Nesses últimos dias tenho sentido na pele as dificuldades que passam os pais de adolescentes quando se trata de discutir a postura dos jovens na Internet. E olhe que posso me dizer escolado no assunto (pelo menos pelo ponto de vista técnico!), o que deveria me dar mais espaço para argumentação e capacidade de compreensão das diferentes dimensões que envolvem a questão.
Deixem-me dar um exemplo para tornar minha reflexão um pouco mais clara. Quem de nós (de idade mais avançada) não era mais contido quando falávamos com os amigos na frente de nossos pais? Tínhamos sempre um pouco mais de cuidado ao falar em público (para não dizer palavrões, por exemplo) do que quando estávamos somente com nossos colegas. Na verdade, essa atitude é muito natural e ainda agimos assim. Nosso comportamento privado, dentro de uma rede social de amigos, é sempre muito mais livre do que em ambientes menos íntimos. A decisão de como se portar era relativamente simples de ser feita. Estava fortemente relacionada ao local físico e a presença física. Ou seja, na roda com os amigos o comportamento é um, já nos meios mais formais, o comportamento é outro sempre mais contido.
Ocorre que o mundo atual digital expandiu os horizontes de interação e tornou essa escolha de postura muito mais difícil de ser feita. No mundo atual, tudo se digitaliza e por isso ganha a capacidade de estar em qualquer lugar instantaneamente. Mesmo uma reunião presencial pode ser rapidamente difundida. Pode-se, por exemplo, estar reunido em uma mesa de bar e ser filmado e “transmitido” para qualquer lugar do mundo com a facilidade que smartphones conectados na internet e com suas câmeras de vídeo de alta resolução permitem.
E isso não para por aí. Depois de digitalizado, fica-se registrado. Ou seja, não dá para esquecer o que disse. A reprodutibilidade é outra característica marcante do mundo digital. Pode até ser que sua imagem e mensagem não seja imediatamente transmitida, mas ela estará registrada em algum lugar e poderão acha-la (com a ajuda do Google, claro) em outro momento.
De uma forma geral, o que quero atentar é que os contextos privados estão cada menos reservados. As redes sociais virtuais, então, são mestres em nos ludibriar sobre que contexto estamos. Quando conversamos pelo Facebook ou Orkut, por exemplo, temos a tendência a achar que é o mesmo contexto da nossa mesa de bar ou mesmo uma mera reunião com amigos. Não é bem assim. Por mais que queiramos ou tentemos, impossível ter o controle sobre a difusão da informação digitalizada.
Em se tratando de adolescência, os perigos pela não percepção exata de que contexto se está inserido são ainda maiores. Jovens são mais despojados e expõem-se mais abertamente, o que pode ter consequências muito desagradáveis. Não é a toa que as redes sociais não podem ser acessadas pelas crianças (o que aliás, se desmoraliza cada vez mais aqui no Brasil).
Mas afinal, o que fazer? Não tenho a prepotência de dizer que tenho soluções para a questão. Na verdade, tento, eu também, aprender como agir. De uma forma geral, creio que só uma velha máxima é que vale aqui: os pais devem acompanhar seus filhos. Acompanhar aqui significa participar também dos contextos virtuais nos quais eles se inserem. Segui-los no Twitter, tê-los como amigo nas redes sociais, etc são o mínimo(ou talvez o máximo) que nós pais podemos fazer.
Um comentário:
Concordo. O problema é; os pais de hoje, (não generalizando), não estão preocupados como nossos pais ou nossa geração, que pensavam nos filhos, o futuro, ética, caráter, honestidade etc. que esses teriam. Os pais de hoje responsabilizam a escola pela falta de educação que não deram para seus filhos. Culpam o ECA e querem que o Conselho Tutelar resolva o problema que eles mesmo criaram e que agora não sabem como lidar. Acho que estão confundido a ta da privacidade. Muitos exemplos pelo mundo afora mostram que pais que deram muita privacidade aos filhos só ficaram sabem que tinham um “arsenal bélico” em baixo da cama depois que os filhos fizeram muitas vitimas...
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