Fábio Campos escreveu recentemente neste quotidiano o artigo
“Para fugir da ladainha” em que discorda dos que esbravejam contra a indústria
da multa e vivem pedindo mais educação no trânsito a AMC (o que ele chama de ladainha).
Acredita ele que a epidemia de infrações de trânsito em Fortaleza requer ação
repressiva e que educação no trânsito já foi dada quando se tira a carteira de
motorista.
Minha visão é que os que defendem ambas as ladainhas perdem
o foco do problema. Primeiro, não compreendem
que, como toda questão comportamental na sociedade, causas e efeitos de
problemas e ações não podem ser compreendidos isoladamente. Há uma interação
entre os fatores condicionantes que podem
tanto potencializar as soluções como aumentar os problemas. No tocante ao caos do trânsito, é impossível
dissociar as omissões e erros do poder público, que inclusive lhe diminuem a
credibilidade nas ações preventivas e repressoras, do mau comportamento dos
motoristas e pedestres (não esquecer que os pedestres cearenses não usam a
faixa de segurança, por exemplo).
O segundo equívoco refere-se ao conceito de educação
comportamental, social ou cívica (como queiram). Enganam-se que é algo a ser
ensinado em sala de aula e muito menos nos bancos do Detran quando se faz exame
para retirar uma habilitação. Não se
refere aqui em “aprender” o que é certo, mas sim de quanto se está disposto a
fazê-lo. O cada um por si e a lei do mais esperto não têm sustentabilidade, mas
as pessoas precisam perceber e sentir que seguir as regras é a melhor forma de
todos “se darem bem”.
Quem tem o dever de quebrar esse ciclo vicioso no qual
estamos inseridos hoje é o poder público. Deve agir nos fatores que potencializam
a desobediência, começando por aqueles que lhes são obrigação como sinalização,
engenharia de trânsito, pavimentação das ruas, etc. Depois deve agir na
educação (não de sala de aula) com programas de divulgação, exemplos, jogos e
concursos de forma a gerar motivação e controle sociais sobre o tema. Tudo isso
com intuito de que a sociedade em geral
comece a fazer a parte que lhe compete. Aí sim, a fiscalização deve agir. Com a credibilidade
e a autoridade fortalecida o governo penalizaria
a minoria(difícil acusar de indústria da multa quando se penaliza uma minoria)
que não conseguiu aprender a lição.
* artigo publicado hoje na coluna Opinião do Jornal O Povo
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