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domingo, 28 de julho de 2013

Francisco Certo na Hora Certa



Impossível dissociar uma liderança do contexto em que ela nasceu e floresceu. O Papa Francisco é um exemplo muito claro disso. Incrível com em tão pouco tempo de papado ele já mostrou-se carismático a ponto de ser idolatrado, não somente pelos fiéis que sempre veneram a figura papal quem quer que ele seja, mas principalmente como líder político global. Conhece como ninguém a pobreza sulamericana e o luxo do Vaticano.

O que me intriga é que sua mensagem de austeridade, simplicidade, desapego de bens materiais e etc. não é nova. A Igreja Católica a professa desde Cristo. Porque então essa impressão de que o Papa traz uma mensagem nova?

Vejo, pelo menos, duas explicações. A primeira está na própria figura do Papa. Começou sua gestão com gestos simbólicos que mostraram que aplicaria a si mesmo o que pregava. Ou seja, liderar pelo exemplo. Se o discurso de desapego ao luxo, humildade e austeridade é milenar, a prática da Igreja durante esse tempo nem sempre é condizente com isso. Ele começou mostrando que quer mudar isso. Vai conseguir levar adiante a níveis significativos? vamos esperar que sim.

A segunda explicação está no contexto econômico global dos dias atuais. A crise provocada em grande parte pela ganância induzida pelo sistema capitalista é ambiente fértil para uma mensagem diferente: uma segunda via. A ecologia, o consumo consciente, o combate às desigualdades estão entre os conceitos que emergem e convergem naturalmente para uma mensagem “franciscana” (nos dois sentidos).

Obama, durante um certo tempo, parecia ser esse líder. Não conseguiu deslanchar. Será  Francisco o escolhido? E será que ele quer?

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Importação de tomógrafos, sim. De médicos, não?



Espero que o Brasil não perca a oportunidade de implantar um programa de importação de pessoal qualificado por causa de tanta desinformação e corporativismo. Todo País do mundo quer receber gente qualificada em qualquer setor. Americanos e canadenses são exemplos só para ficar pelas Américas. Perdi a conta dos alunos e amigos que hoje estão no Canadá, Europa e EUA. O engraçado é que todo mundo se lamenta quando eles se vão. Quando se fala em trazer de lá pra cá, não vejo a mesma coerência.

Especialmente nos últimos anos, não éramos atrativos para imigração qualificada, pois as condições econômicas e políticas não favoreciam. Isso mudou. As próprias crises por que passam os países desenvolvidos favorecem-nos. O projeto de atração de médicos surge dentro deste contexto favorável. Na verdade, isso não se trata de iniciativa isolada na área médica. A Ciência e Tecnologia também tem programa similar com o Ciência Sem Fronteiras onde há diversos incentivos para a instalação de pesquisadores estrangeiros no País.

Em essência, sou completamente favorável a todas essas iniciativas. Há, evidentemente, alguns senões à forma como o Governo tem tentado realizar isso na área médica. O foco inicial em cubanos foi muito infeliz, pois fez emergir um debate ideológico que está longe de ser o centro da questão. O governo parece-me que gradativamente corrige isso passando a não privilegiar uma ou outra nacionalidade.

O reconhecimento do diploma de médico aqui no País é outra coisa que precisa ser equacionada, mas que não me parece muito difícil. Equivalência de diplomas é algo que já vem sendo feita no meio acadêmico rotineiramente. Lembro-me que quando terminei meu doutorado no exterior, fui obrigado a fazer o reconhecimento do mesmo aqui no Brasil. Todos que estudam fora o fazem.   

Sobre a questão de fornecer a mesma oportunidade dada aos estrangeiros para os brasileiros, essa então é uma questão ainda mais simples de solucionar, e o governo agiu na direção correta. Abriu para que todos, sem distinção de nacionalidade, concorressem às vagas. Alguém de sã consciência acha que um brasileiro que mora a centenas de km de uma cidade do interior, fala português, não precisa validar diploma, etc. etc. não leva vantagem em um processo competitivo com um estrangeiro que está a milhares de quilômetros, não fala a língua e tem que se separar de suas raízes? Claro que leva.  Só não assume porque não quer e se não quer, tem mais é que torcer para que os estrangeiros queiram.

