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terça-feira, 23 de abril de 2013

Um Sonho de País


Há vinte anos desembarcava com a família na França para cursar meu doutorado. Uma oportunidade única que me foi dada pelos meus empregadores (Governo do Estado e Fundação Edson Queiroz), oportunidade essa que não me canso de agradecer e, por isso mesmo, torno público neste introito.
 Os quatro anos que lá vivi, foram-me de profundo ensinamento, não somente pelo aspecto acadêmico, mas acima de tudo por ter-me permitido conhecer bem o primeiro mundo. Numa época em que a Internet engatinhava, o mundo ainda não era tão pequeno como hoje e viagens deste porte eram raras.
A Europa, em particular a França, foram-me (e ainda me são) fascinantes. Poderia relacionar os vários aspectos que me atraíram e que hoje, vejo atraírem os brasileiros que, de mais em mais, viajam para lá, como limpeza, transporte urbano e segurança. Mas havia algo mais que permeava todos esses aspectos: a igualdade social. A classe média era a grande maioria e com representantes em todas as profissões.
Talvez nada tenha sido mais emblemático para mim, do que quando, no primeiro dia de trabalho da empregada doméstica que havia contratado, a vi chegar em seu próprio carro, logo após ter deixado seu filho na escola. Ela tinha uma rotina de trabalho tão comum quanto à minha. Este episódio me veio várias vezes à cabeça, não somente ao acompanhar o noticiário sobre a nova lei dos empregados domésticos, mas sobretudo por ter ainda ouvido lamentações aqui e acolá de que “a nova legislação dificultará mais ainda a contratação e legalização de empregadas”, “minha vida ficará mais difícil”, etc.
É fato de que a vida poderá ficar um pouco mais difícil para uns que se acostumaram com uma cultura que encarnava a desigualdade de forma tão natural que não podia ser percebida. Ainda há muito disso em nossa sociedade. Mas havemos mesmo é de festejar mais um passo do Brasil para sermos um país de classe média: um sonho que temos não somente o direito, mas sobretudo o dever de compartilhar. Um sonho que se tornarmos realidade vai naturalmente reduzir todos os males que hoje nos afligem.

* Esse artigo foi publicado na coluna Opinião do O Povo em 16/04/2012

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Match Point para Lacoste

Adorei a escolha de Guga Kuerten como novo garoto propaganda da Lacoste. Acho que tem tudo a ver. Não só pela natural ligação da marca do jacaré com o tênis (Henri "jacaré" Lacoste havia sido importante tenista), mas sobretudo pelo fato de Guga ser uma personalidade simpática, simples e muito autêntica. Valores tão importantes e tão pouco valorizados nessa época de belos modelos depilados e metrosexuais. Decididamente, uma escolha feliz !

terça-feira, 2 de abril de 2013

Crise de Identidade do Basquete Master


Esse fim de semana fui a Natal para jogar o campeonato N/NE Master como, aliás, tenho feito nos últimos anos. Uma programação maravilhosa onde se convive com a curriola do basquete, com a família e com colegas adversários de longas datas. Embora marcado por esse ótimo momento de lazer, no campeonato deparei-me com uma novidade que me parece um sintoma de uma crise de identidade desse tipo de evento.

Os campeonatos Master de basquete são divididos em categorias que representam as faixas etárias dos jogadores. Normalmente cada categoria é segmentada em intervalos de cinco anos. No caso do N/NE a segmentação é maior, de pelo menos sete anos. Isso se deve ao fato de que havia poucos praticantes e uma faixa maior facilitaria a formação das equipes.

Desde quando comecei a participar desses campeonatos (cerca de dez anos atrás) tinha em mente que o evento visava promover o congraçamento dos atletas (ex-atletas talvez seja mais justo dizer) motiva-los a continuar a praticar o esporte em seu Estado e, evidentemente, reviver o sentimento de competição que é caro a todos aqueles que praticaram esporte de alto nível.

Posso dizer que a iniciativa é um case de sucesso. Ano após ano o número de competidores aumenta, mas esse crescimento não veio sem seus efeitos deletérios. Alguns passaram a considerar as vitórias nas competições algo tão importante que uma espécie de profissionalização e, no meu entender, deturpação dos objetivos iniciais passou a ocorrer.

Normalmente as regras dos campeonatos Master de Basquete estipulam que somente dois jogadores, ditos “estrangeiros”, podem participar por cada Estado. Como a definição de “estrangeiro” refere-se à naturalidade do jogador, abriu-se a possibilidade de contratar jogadores profissionais que por serem natural de algum estado do N ou NE não seriam considerados “estrangeiros”.  Assim um jogador como Rato que ainda há pouco jogava na NBB e que teve sua carreira toda baseada no Estado de São Paulo, por ser natural da Bahia, pode “legalmente” ser inscrito pelo Rio Grande do Norte sem ser considerado estrangeiro.

Na semifinal que disputamos com os rio-grandenses do norte encontramos uma equipe que tinha pelo menos cinco jogadores nessa situação. Não faziam parte da comunidade de praticantes de basquete do RN, mas foram contratados para conseguir o título. Um exemplo ainda pior foi dada pela liga dissente da Associação de Veteranos Amigos do Basquete do Ceará(AVAB-CE) que fez uma outra equipe para representar o Estado do Ceará na categoria 50+. Nela havia um grupo de nove jogadores, onde nada mais nada menos que oito deles não praticam basquete no Ceará. 

Eis nosso jeitinho brasileiro aqui em prática, ao vivo e a cores. Um jeitinho que visa levar vantagem. Urge uma revisão nos regulamentos da competição de forma que o espírito inicial possa ser recuperado. Caso contrário, ha risco grande de esfacelamento das competição e das associações.