Siga-me no Twitter em @vascofurtado

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

WikiCrimes OpenGov no Android

Quem acompanhou o post anterior e me perguntou sobre quando a versão Android sairia, agora já sabe: ela saiu!! Mais rápido do que nós mesmos havíamos previsto. Você pode acessa-la aqui. De seu telefone Android com versão superior a 2.1, basta procurar na Android Market por Wikicrimes OpenGov.
Mantivemos as mesmas funcionalidades presentes do iPhone e que foram descritas aqui. Veja as principais telas abaixo. É possível consultar as áreas mais perigosas da cidade de São Paulo pelo telefone. Basta possuir um telefone com Android 2.1 ou superior e esteja conectado a Internet.



domingo, 29 de janeiro de 2012

Consulte as Áreas de São Paulo Mais Perigosas no Seu iPhone

Desde a semana passada já está na loja de aplicativos da Apple (Apple Store) uma nova versão de WikiCrimes OpenGov para a cidade de São Paulo. Esta versão segue a mesma ideia da anterior. Ela consulta os dados de criminalidade da cidade de São Paulo que estão disponíveis no site da Secretaria de Segurança de São Paulo (www.ssp.sp.gov.br) e os mostra no iPhone.

No entanto esta nova versão é bem mais elaborada. Ela mostra as áreas dos Distritos Policias da cidade de São Paulo no Google Maps (contamos com a gentil contribuição de Renato Lima do Fórum Brasileiro de Segurança Pública para consegui-las). Os dados de criminalidade são assim mostrados no mapa com o contorno de cada área como pode ser visto na figura abaixo.



As cores que preenchem o contorno da área representam seu nível de criminalidade. São cinco níveis de criminalidade. Áreas dentro da média, acima/abaixo da média e muito acima/abaixo da média. A caracterização de muito acima/abaixo é feita considerando as áreas que estejam com criminalidade maior/menor do que dois desvios padrão. Vejam como elas são apresentadas na figura abaixo.


Além dessa graduação da criminalidade por área, foi calculada a densidade populacional das mesmas com base nos setores censitários  que elas encerram. Desta forma foi possível calcular a taxa de criminalidade para cada região de DP, o que enriqueceu a aplicativo, pois mostra-se a criminalidade com dados absolutos e por cem mil habitantes. Uma comparação entre os dois últimos meses também é mostrada.

Há filtros que permitem consultar somente certos tipos de crime. Por exemplo, é possível consultar como está uma determinada região com relação a furtos de veículos. A seleção é feita de forma simples entre todos os tipos de crimes disponíveis nos dados da SSP-SP.

Além dos dados da criminalidade, o usuário do aplicativo pode consultar quais distritos policiais estão ao redor usando realidade aumentada. Basta apontar o telefone para a área que desejar que o aplicativo vai mostrar ícones que representam os distritos policiais que podem, sob demanda, ser vistos no mapa. Um radar no canto superior da tela mostra pontos das direções onde há um DP. A figura abaixo exemplifica como isso ocorre.



WikiCrimes OpenGov, ao nosso ver, é a primeira iniciativa de uso de dados oficiais de Segurança para uso dos cidadãos. Ele serve para exemplificar como a cultura de dados abertos, implementada pela SSP-SP (embora timidamente, pois os dados desagregados de ocorrências criminais não estão abertos), pode ser útil às pessoas e como pode fomentar a inovação. Esperamos que outros estados sigam o exemplo paulista. Detalhe: A versão Android está quase pronta.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As Estatísticas da SSPDS Continuam a Decepcionar

Semana passada a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social apresentou o que considera um avanço na política atual: números que dizem indicar a redução da criminalidade. Os dados liberados estão aqui. Apresentou um sucinto relatório que tem o título sugestivo de “Redução da criminalidade”.

O relatório e sua apresentação reforçam uma política, a meu ver equivocada, de só mostrar números positivos. Os negativos é como se não existissem. A entrevista do responsável, Prof. José Raimundo, no O Povo é bem clara. Quando perguntado sobre os números sobre latrocínio e roubos a veículos, respondeu que não ia apresenta-los pois “não conseguimos freá-los ainda”. Ou seja, fica claro que os dados liberados são tendenciosos. Só se libera aquilo que conforta a SSPDS. É a antítese de tudo que se discute hoje em dia em termos de governo aberto. Como os dados de Segurança, em sua grande parte, são tratados exclusivamente pela Polícia, quem quiser que acredite no que for liberado. E olhe que assim fica bem difícil.

