Estive no Castelão. Poderia contar sobre a odisseia de lá
chegar e sair, do calor sufocante, mas tudo
isso me parece menor comparado à figura única de Paul McCartney.
Sempre fui admirador de sua obra, mas o show aqui em
Fortaleza, trouxe-me um algo mais que não costumo sentir por artistas ou
celebridades quaisquer que sejam. A relação entre artistas e seus fãs é
simbiótica. Não existem um sem outro. Artistas precisam de audiência, afinal,
obtê-la é razão de sobrevivência. Ocorre que nos dias atuais a indústria da
celebridade trabalha forte para criar ídolos que, pelo artificialismo de sua
criação, são cada vez mais efêmeros.
Paul não tem nada de efêmero. Com os garotos de Liverpool ou em carreira “solo”,
Paul sempre criou e encantou. Sua postura sem exotismos, também já me era
conhecida. Aqui em Fortaleza mostrou-se detentor de um carisma que me tocou. Talvez estive esperando que ele agisse de
acordo com o que sua fama lhe daria o direito (a tirar pelo comportamento
esnobe de grande partida dos famosos de hoje em dia). Ao contrário, Paul foi de
um profissionalismo, uma simplicidade e uma classe sem tamanho.
Paul se preparou para compartilhar seu palco. Senti seu
prazer em fazer sua audiência alegre com sua música. Seu interesse em se
conectar com os cearenses foi tocante. Claro que era tudo programado. As
“pescas” escritas em português e cearês que usava demonstrava isso. Mas porque
aquilo tudo não soava falso? Porque era dito por Paul. Porque ele não precisava
daquilo. Se fizesse um show tecnicamente correto todos iriam adorar. Quis ir
além. E foi. Havia uma generosidade no ar. Ele tinha mais a nos dar do que nós
a ele. O mais incrível é que no final, creio que ele ficou feliz. É a plenitude
da relação simbiótica. A realização do astro pela emoção dos fãs. Astro. Essa
palavra está muito bem aplicada a Paul. Ele não é desse planeta.
* Artigo publicado na coluna Opinião do O Povo de hoje