Semana passada a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social apresentou o que considera um avanço na política atual: números que dizem indicar a redução da criminalidade. Os dados liberados estão aqui. Apresentou um sucinto relatório que tem o título sugestivo de “Redução da criminalidade”.
O relatório e sua apresentação reforçam uma política, a meu ver equivocada, de só mostrar números positivos. Os negativos é como se não existissem. A entrevista do responsável, Prof. José Raimundo, no O Povo é bem clara. Quando perguntado sobre os números sobre latrocínio e roubos a veículos, respondeu que não ia apresenta-los pois “não conseguimos freá-los ainda”. Ou seja, fica claro que os dados liberados são tendenciosos. Só se libera aquilo que conforta a SSPDS. É a antítese de tudo que se discute hoje em dia em termos de governo aberto. Como os dados de Segurança, em sua grande parte, são tratados exclusivamente pela Polícia, quem quiser que acredite no que for liberado. E olhe que assim fica bem difícil.
Essa medida é levada a um extremo tal que mesmo os dados com um pouco maior de detalhe seguem a mesma linha. Ao analisar os dados de homicídios fiquei ainda mais surpreso. Até neste quesito, que a SSPDS, julga ter melhorado, os dados liberados são tendenciosos. Aparecem estatísticas de queda de homicídio em algumas áreas que são bem maiores do que a queda total. A queda de homicídios total apresentada pela SSPDS, por exemplo, foi de 1,22%. Na região metropolitana essa queda foi de 11,52%. Espera-se obviamente que os dados do interior mostrem um incremento, não? Certamente mas, esses números não são apresentados! Quem quiser que faça a conta de que houve um aumento de 10,32%.
Na mesma matéria diz-se que 20% dos bairros concentram 80% dos homicídios. Quando a repórter perguntou quais eram os bairros, recebeu como reposta que “ por questões de estratégia, a secretaria prefere não divulgar quais são esses locais.” Abre-se aqui espaço para, qualquer dia desses, um “furo jornalístico” acontecer. Essa é a prática comum nos últimos anos. Aos amigos do rei, os dados, aos inimigos, a escuridão da desinformação.
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