Vou voltar ao tema da mistura religião e Estado motivado pelo artigo da professora Sandra Helena no O Povo de ontem. Vou reproduzir um texto que havia escrito sobre um debate que ocorreu no jornal O Povo tempos atrás. No debate, o Jornal O Povo escutou a opinião de algumas pessoas sobre o que elas achavam da proposta que está para ser votada no Congresso de tornar facultativo o ensino religioso nas escolas públicas. Para minha surpresa, a opinião da maioria dos entrevistados foi de que se tratava de uma boa idéia. Em uma sociedade onde a maioria professa uma fé religiosa, isso não era para causar nenhum espanto. Meu espanto se deveu pelo fato de que dois dos entrevistados eram deputados estaduais e educadores, um outro era o presidente do Conselho de Educação do Estado do Ceará e uma outra educadora. Deles, eu esperava uma postura diferente. Afinal de contas somos um Estado laico (ou não?). Minha surpresa maior foram as respostas dadas pelos ilustres Deputados Artur Bruno e Teodoro Soares de que disciplinas religiosas eram importantes para moldar a ética dos alunos. Vejam um trecho da resposta de Soares:
Sou favorável à inclusão do ensino religioso nas escolas por acreditar na relevância da religião para a formação ética dos adolescentes, funcionando como um resgate de valores morais tão enfraquecidos nos dias de hoje
Considero que isso é totalmente contrário à lógica de uma escola laica e democrática. Nada contra a religião. Reconheço que a religião (para os que crêem) pode ter um papel importante na formação de jovens em seus valores e disseminação de uma ética. Mas os estabelecimentos religiosos (escolas, igrejas, seminários, etc.) estão aí para preencher esse vácuo (para os que acham que ele existe). É obrigação da escola sim, formar os alunos nos valores éticos, mas não através da religião. Sem mencionar que há várias questões adicionais a serem respondidas: qual a ética que vai ser ensinada na escola? De qual religião? Quem vai decidir isso? Os diretores? Os pais? Os professores? Já imaginou uma cidade com um prefeito tipo Bispo Macedo? As escolas da prefeitura vão ensinar religião desde cedinho, né? Não dá para esperar muito de nossos congressistas, mas sinceramente, torço para que tenham um pouco mais de discernimento do que os educadores entrevistados e sejam contra essa medida.
4 comentários:
Eu já penso diferente. Deve sim ter uma educação religiosa nas escolhas. Não de uma única religião, não um catecismo. Mas um estudo para que as crianças conheçam as religiões disponíveis seja ela: católica, evangélica, espírita, morma ou qualquer que seja. Mas simplesmente para entende-las e saber respeita-las, sobretudo evitando conflitos pela própria ignorância do desconhecimento. Friso mais: também para que a criança não seja tão influenciada pela própria religião dos pais e saiba respeitar as demais e discutir com conhecimento.
*nas escolas
A religião, assim como a política, faz parte da vida e da história do povo. É válido sim seu questionamento nas escolas, contanto que não seja direcionado a uma religião específica e sabendo respeitar as diferenças, inclusive de quem é ateu - sem preconceitos.
As crianças precisam aprender a lidar com as diferenças desde cedo e a escola, com muitos alunos e colégios é um complemento do ensino de casa.
Caro anônimo,
Concordo com seu argumento de que deve-se ensinar a tolerancia. Mas para isso deve estar dentro de um quadro mais genérico de compreensão das diferencas de sexo, cor, religião, etc. Não precisa ter aula de religião.
Concordo também que o aspecto histórico das religiões é muito rico e deve ser estudado. Nas aulas de história, por exemplo, isso pode ser abordado.
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