Há vinte anos desembarcava com a família na França para cursar meu doutorado. Uma oportunidade única que me foi dada pelos meus empregadores (Governo do Estado e Fundação Edson Queiroz), oportunidade essa que não me canso de agradecer e, por isso mesmo, torno público neste introito.
Os quatro anos que lá vivi, foram-me de profundo ensinamento, não somente pelo aspecto acadêmico, mas acima de tudo por ter-me permitido conhecer bem o primeiro mundo. Numa época em que a Internet engatinhava, o mundo ainda não era tão pequeno como hoje e viagens deste porte eram raras.
A Europa, em particular a França, foram-me (e ainda me são) fascinantes. Poderia relacionar os vários aspectos que me atraíram e que hoje, vejo atraírem os brasileiros que, de mais em mais, viajam para lá, como limpeza, transporte urbano e segurança. Mas havia algo mais que permeava todos esses aspectos: a igualdade social. A classe média era a grande maioria e com representantes em todas as profissões.
Talvez nada tenha sido mais emblemático para mim, do que quando, no primeiro dia de trabalho da empregada doméstica que havia contratado, a vi chegar em seu próprio carro, logo após ter deixado seu filho na escola. Ela tinha uma rotina de trabalho tão comum quanto à minha. Este episódio me veio várias vezes à cabeça, não somente ao acompanhar o noticiário sobre a nova lei dos empregados domésticos, mas sobretudo por ter ainda ouvido lamentações aqui e acolá de que “a nova legislação dificultará mais ainda a contratação e legalização de empregadas”, “minha vida ficará mais difícil”, etc.
É fato de que a vida poderá ficar um pouco mais difícil para uns que se acostumaram com uma cultura que encarnava a desigualdade de forma tão natural que não podia ser percebida. Ainda há muito disso em nossa sociedade. Mas havemos mesmo é de festejar mais um passo do Brasil para sermos um país de classe média: um sonho que temos não somente o direito, mas sobretudo o dever de compartilhar. Um sonho que se tornarmos realidade vai naturalmente reduzir todos os males que hoje nos afligem.
* Esse artigo foi publicado na coluna Opinião do O Povo em 16/04/2012
* Esse artigo foi publicado na coluna Opinião do O Povo em 16/04/2012