Por fim, vem a questão da forma legal de contratação das pessoas. Há um ônus de programas como esse, pois fogem ao lugar-comum, e precisam de soluções ad hoc. Fornecer bolsas é uma forma de agir com rapidez, devido à urgência reclamada pela população que sofre com o mal atendimento. O caminho natural para os bolsistas é que façam concursos e que ocupem cargos no serviço público paulatinamente. Reconheço que é um ponto que precisa avançar, mas também é fato de que os municípios carentes não têm condição de bancar um incremento grande nas suas folhas de uma hora pra outra.  

De certo, a contratação de mais médicos e a alocação dos mesmos para lugares menos favorecidos não é a solução definitiva para todos os problemas da área. As deficiências de estrutura, material e pessoal de apoio são também entraves, mas não consigo ver onde um impede o outro. São ortogonais. Diria mesmo que quanto mais médicos, mais poder de pressionar para que as estruturas sejam melhoradas. Uma coisa é certa: médico, até sem material, cura e salva, enquanto que material sem médico, não.


sábado, 13 de julho de 2013

Apavorado ou não, use WikiCrimes


Nos dias de hoje, vendo surgir e acompanhando em Fortaleza os movimentos em redes sociais como “Fortaleza Apavorada” e “Fortaleza Sem Medo”  percebo a riqueza dos mesmos pela pluralidade e capacidade de viralização que possuem.  A movimentação que vêm provocando é muito salutar e tem potencial para pressionar as autoridades para que mudanças efetivas ocorram. Mas nem tudo é só virtudes.

A diversidade dos que participam desses movimentos faz com que as opiniões e percepções sobre os problemas da Segurança Pública sejam por vezes preconceituosas, com interpretações equivocadas das causas e, principalmente, do que seriam as soluções viáveis. Isso não é nada extraordinário e seria previsível que ocorresse. Afinal, não é papel das pessoas proporem soluções para um problema tão complexo. A divergência de opiniões e percepções talvez nem seja um problema tão sério se o objetivo for somente o de pressionar  o poder público.  

No entanto, nenhum movimento social se sustenta muito tempo só com esse propósito de indignação, principalmente se não se percebe algum resultado efetivo. Ele tende a ser envolto por um sentimento de desconforto de seus membros pela falta de objetivo a longo prazo o que também afeta também a imagem do movimento junto à maioria silenciosa que só observa.

Por essa leitura, tenho ainda mais convicção de que WikiCrimes é um instrumento valiosíssimo a ser apropriado pelas pessoas e por esses movimentos. WikiCrimes foi pensado com o objetivo de captar essa indignação das pessoas, mas ele tem uma proposta concreta de fazer algo mais. Um algo mais que não requer alinhamento quanto às crenças ideológicas, preconceituosas ou não, e nem precisa ser especialista em Segurança Pública. 

Nossa opção foi a de desenvolver em WikiCrimes serviços que pudessem ser usados por todos. Além de ser esse algo a mais do que só se indignar, esses serviços deveriam ser os impulsionadores da participação popular e dos governos. Serviços como alertas de crimes na sua área, aplicativos no celular, a possibilidade de gerar QR-Codes para indicar nos locais quantos crimes ocorrerão na região são exemplos.

Basta participar denunciando ocorrências e usar os serviços. Se os governos começarem a participar também, ótimo. Mas isso não é obrigatório. Se conseguirmos movimentar as pessoas nessa direção vamos canalizar nossa energia para algo que vai fazer a diferença. Para os que ainda não conhecem o projeto, há muito texto escrito nesse blog sobre o assunto. Os vídeos abaixo também ajudam a compreender a ideia.