O psicólogo social e historiador Michael Shermer em seu
livro “The Science of Good and Evil” abre interessante debate, por um ponto de
vista evolucionista, sobre a natureza humana no que se refere a moral e a ética.
Em especial, ele aponta para vários estudos que dão evidências de como os seres
humanos são “maleáveis” e podem agir de forma amoral. Análises com experiências
científicas ou por observação de fatos históricos como o Holocausto mostram que
uma das coisas que pode gerar comportamento violento de uma pessoa é
simplesmente o contágio por um grupo.
Lendo seu livro lembrei-me do que acontece nos estádios
brasileiros e de como a sociedade está cada vez mais refém dos atos de
violência das torcidas organizadas que se alastram e que agora não ocorrem
somente em estádios e seus arredores. Escuto sempre afirmações de que os atos
de vandalismo e violência desses grupos é obra de poucos e etc. Acho uma
simplificação perigosa. Esses poucos conseguem contagiar outros que acabam
agindo, talvez inconscientemente, de forma similar.
O fato é que não há mais justificativa plausível para
aceitar torcidas organizadas em estádios de futebol. Promover o agrupamento de
pessoas em um espaço com o intuito de se preparar para uma batalha é,
parafraseando Roberto Jefferson, “provocar os instintos mais primitivos” das
pessoas. Estamos recorrentemente nos omitindo de tomar decisões definitivas quanto
a questão. O novo PV foi uma oportunidade perdida como mostrou o último jogo do
Fortaleza na Série C. Cometeremos o mesmo erro com o novo Castelão?
A proibição das torcidas organizadas deve vir imediatamente
seguida da instituição da prática de se vender ingressos com lugares marcados.
Se é verdade que são poucos os vândalos capazes de provocar tanta violência,
distribuídos no estádio eles terão diminuída capacidade de agregar seguidores e
de formar facções fanáticas. No mundo desenvolvido, os eventos esportivos são
espaço de festa, emoção (nem sempre só de alegria, é verdade), mas nunca de guerra.
Teremos que instituir essa prática na Copa das Confederações bem como na Copa
do Mundo, por imposição da FIFA. Oportunidade melhor não há. Afinal, a quem
interessa a situação reinante?
* artigo publicado no Jornal O Povo de hoje, coluna Opinião
Um comentário:
Parabéns pelo Artigo. Concordo plenamente !
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