Essa medida é levada a um extremo tal que mesmo os dados com um pouco maior de detalhe seguem a mesma linha. Ao analisar os dados de homicídios fiquei ainda mais surpreso. Até neste quesito, que a SSPDS, julga ter melhorado, os dados liberados são tendenciosos. Aparecem estatísticas de queda de homicídio em algumas áreas que são bem maiores do que a queda total. A queda de homicídios total apresentada pela SSPDS, por exemplo, foi de 1,22%. Na região metropolitana essa queda foi de 11,52%. Espera-se obviamente que os dados do interior mostrem um incremento, não? Certamente mas, esses números não são apresentados! Quem quiser que faça a conta de que houve um aumento de 10,32%.

Na mesma matéria diz-se que 20% dos bairros concentram 80% dos homicídios. Quando a repórter perguntou quais eram os bairros, recebeu como reposta que “  por questões de estratégia, a secretaria prefere não divulgar quais são esses locais.”  Abre-se aqui espaço para, qualquer dia desses, um “furo jornalístico” acontecer. Essa é a prática comum nos últimos anos. Aos amigos do rei, os dados, aos inimigos, a escuridão da desinformação. 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sensações e Sentimentos de (in)segurança

Debuto este artigo com uma pergunta provocadora: em qual cidade você se sente mais seguro, naquela com um policial em cada quarteirão ou naquela sem policial? Além de provocativa, esta pergunta é obviamente uma caricatura. Esses dois mundos extremos são inatingíveis, mas servem para nos orientar a direção a tomar. 

Quem tem a oportunidade de fazer uma viagem às cidades mais desenvolvidas do mundo, prova da sensação de segurança que se obtém sem nem mesmo ver um policial. O oposto absoluto do que vivemos aqui. Estamos em uma busca obsessiva por segurança que seria idealmente obtida com um policial a cada esquina. 

Por mais absurdo que possa parecer esse sentimento, o fato é que as políticas de governo têm se alimentado dessa obsessão e, por sua vez, tem realimentado a mesma nos dando mais e mais polícia e menos e menos segurança. Um dos efeitos colaterais disto foi sentido recentemente quando da greve da Polícia Militar. Os cearenses, alimentados pelo Ronda do Quarteirão, que lhes deu uma sensação de segurança baseada na presença ostensiva de policiais, perceberam o quanto ela era frágil.  

O episódio da greve deve servir para nos fazer refletir não só sobre a sociedade que queremos ter, mas também sobre a que queremos sentir. Queremos mesmo sentir que vivemos em uma sociedade prestes a explodir em arrastões e saques aos roldões (prova é, que o comércio fechou as portas)?

Eu não quero.  Prefiro viver em uma sociedade em que não seja natural acreditar que as pessoas necessitam a todo instante violar o direito dos outros para subsistir. É a mesma sociedade em que as pessoas caminham tranquilamente nas ruas e sem um policial ao lado. Para que isso aconteça temos que pensar em um novo modelo de segurança pública mais amplo e que não ofereça só mais do mesmo: repressão. Um novo modelo que consiga unir a sociedade em torno de uma cultura de paz, convivência solidária e cordialidade. O modelo atual, embora nos leve à sensação de segurança momentânea não consegue impedir que nos tornemos reféns do medo que sentimos da própria sociedade.   


* Artigo publicado hoje no Jornal O Povo, coluna Opinião

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ciro e os Marginais Fardados

Esta semana o ex-prefeito, ex-deputado federal e ex-governador Ciro Gomes lançou acusação típica de sua verve. Disse que os policiais grevistas eram marginais fardados e que haviam usado crianças e mulheres como escudo para evitar uma ação violenta do governo.

O teor da declaração de Ciro não terá meu comentário. Queria refletir somente sobre o impacto que essa declaração teve e sobretudo os comentários dela oriundos. A mídia cearense  repercutiu como sempre. Aliás, Ciro tem vivido destes momentos. Cria factoides verbais (se é que podem me entender) para repercussão midiática . Como cada vez mais tem menos impacto, cada vez mais ele carrega na tinta (ou melhor, aumenta a voz).

O que acho interessante pontuar é que as redes sociais hoje começam a fazer um contraponto muito marcante à mídia televisiva e escrita. Tão logo Ciro se pronunciou o presidente da Associação de Cabos e Soldados gravou um vídeo e o lançou na Internet pelo YouTube. Veja o vídeo abaixo. A resposta,  no mesmo tom da acusação, teve repercussão imediata no Twitter e no Facebook.

