Essa semana a pauta dos meios de comunicação nacional e cearense foi definida pelo lançamento do relatório sobre o mapa da violência 2012 feito pelo Instituto Sangari. Ao final de 2011 estamos nós aqui falando dos números de 2010 descritos em um relatório que tem título de mapa de 2012. Mais uma aberração do nosso ultrapassado e equivocado modelo de tratamento dos dados criminais e que dá margens para os jogos de interpretação dos números. Deveríamos ter acesso a esses números de maneira muito mais ágil e transparente.
Esse descompasso de tempo de análise com dados ultrapassados, levou o Secretário de Segurança atual dizer que os números se referiam a uma época em que a gestão não era sua (do mesmo governo!). Ele disse que agora já havia conseguido estabilizar a situação. Ainda assim, estabilizar a violência em níveis de 29 por cem mil habitantes não parece algo muito animador. A ONU considera aceitável índices abaixo de 10 homicídios por cem mil habitantes.
Essa situação me leva a pensar o seguinte. Se em 2012 a violência aumentar, estaremos lendo o relatório de 2011 e o Secretário poderá dizer que conseguiu estabilizar a violência em 2011 (não valerá a pena falar de 2012). E assim vamos nos especializando a “interpretar” os dados da forma que nos interessa.
De qualquer forma, não vou deixar de falar sobre a questão já que voltou a ser tema relevante. Já havia comentado, quando da campanha para o governo do Estado em 2009, sobre os números catastróficos da Segurança Pública nos últimos dez anos. Na verdade a hemorragia da violência no Ceará começa por volta de 1995, mas acentua-se a partir de 2000. Os últimos quatro anos são marcados por uma escalada jamais vista na nossa história que culminou com algo nunca dantes ocorrido: passamos a média do Brasil. Em 2010 chegamos a taxa média de 29,7 homicídios para cada cem mil habitantes enquanto que a média nacional é de 26,2. Vejam o gráfico abaixo extraído do estudo do Instituto Sangari. Sob esse ponto de vista, alertei aqui, em outubro desse ano, o quão comprometido é o resultado do modelo que se fundamenta no Ronda do Quarteirão.
A verdade infeliz é que os estados nordestinos estão sofrendo cada vez mais com a crescente onda de violência, que antes era restrita às grandes regiões metropolitanas e agora passaram epidemicamente a se espalhar. Vê-se claramente que o poder público não consegue mais tratar o problema. Onde isso vai parar? Eu sinceramente não sei.
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