Surpreendi-me ao saber que vários candidatos a prefeito defendem
o uso de armas de fogo pela Guarda Municipal(GM). Parece-me mais uma satisfação
à reinvindicações corporativistas e ao clamor popular por mais polícia que
advém diante da incapacidade de resposta do poder público. Percebo que a defesa
de armar a GM é dissociada de uma política de segurança pública para o
município.
Eu acredito que o papel mais relevante do município é o de
atuar no campo da prevenção. Há uma lacuna nesse sentido que as próprias
polícias têm tentado suprir, mas ainda com pouca efetividade até pela forte
imagem que têm de forças repressivas. É preciso ter isso em mente quando se
busca tornar a guarda municipal uma outra polícia. Não me parece fazer
muito sentido discursar que vai ter um
programa de prevenção e defender ações que vão na direção do aumento de
repressão.
Os argumentos mais pragmáticos de que a violência urbana
exige mais polícia e que a guarda é uma forma de se incrementar isso me parece
equivocado. Já temos polícia demais. O discurso dos candidatos é sempre de que a
GM será bem treinada e que os perigos são mínimos. Como compartilhar desse
otimismo? Nas polícias, instituições muito mais experientes no trato com as
armas, temos altos índices de mau uso da arma de fogo, de armas que são
perdidas, de armas que são roubadas e de armas que são desviadas.
O argumento de que a arma vai proteger o guarda, esse então,
é o que me parece mais incoerente. Qual a estatística de guardas municipais
mortos em combate atualmente? Não tenho receio de dizer que ela será bem maior
no dia em que passarem a usar armas. Uma ideia muito estranha de proteção.
Enfim, a campanha começa novamente sem que os debates sobre segurança pública sejam
aprofundados. Tomara que melhore.
* artigo reproduzido da coluna Opinião do Jornal O Povo de hoje
Nenhum comentário:
Postar um comentário