Lembro-me que logo que comecei meu blog (há cerca de cinco anos), os franceses haviam feito uma grande greve e as redes sociais foram muito usadas na comunicação entre os grevistas, tanto para conclamar à participação como para explicar o andamento do movimento.

Parece-me que os movimentos sociais aprenderam muito mais rapidamente do que os governos a usar os novos recursos de comunicação disponíveis na rede. Aqui no Ceará então ! Um governo que decide direcionar toda busca relacionada a órgãos públicos a uma página inicial de seu portal, certamente não consegue compreender a dinâmica da liberdade caótica das redes sociais.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

SOPA

Hoje é o dia de protesto contra as iniciativas do Congresso americano que atentam violentamente contra a liberdade na rede. Essas iniciativas estão se agrupam na sigla SOPA (Stop On-line Piracy Act). Vejam aqui várias matérias sobre a questão. Abaixo, a página de luto da Wikipedia, uma das que adotaram o luto como forma de protesto.

MMC, UFC, BBB, etc.

Recentemente lutas livre, com as mais diferentes nomenclaturas, e o Big Brother dominaram a mídia. Ao acompanhar notícias sobre um e outro na Internet sempre encontro comentários antagônicos que vão ao completo desprezo até o entusiasmo apaixonado dos fãs.

Não sou fã nem de um nem de outro, mas confesso meu fascínio sobre como essas coisas conseguem tão fácil e amplamente capturar a audiência. Há claramente aqui um apelo por “nossos sentimentos os mais primitivos”, parafraseando Dep. Roberto Jefferson. Sabe-se que antes mesmo de conhecer as formas de expressão, como a fala ou a escrita, as lutas sempre existiram como o intuito de demonstrar os sentimentos humanos através da força. Esse apelo ao instinto violento é algo muito forte.

Como é forte também o apelo ao sexo, em particular, ao voyeurismo presente nos BBBs da vida.  O prazer de observar sem ser visto, que via de regra se refere à observação às espreitas das relações íntimas de outrem vem desde a antiguidade. A cultura oriental é pródiga em pergaminhos onde as intimidades de casais eram observadas por outros.

Genético ou não, é fato que são práticas antigas. O voyeur e o lutador estão nas nossa sociedade em grande voga, pois ao apelo instintivo, alia-se o poder de propagação dos meios de comunicação e o profissionalismo como se estuda os sentimentos da audiência como o intuito de cativa-la. A espetacularização da violência, do sexo e da cultura da celebridade é construída com detalhe minucioso.

Mas isso não significa que há como se ter controle dos efeitos dessa audiência. Por exemplo, como os jovens e as crianças vão reagir? Reproduzirão a violência assistida? Mas a imprevisibilidade não está somente nos espectadores, o próprio “espetáculo” pode ter resultados inesperados como a morte dos lutadores. Um suposto estupro transmitido ao vivo pela maior rede de televisão aberta do País é outro exemplo deste descontrole. A Rede Globo adora pousar de educadora e cívica. As telenovelas contemplam com frequência cada vez maior mensagens de moral e postura cívica. Já comentei como acho isso inadequado aqui. Como manter a coerência com o incentivo a essas novas modas?

Numa época em que estamos adotando diariamente novas formas de proteção dos direitos humanos contra abusos, violência, preconceitos, etc. nos vemos por outro lado impulsionando os espetáculos fomentadores dos tais instintos primitivos. Estamos ou não numa época cheia de contradições? 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Aumento de Salário Implica em Melhoria da Segurança?

O Jornal O Povo me pediu para responder à seguinte pergunta: "As conquistas obtidas na greve pela PM implicam em melhoria na Segurança Pública?". Minha resposta foi NÃO. Preferiria dizer que não necessariamente, mas como não tive a opção de responder diferentemente de sim ou não fi-lo assim. Os argumentos para a resposta estão logo abaixo e na página de confronto de ideias do Jornal que foi às ruas hoje. Minha opinião foi confrontada com a da antropóloga Jânai Aquino, coordenadora científica do Laboratório de Estudos da Violência da UFC. Vocês podem ler a resposta dela aqui.


