicas e políticas não favoreciam. Isso mudou. As próprias crises
por que passam os países desenvolvidos favorecem-nos. O projeto de atração de
médicos surge dentro deste contexto favorável. Na verdade, isso não se trata de
iniciativa isolada na área médica. A Ciência e Tecnologia também tem programa
similar com o Ciência Sem Fronteiras onde há diversos incentivos para a
instalação de pesquisadores estrangeiros no País.
Em
essência, sou completamente favorável a todas essas iniciativas. Há,
evidentemente, alguns senões à forma como o Governo tem tentado realizar isso
na área médica. O foco inicial em cubanos foi muito infeliz, pois fez emergir
um debate ideológico que está longe de ser o centro da questão. O governo
parece-me que gradativamente corrige isso passando a não privilegiar uma ou outra
nacionalidade.
O
reconhecimento do diploma de médico aqui no País é outra coisa que precisa ser
equacionada, mas que não me parece muito difícil. Equivalência de diplomas é
algo que já vem sendo feita no meio acadêmico rotineiramente. Lembro-me que
quando terminei meu doutorado no exterior, fui obrigado a fazer o
reconhecimento do mesmo aqui no Brasil. Todos que estudam fora o fazem.
Sobre
a questão de fornecer a mesma oportunidade dada aos estrangeiros para os
brasileiros, essa então é uma questão ainda mais simples de solucionar, e o
governo agiu na direção correta. Abriu para que todos, sem distinção de
nacionalidade, concorressem às vagas. Alguém de sã consciência acha que um
brasileiro que mora a centenas de km de uma cidade do interior, fala português,
não precisa validar diploma, etc. etc. não leva vantagem em um processo
competitivo com um estrangeiro que está a milhares de quilômetros, não fala a
língua e tem que se separar de suas raízes? Claro que leva. Só não assume porque não quer e se não quer,
tem mais é que torcer para que os estrangeiros queiram.
Por
fim, vem a questão da forma legal de contratação das pessoas. Há um ônus de
programas como esse, pois fogem ao lugar-comum, e precisam de soluções ad hoc. Fornecer bolsas é uma forma de agir com rapidez, devido à urgência reclamada pela população que sofre com o mal
atendimento. O caminho natural para os bolsistas é que façam
concursos e que ocupem cargos no serviço público paulatinamente.
Reconheço que é um ponto que precisa avançar, mas também é fato de que os
municípios carentes não têm condição de bancar um incremento grande nas suas
folhas de uma hora pra outra.
De
certo, a contratação de mais médicos e a alocação dos mesmos para lugares menos
favorecidos não é a solução definitiva para todos os problemas da área. As
deficiências de estrutura, material e pessoal de apoio são também entraves, mas
não consigo ver onde um impede o outro. São ortogonais. Diria mesmo que quanto
mais médicos, mais poder de pressionar para que as estruturas sejam melhoradas.
Uma coisa é certa: médico, até sem material, cura e salva, enquanto que material sem médico, não.