A
questão da Segurança Pública é tão complexa que a própria percepção das pessoas
parece ser afetada. Tenho lido muitas opiniões sobre a questão, de
especialistas a jornalistas, passando pela sociedade civil que via de regra
busca as redes sociais para se indignar. O fato é de que atualmente a moda é
criticar a atual política de segurança.
Todos
parecem ter repentinamente acordado para o que estava acontecendo há seis anos.
Poderia até dizer que esse tempo é bem maior, mas acho apropriado delimitar o
início do governo Cid Gomes, pois coincide com o começo do Ronda Quarteirão.
É
impossível discordar de que vivemos uma crise. Agora o que me surpreende é a
forma desse despertar. Via de regra se insiste na tese do “Ronda Corrompido”,
para explicar que o programa era bom e se perdeu com o tempo. Desde o início do
programa, apontei, não sem apoio de colegas especialistas do Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, de que o Ronda do Quarteirão não poderia ser
caracterizado como um programa de polícia comunitária (como exemplo, veja o que
escrevi em 2008 e 2009 sobre os limites do Ronda )
Aliás, o Secretário de outrora, que
gozava de credibilidade de parte da mídia e parte da academia, havia inclusive
usado o termo “polícia de proximidade” numa clara tentativa de criar um slogan
para uma proposta ad hoc, sui generis e que não tinha similar em parte nenhuma
do mundo.
Foi
preciso seis anos para perceber que policial militar com Hilux com ar, santinho
divulgando telefone e treinado em três meses não tinha como ser confundido com polícia comunitária ? E mais ainda, mesmo que fosse possível isso
ser considerado como tal, desde quando isso poderia ser o alicerce de uma
política de segurança?
Minha
impressão é de que algumas escolhas feitas pelo Governo Cid se mostraram mais
importantes para mostrar as deficiências dessa política do que outras. E foram
as escolhas das pessoas as mais marcantes. Ao trocar de Secretário e depois ao
trocar de Diretor da Academia de Polícia, o governo parece ter ajudado a
iluminar os que antes não viam (ou não queriam ver).
Lembro-me
que quando o atual secretário assumiu fui perguntado por uma jornalista sobre o
que achava que aconteceria com a Segurança. Queria minha opinião sobre o debate
que acabara de ser criado: “Pé-de-boi” contra “gravatinha”. Lembro-me também de
minha resposta de que achava aquilo irrelevante no momento, pois já não
concordava com a política em vigor.
Creio
que vale a pena nos perguntarmos se não há algo de errado nisso tudo. Não
estaríamos dando excesso de relevância às pessoas e menos às políticas? De
qualquer forma, felizmente o governo Cid fez essas trocas que evidenciaram um
equívoco. Antes tarde do que nunca. Agora parece que todos nós percebemos que
estamos no caminho errado. Será que bastará mais uma mudança de nome para nos
iludirmos novamente?