" Qualquer melhoria na segurança pública passa obrigatoriamente por uma mudança nas condições de trabalho dos policiais. Salário digno e uma carga horária mais adequada são condições que potencializam o surgimento de melhorias.  Mas daí a vê-las ocorrendo, há ainda um bom percurso. 
Primeiro, é sempre bom reforçar que segurança pública não se resume à Polícia Militar (PM). É algo maior que requer trabalho integrado em diversas frentes: sistema prisional, sistema preventivo (incluindo assistência social), sistema repressivo e sistema judiciário. Como a grande maioria das instituições públicas que compõem esses sistemas são extremamente vulneráveis (vide greve da Polícia Civil), o resultado é a nossa insegurança pública atual. Há ainda que se mencionar que esses sistemas têm órgãos em diferentes esferas, o que dificulta as integrações. Por exemplo, prefeitura e estado têm que atuar fortemente integrados no processo preventivo, enquanto o governo federal tem papel crucial no controle das armas. 
 É fato de que a atuação da PM é importantíssima e que a presença da mesma nas ruas afeta a sensação de segurança, mas exclusivamente isso tem efeitos efêmeros e imprevisíveis. Se vemos por uma lado a sensação de segurança criada pelo Ronda do Quarteirão, mesmo que contradito pelos dados reais da criminalidade, por outro lado, vemos uma também injustificada sensação de insegurança, capaz de paralisar uma grande metrópole, quando ocorre uma greve.
A PM pós-greve é a mesma de antes, com suas virtudes e defeitos. Deficiências históricas relativas à baixa qualificação dos policiais, impunidade e falta de acompanhamento psicológico e social dos envolvidos com drogas, só para exemplificar algumas, vão continuar existindo e precisam ser minimizadas para que os avanços conseguidos na greve possam realmente se transformar em melhorias para a segurança pública."

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A Greve da Polícia e as Redes Sociais

Depois de passada a greve vêm as análises sobre tudo. Um dos pontos mais badalados foi o poder das redes sociais para difundir o medo e aumentar a sensação de insegurança. Será mesmo que isso explica tudo?

Minha opinião é de que não. Greves como a do Ceará aconteceram no Maranhão e Rio Grande do Norte recentemente, mas a sensação de segurança não se desfez por completo como aqui. Não me consta que usemos redes sociais em escala tão maior do que estes Estados. Acho que as redes sociais tiveram um papel importante, mas não podemos deixar de lembrar que a TV e o rádio ainda têm papel preponderante na veiculação da informação para o público.

Em particular, no Ceará temos uma forte presença dos programas policiais regionais que são em número bem maior do que em outros estados.  Programas como cidade 190, Comando 22, Barra Pesada, Rota 22 e mesmo os telejornais locais dedicam exclusivamente ou boa parte de suas coberturas à segurança pública. Somados estes programas têm audiência muito maior e mais abrangente do que as redes sociais.

De certo as redes sociais foram usadas como instrumento para denunciar crimes, muitas vezes pelo fato de que as vítimas não tinham outra coisa a fazer. Mas será que se não reverberassem tanto pelas mídias ditas tradicionais, o efeito teria sido o mesmo? Não creio.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

As Greves da Polícia Cearense

Impossível não comparar a greve de 1997 com a da semana passada. O Diário do Nordeste fez uma matéria lembrando o que havia ocorrido naquela época que pode ser vista aqui.
Evidentemente que a comparação deve levar em conta o contexto da época, que é totalmente diferente do atual, mas cabe-nos perguntar se aprendemos algo de lá para cá.

Eu tinha acabado de chegar da França e começava minha trajetória, que seria de quase dez anos, na SSPDC (chamava-se Secretaria de Segurança Pública e Defesa da Cidadania). Lembro-me bem como o Gen. Freire, secretário também recém-chegado, estava apreensivo. E lembro-me mais ainda como o Governador Tasso Jereissati assumiu toda a responsabilidade pelas decisões difíceis tomadas. Creio que uma diferença marcante entre as duas greves foi a postura de Tasso e de Cid.

Tasso não deixou o movimento grevista ganhar corpo. Agiu com rapidez e vigorosamente. Articulou com o Presidente Fernando Henrique Cardoso a vinda do Exército, reuniu o GATE e  responsabilizou-se por uma de suas decisões mais difíceis: partiu para o confronto com os grevistas. Arriscou demais. Teve muita sorte. Embora tenham havido feridos, algo muito pior poderia ter acontecido. De qualquer forma, no final das contas, parou o movimento e saiu fortalecido. Teve assim  mais respaldo para implantar uma nova política de Segurança centrada na integração das polícias, na modernização da gestão e na criação dos conselhos comunitários de defesa social (que fim levou essa política já foi objeto de muitos de meus textos aqui no blog).

