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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Programa São Paulo Um Estado de Leitores: Um Bom Exemplo de Transversalidade

Tenho falado recorrentemente sobre a necessidade de termos políticas públicas que contenham ações transversais. Em recente comentário neste blog, Luis Eduardo (ver aqui o comentário), questionou se estamos no caminho certo na nossa forma de fazer política pública. Repliquei que a transversalidade deve estar no centro das gestões. Só lembrando, a transversalidade significa deixar de ver os problemas sociais e econômicos somente por um ponto de vista e de forma isolada. Ao contrário, busca-se compreender as interações dos diversos setores da sociedade e de como as ações públicas podem perpassá-los aproveitando-se do potencial multiplicador que isso pode trazer. Coincidentemente, durante o seminário sobre economia criativa tive a oportunidade de conhecer o projeto de disseminação de livros e da leitura no Estado de São Paulo que exemplifica maravilhosamente como fazer política com ações transversais. José Luiz Goldfarb, o coordenador do projeto, ao ministrar sua palestrar, deu exemplos de como isso pode ser atingido. O objetivo principal do projeto é criar o hábito da leitura nos cidadãos paulistas. Para se atingir o objetivo buscou-se identificar que outros projetos governamentais poderiam se beneficiar das ações que o projeto de leitura podia trazer, bem como identificar potenciais alvos para a disseminação do projeto. Por exemplo, os presídios foram inundados de livros. Os presidiários como tem muito tempo disponível, adoram ler e o fazem em uma velocidade muito grande. Precisam de livros. Projetos de re-socialização passaram a fazer uso mais intensamente do livro. O objetivo de fazer o cidadão ler ganhou assim um grande aliado. A mesma idéia foi seguida em hospitais. Livros foram distribuídos para os pacientes internados. Cerca de vinte projetos do governo foram contemplados com a idéia de disseminação e distribuição de livros. Parcerias público-privado estão também presentes no programa com o patrocínio de empresas que podem recorrer a lei Rouanet, mas ainda de outras formas mais criativas. A Volkswagen participa ativamente do programa de doação de livros. Caixas de coleta de livros e panfletos de divulgação do projeto foram colocados em cada concessionária, fábrica e oficina da Empresa. Uma competição para saber qual a concessionária que mais realizou doações foi criada. Com o programa Adote uma Biblioteca, as pessoas podem doar livros a bibliotecas pelo site da livraria cultura. Além disso, museus, teatros, FIESP e diversas outras instituições buscam arrecadar livros que chegam a perto de trezentos mil por ano. A qualificação de pessoal também foi tratada. Os livreiros e ajudantes de livreiros foram capacitados e sensibilizados para ganharem o gosto de ler. Só assim podem ser multiplicadores da idéia. E os resultados disso tudo? Como medir? Um programa de redações mostrou que municípios onde o projeto foi implantado com maior ênfase se sobressaíram. Várias outras iniciativas foram providenciadas (ver o site do projeto aqui ). Enfim, trata-se de um caso de sucesso de política com ações transversais. Será que é mesmo tão difícil agir assim? O exemplo de São Paulo mostra-nos que transversalidade pode ser obtida bem mais simplesmente do que pensamos. Desde que se tenha pessoas qualificadas que capturem o conceito e que, com criatividade, ajam com vontade de fazer a coisa certa.

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