Não
chego a pensar que a privatização do sistema de telefonia ocorrido anos atrás
tenha sido prejudicial ao País. Lembro-me de que ter uma linha telefônica era
privilégio de poucos e se tratava de um investimento tão valioso como ter um
imóvel. Impossível imaginar a inserção brasileira no mundo atual de Internet e
telecomunicações globais se não houvesse mudança naquele contexto. Isso não
pode nos impedir de questionar o que está errado no modelo atual de telefonia,
em especial o da telefonia móvel.
O
nível de saturação do sistema chegou a um ponto sem precedentes. Um ponto que
só deixa-nos, nós clientes com nossos cada vez mais modernos telefones
celulares, a apelar para a chacota e as piadas. Não há mais como suportar o
péssimo serviço ofertado pelas operadoras
de telefonia móvel.
Recentemente
depois de muito penar com uma operadora peregrinei entre outras só para
confirmar o que já sabia. A qualidade do serviço é sofrível em todos os níveis
e em todas as operadoras. A péssima qualidade do serviço de transmissão de voz
e dados se alia a não menos ruim qualidade do serviço de atendimento aos
clientes. Serviços de call center e
os de atendimento nas lojas com longas esperas e pouco eficazes são a regra. Cheguei
a passar pela absurda situação de nem conseguir me inscrever numa operadora a
qual já era cliente de telefonia fixa. Faltavam dados cadastrais, disseram-me.
Não entrei onde já estava dentro. Só rindo mesmo.
Transmissão
de voz e dados é cada vez mais crucial no cotidiano de nossas vidas e tornou-se
estratégico para o desenvolvimento de um País. Alie-se a isso a explosão da
demanda impulsionada pelo maior poder aquisitivo do brasileiro. Essa combinação
torna impossível tratar o tema como sendo exclusivamente de interesses
privados. No momento atual, somente a concorrência, que deveria ser a mola
mestra para melhorar a prestação dos serviços, não parece conseguir produzir a
resposta que os clientes requerem.
A
fragilidade dos serviços prestados expõe igualmente as deficiências do Estado
no seu papel de regulador, fiscalizador e indutor. A despeito dos esforços
demostrados pela ANATEL com algumas ações pontuais de punição às operadoras
como foi o caso com a TIM recentemente, não me parece que ela tenha sido capaz
de provocar muitas mudanças no que está posto. Algo mais tem que ser feito
urgente. A situação atual é uma grande
piada, mas de mau gosto.
* artigo publicado na coluna Opinião do Jornal O Povo de hoje
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