Quinze anos depois, Cid viu-se em situação similar. Sinal de que as coisas não parecem ter melhorado muito durante todo esse tempo. Mas Cid não teve a mesma sensibilidade ou digamos, habilidade. Subestimou o movimento que ganhou proporções nunca vistas, ouso dizer, no Brasil. Adotou uma estratégia que até agora não tem uma explicação muito lógica: a estratégia do silêncio. Não pode-se dizer que foi medo como alguns querem imputar, mas não há dúvida que a omissão do Governo foi um combustível importante para que a engrenagem paredista funcionasse.

Serei acusado de pessimista se perguntar se assistiremos a episódios como esses em futuro próximo ou longíquo? 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

5 em 5

Todos os anos a IBM lança um relatório em que faz previsões sobre o que será revolucionado nos próximos cinco anos devido às novas tecnologias emergentes.  Creio que esse negócio de fazer previsões em tecnologia é uma grande peça de marketing. É tarefa tão difícil que não acredito que os pesquisadores da IBM estejam preocupados com a acurácia das mesmas, mas como eles sabem que reverbera, nada como um relatório desses para ganhar mídia espontânea. No relatório deste ano, as seguintes previsões foram feitas:

Energia vinda das pessoas e das coisas que usamos. Em breve, os pesquisadores da IBM acreditam que até o próprio corpo humano servirá como fonte de energia para sensores e chips instalados no corpo humano.

Identidade biológica, características biológicas serão de mais em mais a forma mais natural de identificar um dispositivo digital e de se identificar par esses dispositivos. Senhas serão coisas do passado. Chegaremos em um caixa eletrônica e bastará falar nosso nome para ser atendido.

Leitores digitais da mente. Tecnologias que permitem a interação com computadores através do pensamento serão difundidas. Já escrevi sobre Brain Human Computer Interface aqui mesmo no blog

Fim do Gap Digital. Devido à difusão das tecnologias digitais móveis, inclusão digital não será mais necessária. As pessoas serão incluídas naturalmente.

Personalização da informação será natural. Publicidade, por exemplo, será tão precisa em relação aos interesses dos usuários que o número de spam será cada vez menor e mais fácil de ser detectado.

As previsões variam radicalmente em termos de viabilidade e impacto. As duas primeiras previsões estão mais no campo da ficção científica. Em matrix, o ser humano já servia de bateria para máquinas, enquanto que em Gattica tínhamso todos identificadores únicos. As duas últimas são bem mais viáveis e não envolvem tanta revolução assim. Na verdade, a IBM tem investido forte em Business Intelligence, Smart Cities e outros termos midiáticos referentes ao tratamento de grandes volumes de dados. Era de se esperar que esse tipo de tema fizesse parte de um relatório vindo de lá.

A questão da inclusão digital me parece mais retórica. Contempla um otimismo meio que alienante. Afinal de contas, sem inclusão educacional fica difícil acreditar em inclusão digital. Não sei para que mundo a IBM está olhando.

Agora um ponto crucial que é quase ortogonal à essas precisões é de que elas agridem radicalmente à nossa privacidade e levanta mesmo questões morais sobre o acesso de nossas informações mais íntimas. Essas questões não parecem ser interessantes de serem levantadas pelos pesquisadores da IBM, pelo menos não em uma peça publicitária. Veja mais sobre as previsões no vídeo abaixo (em inglês):


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A Greve da Polícia Cearense

Escrevo esse texto sem saber ainda se há um desfecho da greve da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Na verdade, escuto que há inclusive a possibilidade da Polícia Civil também entrar de greve. Nas redes sociais e nos jornais as opiniões são diversas e apaixonadas. Por um lado invoca-se com razão a ilegalidade de tal movimento. Por outro invoca-se, também com razão, a insensibilidade do governo.

O que não se consegue ver é que a greve é de fato mais um desses sinais categóricos da falência completa do sistema de segurança pública no Estado. Diga-se de passagem que não se trata de privilégio do Ceará. Felizmente não estamos falando aqui de nenhuma tragédia que levou a morte de vários inocentes. As crises no setor eclodem muitas vezes por causa destas situações extremas.

De qualquer forma o que estamos experimentando esses dias é fruto de anos e anos de deterioração de um sistema que já deu o que tinha que dar. E quando digo sistema, faço-o com o intuito de dizer que a Polícia é somente um dos atores desse sistema corroído. Ela é o foco atual, mas não precisa ir muito longe para identificar outros focos, e.g. sistema penal.  

Todos os governadores estão reféns dessas estruturas. Pagam pelo que fizeram, ainda fazem ou pelo que os antecessores fizeram. Em meu tempo de convívio na Secretaria de Segurança do Estado, escutei muito se dizer que a Polícia Civil era impossível de ser gerenciada. Os policiais militares declaravam sem vacilar que a falta de hierarquia era a culpada. Verdade ou não, vemos que o pouco que ainda restava de doutrina militar nas PMs foi se perdendo com o tempo. Perdeu-se ante a inércia do Estado em promover uma real mudança na área de segurança, em definir os rumos a seguir, em definir o perfil do novo policial, ou seja, definir o futuro desejado. Deixou-se esvair o pouco que existia sob o argumento de que não fazia parte do modelo ideal, mas nada se construiu como alternativa. 

As instituições policiais militares ainda tinham o orgulho de dizerem-se disciplinadas, patrióticas e coisa e tal. As novas gerações de policiais não conseguem se identificar com esse discurso. Ficam muito mais incomodados com o enorme fosso que existe entre praças e oficiais. São convidados a se aproximarem da sociedade, mas dentro da corporação não conseguem sentir-se próximos dos que decidem os rumos da organização. Ficam suscetíveis a discurso populistas de sindicatos e políticos com clara intenção de poder. Os atos de vandalismo realizados na greve são sinais desse pouco comprometimento com algum dogma.

Vivemos dessas crises que nos leva a “discutir a relação”. Estamos neste exato momento vivendo mais uma delas e discutiremos um pouco mais a relação até ... outra crise eclodir. A verdade mesmo é que os Estados membros não têm condição de sozinhos mudarem esse rumo. Só nos resta exigir, implorar, rezar, enfim, usar das armas que dispomos para fazer com que o governo federal assuma de forma categórica a liderança por uma mudança radical que o sistema atual exige. Senão estaremos discutindo a relação com uma frequência muito maior do que a atual. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Retrospectiva e Prospectiva: A Meia-Idade

“Nunca houve tanta gente de meia-idade vivendo bem e ativamente no planeta.”

Ao escutar essa frase numa entrevista em que uma especialista em gerontologia descrevia os avanços da Medicina, perguntei-me: é o meu caso? A retrospectiva deste ano não pode deixar de ser sobre os sinais que a meia idade começa a nos dar. As limitações físicas e os problemas de saúde são os primeiros a nos dizer que uma nova época está chegando. Mas é uma época que a Ciência agora nos diz que tem tudo para ser a melhor da vida. Competitiva até mesmo com a tão famosa e propagada juventude.

A Ciência descobre com frequência que tinha descoberto coisas erradas (ou pelo menos imprecisas). A complexidade do corpo humano está ainda longe de ser desvendada. Por exemplo, não é mais verdade que perdemos cerca de 30% da capacidade cerebral quando envelhecemos. Parece ser mais correto dizer que as pessoas da meia idade vivem ativamente, aliam conhecimento teórico com prática advinda da experiência e, o melhor, vivem mais felizes. A capacidade de ser produtivo alia-se à experiência e faz com que as pessoas na meia-idade sejam ainda muito felizes e otimistas.

Alguns acham que em termos de evolução da espécie, esse otimismo é fundamental. Somos peças importantes tanto para cuidar de nossos filhos como dos pais. Uma espécie de elo entre gerações. O otimismo é importante para fazer com que as pessoas que nos cercam sejam também mais felizes. Somos ainda mais conscientes do que nos espera no futuro e assim precisamos menos de preocupações com precauções. Os jovens com sua impertinência encontram-se frequentemente em situações de crise e de perigo. Os jovens estão também inseguros quanto ao futuro. Na meia-idade sabemos mais claramente onde podemos e queremos chegar e assim definimos com maior taxa de acerto nossos objetivos.

2011 me mostrou claramente sinais de minha meia-idade. A saúde, minha, de amigos próximos e de familiares queridos, foi o vetor principal desses sinais. Torço para que sejam somente alertas e que saibamos reagir a eles e que 2012 nos permita ser ainda mais felizes.